Crítica: A Hora do Diabo

The Devil’s Hour, Reino Unido, 2022



Prime Video · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Um dos aspectos mais impressionantes de A Hora do Diabo é como a série consegue equilibrar os diversos gêneros e premissas que fazem parte de sua trama. Em meio a um instigante e viciante mistério, há elementos que nos lembram tanto filmes de terror como O Sexto Sentido e O Que Ficou Para Trás quanto de ficções científicas como Minority Report e Os 12 Macacos. E esses são apenas alguns dos muitos filmes que podem ser citados, que também incluem A Chegada, Durante a Tormenta e Efeito Borboleta.

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E ainda assim a trama da série consegue ser relativamente imprevisível e original, além de se encaixar na categoria de “série quebra-cabeça”, como Dark e Westworld. Mesmo quando as respostas chegam, elas apenas criam mais dúvidas e perguntas. Estamos falando de fantasmas, de vidas passadas ou de viagem no tempo? Durante a maior parte da trama, tudo o que sabemos é que a protagonista possui memórias de passados que nunca aconteceram e de futuros que não se tornam realidade.

Lucy Chambers (Jessica Raine) é uma assistente social que se divide entre o trabalho e os cuidados com seu filho, Isaac (Benjamin Chivers), um garoto que parece ser neurodivergente, apesar de ainda não estar diagnosticado. O título da série vem do fato de que todos os dias Lucy acorda no meio da noite, exatamente às 3:33, a “hora do diabo“. O que ela não esperava é que alguns dos pesadelos que a afligem logo antes de acordar são sinais de algo muito mais preocupante.

Paralelamente, o detetive Ravi Dhillon (Nikesh Patel) investiga um assassinato que parece estar conectado com o desaparecimento de um garoto dez anos antes. É esse lado mais policial que mantém a série com os pés no chão, de forma que a história e os personagens funcionariam muito bem mesmo sem os elementos sobrenaturais ou de ficção científica, nos moldes de Clickbait, por exemplo. A caçada pelo criminoso já é instigante o suficiente, enquanto os elementos inexplicáveis apenas adicionam algumas camadas ao mistério.

Para completar, os cinco primeiros episódios fazem flash forwards que mostram o interrogatório do grande culpado, Gideon (Peter Capaldi). Porém, suas falas só irão fazer sentido no sexto e último episódio, quando a trama principal finalmente alcança o depoimento e ele explica em detalhes sua história e sua complexa relação com a passagem do tempo.

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O desenrolar de A Hora do Diabo lembra duas outras séries de 2022: o terror Arquivo 81 e a ficção científica Outer Range, nas quais a relação dos personagens com a passagem do tempo fica bem… estranha. Porém, a explicação dada por Gideon deixa A Hora do Diabo mais tematicamente próxima da minissérie de mistério e ficção científica Devs, que lida com algumas avançadas ideias de física quântica e realidades paralelas.

Além disso, assim como em Devs, a qualidade das atuações eleva o material e ajuda o espectador a levar a história mais a sério. Enquanto Capaldi empresta toda sua expressividade para Gideon, Raine garante que a série realmente funcione em nível dramático. Ela nos convence de que Lucy realmente é uma mãe tão cansada quanto incapaz de desistir de seu complicado filho, alternando entre momentos de otimismo e bom humor e momentos de total desespero.

Ao que tudo indica, A Hora do Diabo não foi pensada como minissérie, mas sim como uma série com múltiplas temporadas. Além da trama deixar outros pontos de vista para serem explorados (em determinados momentos, Isaac dá a entender que conheceu versões alternativas de Lucy e Ravi), o final dessa primeira leva de episódios parece improvável, já que a solução encontrada significa que um dos personagens deixa de existir. Se a qualidade e o elenco forem mantidas, novas temporadas e novos pontos de vista serão muito bem-vindos.

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