Crítica: Outer Range (Além da Margem)

Outer Range, EUA, 2022



Prime Video · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Rodeios, brigas de bar, assassinatos, ranchos de família e conflitos por terra. Com esses elementos, Outer Range poderia muito bem ser ambientada no mesmo universo que o sucesso Yellowstone. Porém, o criador Brian Watkins adiciona ficção científica e um misterioso “buraco cósmico” na mistura, fazendo-nos lembrar de uma outra série de sucesso: Dark. O resultado é uma experiência tão intensa quanto excêntrica, misturando dramas de família com questões existenciais, sempre embalados por uma belíssima cinematografia, uma ótima trilha sonora e um estranho senso de humor.

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A série não é a primeira produção a misturar faroeste e ficção científica. Por exemplo, o filme Cowboys & Aliens e a série Westworld já se enveredaram por esses caminhos. Mas Outer Range vai além e adiciona muitos outros elementos a esse caldeirão. Além das facetas já citadas, a série inclui um característico clima hitchcockiano (graças a uma investigação de assassinato) e vários questionamentos de cunho religioso e existencial.

Aparentemente, o que dá início à trama é o momento no qual Royal Abbott (Josh Brolin) encontra um misterioso buraco em um dos pastos de sua propriedade. A partir daí, todos os outros aspectos de sua vida passam a ser afetados pela existência daquele estranho fenômeno. Gradativamente, o buraco no tecido espaço-tempo vai se tornando um buraco existencial para Royal e sua família. Aquele vazio físico/temporal se torna um reflexo de outros tipos de “vazios” que permeiam suas vidas.

Paralelamente, a jovem Autumn (Imogen Poots) chega ao local e vai se envolvendo nos mistérios que cercam o rancho dos Abbott. Com o passar dos episódios, ela vai ficando cada vez mais obcecada com a natureza do fenômeno e com os segredos guardados por Royal. Os dois personagens parecem representar os dois lados de uma mesma moeda, tendo reações de cunho religioso ao inexplicável fenômeno: enquanto ele se torna cada vez mais descrente na existência de entidades divinas, ela vai ficando cada vez mais fanática com os possíveis significados daquele “sinal divino”.

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A primeira temporada de Outer Range também é marcada por mudanças no estilo narrativo com o passar dos episódios. Se os capítulos iniciais estão contando uma estranha história, os capítulos finais parecem estar contando um estranho sonho. Os movimentos de câmera e a edição se combinam com a trilha sonora para tentar transmitir o desespero e o drama de personagens que tentam manter a sanidade diante de acontecimentos cada vez mais inexplicáveis. Os estranhos sonhos vão se revelando pesadelos.

A série também conta com várias cenas memoráveis, ainda que por diferentes motivos. Há uma assombrosa e pessimista oração antes de uma refeição; há um empolgante jogo de pôquer; há um intenso e alucinante tiroteio; há duas incômodas cenas de beijo; e há a desconfortável cantoria de Billy Tillerson (Noah Reid), que em qualquer momento e sem aviso prévio pode começar a cantar grandes sucessos românticos do passado. Tudo isso é permeado um tipo de humor que varia entre o humor negro e o comicamente insólito.

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Toda essa estranheza e mistura de gêneros faz com que Outer Range não seja uma série para todos os gostos. Quem estiver interessado apenas no faroeste ou apenas na ficção científica certamente vai se decepcionar. Porém, quem embarcar nessa improvável proposta também é presenteado com atuações de altíssimo calibre de um fantástico elenco. Além das performances centrais de Josh Brolin e Imogen Poots, o espectador também é agraciado com a presença de nomes como Lili Taylor, Will Patton e Deirdre O’Connell. Mesmo os menos conhecidos, como Tamara Podemski, Tom Pelphrey e Lewis Pullman, dão shows à parte e são protagonistas de suas próprias histórias.

Em suma, Outer Range oferece ao espectador a possibilidade de descobrir se precisa ou não de uma série sobre vaqueiros lidando com mistérios de ficção científica enquanto passam por grandes dramas de família. Para quem a resposta for “sim”, os eventos do último episódio da temporada criam novos mistérios e abrem empolgantes possibilidades nesse estranho mundo.

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