Crítica: Clickbait
Clickbait, EUA, 2021
Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
A trama central de Clickbait poderia facilmente ser resumida em um bom filme de duas horas de duração, mas a minissérie se justifica ao adotar uma abordagem que explora as ramificações do evento principal e absorve completamente o espectador. Cada um dos oito episódios é protagonizado por um personagem diferente, mostrando as diferentes perspectivas da história. Não é que os mesmos eventos sejam mostrados sob outros pontos de vista, mas sim que diferentes personagens fazem a trama avançar de acordo com suas próprias experiências. O resultado é um prato cheio para quem gosta de mistérios dramáticos como os da minissérie Mare of Easttown (crítica aqui) ou do filme Garota Exemplar.
A trama também possui vários pontos em comum com o filme Buscando e com o episódio Odiados pela Nação (S03E06) da série Black Mirror, justapondo dramas humanos com a realidade desumanizada do mundo online. Aqui, depois que o exemplar pai de família Nick Brewer (Adrian Grenier) é sequestrado, um vídeo acusando-o de ser um abusador de mulheres é publicado na Internet, junto com a promessa de que Brewer será assassinado quando a publicação atingir cinco milhões de visualizações. Isso coloca sua irmã Pia (Zoe Kazan), sua esposa Sophie (Betty Gabriel) e o detetive Roshan Amiri (Phoenix Raei) em uma frenética corrida contra o tempo para resgatá-lo.
Porém, uma vez que a investigação tem início, tudo o que a família e os amigos de Nick sabiam sobre ele começa a desmoronar. A vida alternativa que ele tem online é completamente diferente do Nick da vida real, afetando seriamente as pessoas mais próximas dele. Enquanto algumas duvidam de que tudo aquilo seja real, outras tentam simplesmente aceitar e seguir em frente. Em cada episódio, é possível não apenas conhecer cada um dos protagonistas mais a fundo, o que enriquece a trama, mas também ter uma ideia das consequências das ações do Nick da Internet sobre suas vidas.
No final, a história de Clickbait é sobre pessoas normais tentando escapar de suas próprias vidas por meio de fantasias que saem completamente de controle. Guiadas por impulsos e pelo tipo de solidão que nem mesmo boas amizades ou um casamento estável são capazes de afastar, elas se entregam a essas fantasias, desligando completamente qualquer tipo de desconfiança ou sem pensar nas consequências de suas ações sobre as vidas de pessoas reais. O que para uma pessoa pode ser a muito aguardada concretização de uma fantasia romântica, para outra pode ser apenas a manifestação de uma fantasia de poder ou de existência alternativa.
Clickbait também é marcada por grandes e exageradas reviravoltas, inclusive no episódio final, que é contado sob o ponto de vista de um dos culpados. Os múltiplos pontos de vista também permitem que a minissérie explore outros temas, como luto, ética jornalística e saúde mental, garantindo que cada episódio se destaque com seu próprio drama. Essa abordagem permite que a história seja contada de uma forma mais completa e humana, com seus personagens sendo muito mais do que peças em um jogo de adivinhação.