Stranger Things: Insuperável na Aventura e na Nostalgia


Em 2016, Stranger Things levou a onda de nostalgia dos anos 2010 a um outro patamar. Com personagens carismáticos e uma overdose de referências à cultura pop dos anos 1980, a série repetiu a dose com mais duas temporadas e influenciou (ou, pelo menos, abriu portas para) produções como Dark, Rua do Medo e Outer Range. Recentemente, filmes como Ghostbusters: Mais Além, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa e Top Gun: Maverick foram muito bem-sucedidos ao combinar a nostalgia com tramas e ação de tirar o fôlego.

Porém, a quarta temporada de Stranger Things mostra que a série ainda é insuperável no nicho que ela consolidou.

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Assim como as outras, a quarta temporada começa devagar, a ponto de testar o comprometimento do espectador. Porém, a partir do segundo episódio, o ritmo só acelera e a trama provê alguns dos melhores momentos da série. Claramente, os Irmãos Duffer fazem um esforço para a história não ficar repetitiva, introduzindo novos personagens e fazendo novas combinações dos personagens existentes. O resultado é surpreendentemente empolgante e dramaticamente gratificante.

A vibe nostálgica da história e da ambientação é complementada por muitas referências a clássicos cult como O Silêncio dos Inocentes, A Hora do Pesadelo e Carrie, A Estranha, apenas para citar alguns dos mais óbvios. A cena na qual Nancy (Natalia Dyer) e Robin (Maya Hawke) entram na ala de pacientes perigosos de um hospital psiquiátrico parece tirada diretamente de O Silêncio dos Inocentes, devido especialmente a uma fiel reconstrução do set daquele filme. O personagem que elas encontram na última cela é interpretado por ninguém menos que Robert Englund, o mais famoso intérprete do icônico vilão de A Hora do Pesadelo: Freddy Kruger.

Outro elemento retirado diretamente dos anos 1980 e muito bem utilizado na quarta temporada de Stranger Things foi o medo do diabo. Na época, uma onda de pânico moral se iniciou nos EUA e se espalhou pelo mundo, deixando pais e autoridades paranoicos com rituais satânicos e com a influência do “capeta” sobre seus filhos. Na série, é por esse motivo que a população de Hawkins parte imediatamente para as explicações satânicas quando mortes misteriosas começam a acontecer.

A falta de respostas racionais e o estranho histórico da cidade levam os moradores a adotarem as teorias da conspiração como as explicações mais “plausíveis” para os acontecimentos. Isso lembra o famoso caso de histeria coletiva que resultou nos julgamentos das bruxas de Salém, evento que inspirou filmes como A Letra Escarlate e As Bruxas de Salém. Coincidentemente, esse último é estrelado por Winona Ryder, que interpreta a “mãezona” Joyce em Stranger Things.

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Além de um primeiro episódio mais lento, a quarta temporada de Stranger Things também pode desanimar o espectador com a longa duração dos episódios. O terceiro episódio é o mais curto, com 1h03m, e é o único com menos de 1h10m de duração. O mais longo é o sétimo, com 1h37m. Felizmente, quase todos eles (o primeiro é a já citada exceção) se passam rapidamente, graças a uma trama que está sempre em movimento ou fazendo grandes revelações. Essa é uma ótima notícia, já que os dois episódios finais dessa temporada terão 1h25m e 2h30m (!!!) de duração.

Quando as durações dos episódios foram liberadas, esse último causou uma certa preocupação. Porém, diante da alta qualidade dos sete episódios lançados até agora, é justificável termos uma certa tranquilidade em relação ao que está por vir. Fora as investigações sobre Vecna, ao longo da temporada também tivemos: a aventura “gelada” de Joyce, Bauman (Brett Gelman) e Hopper (David Harbour); Eleven (Millie Bobby Brown) de volta ao modo de treinamento; e parte da turma fazendo uma longa viagem de volta da Califórnia. E ainda assim, esses sete episódios foram de tirar o fôlego. Com 2h30m de duração, o nono episódio será muito mais um filme baseado na série do que um episódio em si.

Muito mais do que uma dose cavalar de nostalgia, a quarta temporada de Stranger Things também se destaca por sua intensidade emocional e por sua originalidade. Isso parece paradoxal em uma série que basicamente recicla ideias e visuais do passado, mas o mundo criado pelos Irmãos Duffer e a trajetória de cada um de seus personagens leva o espectador por uma jornada de amadurecimento de proporções inéditas no entretenimento. Os personagens centrais e seus intérpretes nos foram introduzidos quando ainda eram crianças, e agora os vemos vivendo dramas e aventuras durante a adolescência.

Além disso, o final do quarto episódio da quarta temporada de Stranger Things inova ao apresentar o melhor uso já feito da inesquecível canção Running Up That Hill, que foi lançada em 1985.

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