Crítica: Era Uma Vez um Gênio

Three Thousand Years of Longing, EUA/Austrália, 2022



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★☆☆


A beleza e a poesia estão presentes em vários aspectos de Era Uma Vez um Gênio, mas uma narrativa prolixa e sem foco tira boa parte do brilho da produção. Isso é até irônico, pois essa é uma história sobre como as histórias nos fascinam e nos cativam, mas que falha justamente em nos fascinar e cativar. O diretor George Miller até tenta inserir intensidade e grandiosidade na trama, que possui belos visuais e efeitos especiais, mas o material é altamente dependente de diálogos, explicações e metáforas para entregar a mensagem principal.

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A mensagem é entregue com sucesso, mas de formas muito mais teóricas e intelectuais do que intensas e viscerais. Uma vez que a acadêmica Alithea (Tilda Swinton) libera o Gênio (Idris Elba) que estava preso em uma garrafa, era de se esperar que a loucura tomaria conta da narrativa. Porém, ao invés disso, o que começa é um longo e expositivo diálogo entre os dois personagens.

Esse diálogo é pontuado por belos e criativos flashbacks, mas eles servem como meras ilustrações para o que está sendo dito, ao invés de realmente contarem a história que precisa ser contada. Quando alguns acontecimentos realmente começam a ser mostrados no ato final, eles também são pontuados por ainda mais diálogos, o que é um grande teste para a paciência do espectador.

A boa notícia é que, para quem estiver no clima, boa parte desses diálogos é bem interessante, especialmente aqueles que tratam sobre a relação entre a humanidade e as histórias que nós criamos para tentar dar sentido ao mundo e à nossa existência. Sem saber como explicar os fenômenos naturais e o nosso comportamento, nós criamos histórias sobre deuses e heróis para prover respostas e conforto em um mundo que não nos oferecia nenhuma das duas coisas.

A grande questão levantada em Era Uma Vez um Gênio é: uma vez que agora temos diversos tipos de ciências para nos dar explicações sobre a nossa existência, qual é o papel das histórias em nossa vida? Não precisamos mais de deuses antigos, santos, gênios, etc.? Reflexões como essa também podem ser encontradas em séries como Raised by Wolves e Sandman, que também exploram a relação entre a humanidade e a crença em histórias sobre seres sobrenaturais.

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A resposta dada por Era Uma Vez um Gênio é que, assim como as histórias sobre gênios e seres mágicos ocupavam o vazio onde hoje está a ciência, essas histórias ainda servem para preencher certos vazios nas vidas das pessoas. Para Alithea, o consumo de histórias é uma forma de experimentar sensações e sentimentos que não estão presentes em sua vida. Em outras palavras, as histórias a ajudam a evitar que a sua solitude se transforme em uma completa solidão.

Na superfície, Era Uma Vez um Gênio conta a história de como Alithea se apaixonou por um gênio, mas esse é apenas o conto de fadas. A verdadeira história que o filme está contando é sobre como Alithea se apaixonou por uma história. Ela permite que essa história lhe faça companhia e preencha os vazios em sua vida. É por meio dessa história que ela vivencia o amor e a paixão, ficando extasiada com aquela presença em sua vida, que só é perturbada pelo “barulho” da vida moderna.

Essa é uma mensagem bem interessante, que poderia até levantar questionamentos semelhantes (ou, ao menos, paralelos) aos levantados na ficção-científica O Homem Ideal. Porém, ela é transmitida de uma forma apenas interessante, quando poderia ser bem mais intensa e divertida. O fato de que a química entre Idris Elba e Tilda Swinton não funcione tão bem quanto o esperado também não ajuda a narrativa, deixando a impressão que o romance tem início “do nada”, por motivos muito mais racionais do que emocionais.

É até injusto que Era Uma Vez um Gênio tenha sido lançado no mesmo ano que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, um filme que vai até os limites da ação e da comédia tendo como base uma história que poderia ser um intimista drama familiar. O filme de Miller até tenta ir nessa direção, mas nunca vai longe o suficiente para realmente capturar o espectador. Por mais que alguns dos visuais sejam impressionantes, essa produção está muito mais próxima do soturno romance Amantes Eternos (que também é estrelado por Swinton) do que do espetáculo cinematográfico que é Mad Max: Estrada da Fúria, obra-prima do diretor.

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