1899: Muitas referências e algumas explicações


* Contém SPOILERS da série 1899

2022 tem sido um bom ano para as séries de mistério com ficção científica e terror. Ainda em janeiro, a Netflix lançou Arquivo 81 e Feria, que estão mais focadas no terror sobrenatural. Posteriormente, o Prime Video lançaria as primeiras temporadas de Outer Range e A Hora do Diabo, dois ótimo exemplares do gênero. Também se encaixam nessa categoria as séries Westworld e Raised by Wolves, cujas temporadas finais foram lançadas esse ano pela HBO Max.

1899 possui semelhanças com todas essas produções. Assim como Dark, seu terror é mais psicológico e existencial. Porém, seus elementos de ficção científica vão em outra direção, lembrando muito mais filmes como Matrix, 13º Andar e Cidade das Sombras. Quem conhece os pontos em comum entre essas produções já tem uma boa ideia da natureza da realidade de 1899.

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E essas ainda não são todas as referências. A nova série também tem várias semelhanças com os filmes O Enigma do Horizonte (uma nave espacial vai ao resgate de uma outra, que havia desaparecido anos antes) e Triângulo do Medo (os passageiros de um iate precisam se abrigar em uma embarcação abandonada, mas encontram um loop de terror). E quando a situação começa a ficar mais insólita e psicodélica, é possível lembrar até mesmo da série Legion e seu labirinto no deserto.

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Uma fuga em 1899

Desde o primeiro episódio, a protagonista Maura Franklin (Emily Beecham), que está em busca de seu irmão desaparecido, se apresenta como uma estudiosa da mente humana, apesar de ter flashbacks de uma internação forçada em um hospital psiquiátrico. Esse seu conhecimento não parece ser muito útil a bordo do navio Kerberos, cujo capitão, Eyk Larsen (Andreas Pietschmann), resolve responder a um aparente pedido de ajuda e muda sua rota para tentar resgatar o Prometheus, navio que estava desaparecido há quatro meses.

A tentativa de resgate leva a chegada do quieto garoto Elliot (Fflyn Edwards) e do misterioso Daniel (Aneurin Barnard). Ambos personagens tornam a trama muito mais enigmática.

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Enquanto isso, 1899 vai apresentando os demais personagens, que só ficam bem estabelecidos por volta do terceiro episódio. O grupo apresentado é formado em sua maioria por europeus de diferentes nacionalidades, todos rumo aos EUA em busca de novas vidas e novas oportunidades. Eles falam espanhol, português, inglês, alemão, dinamarquês, polonês e francês, o que dificulta os diálogos mas torna a produção ainda mais interessante para o espectador.

Ainda há inclusão do cantonês e do japonês, graças à presença de duas personagens chinesas que estão se passando por japonesas.

Uma vez que mortes misteriosas e coisas ainda mais estranhas começam a acontecer, a situação a bordo do Kerberos vai saindo de controle. Cheios de medos e superstições, os passageiros começam a se voltar uns contra os outros, formando facções armadas e fazendo acusações irracionais sobre a autoria das mortes. Confinados em uma situação desesperadora, o pior lado das pessoas começa a vir à tona, levando uma das personagens a dizer: “Ouvir vozes não é um sinal de Deus; é um sinal de loucura.”

Várias fugas em 2099

À medida que vai ficando claro que a realidade de 1899 é controlada por forças externas, uma das suspeitas que o espectador mais “experiente” irá levantar é de que a coisa toda se trata de uma simulação computacional. Porém, mesmo depois que isso é confirmado e que Maura finalmente sai da simulação, muitos questionamentos e reflexões ficam no ar. A realidade não é que ela está a bordo de um navio a vapor a caminho dos EUA em 1899, mas sim a bordo de uma nave espacial que contém alguns dos poucos sobreviventes da humanidade em 2099.

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Em Raised by Wolves, as naves que levam o que restou da humanidade para um novo planeta também contam com uma simulação computacional. O objetivo é manter as relações e a saúde mental das pessoas na longa viagem interplanetária, durante a qual elas devem ficar em estado criogênico. Porém, a saúde mental não parece ser o objetivo em 1899. Todos os personagens apresentados possuem experiências traumáticas em suas vidas simuladas, e aqueles que sabem que estão em uma simulação tentam desesperadamente sair dela.

O mais provável é que o misterioso irmão de Maura, Ciaran, transformou a viagem de sobrevivência em um pesadelo depois de assumir o controle da simulação. No último episódio, fica claro que os mundos que ela, Daniel e Eyk conseguem acessar via passagens secretas são as simulações específicas de cada personagem. Ao rearranjar a simulação e colocar algumas pessoas nas simulações de outras, Daniel consegue hackear uma saída para ela.

Agora que acordou, a batalha de Maura não é para encontrar o irmão, mas sim para evitar que ele coloque em jogo o futuro de toda a humanidade.

Tudo isso faz com que 1899 seja uma série sobre fugas. Na simulação, a maioria dos personagens tenta fugir de suas vidas e de seus traumas no Velho Mundo, enquanto outros tentam fugir da simulação em si. Em 2099, a humanidade tenta fugir da extinção, e agora precisa escapar do controle de uma pessoa que, por algum motivo, quer fazê-la sofrer.

A narrativa e a cinematografia de 1899 seguem o sombrio padrão estabelecido em Dark, com a diferença de que cada um dos oito episódios termina com algum inusitado clássico do rock. Curiosamente, a trama da série lembra a letra de uma outra canção inusitada: 1999, da banda brasileira Capital Inicial.

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