Crítica: Mayor of Kingstown – 1ª Temporada

Mayor of Kingstown, EUA, 2021



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★★★★☆


Inicialmente, é possível perceber que a produção de Mayor of Kingstown não possui o mesmo nível de refinamento de séries como Yellowstone e 1883, que também são do roteirista Taylor Sheridan. Porém, a série compensa seus sutis defeitos com o mesmo nível de tensão que Sheridan colocou em filmes como Sicário: Terra de Ninguém e Terra Selvagem, levando o espectador a parar de respirar em alguns momentos. Além disso, a trama aborda a questão do sistema prisional dos EUA levando em conta seu contexto histórico-social e o lado mais impiedoso daquele mundo, o que a leva a momentos absurdamente violentos e sombrios.

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Há várias formas de se descrever a trama da série. Na superfície, o espectador acompanha o protagonista Mike McLusky (Jeremy Renner), um “consultor” que serve como negociador entre detentos, guardas de prisão, policiais e familiares de detentos. Quando um desses lados precisa pedir algo ao outro, ele e seu irmão Mitch (Kyle Chandler) são os homens para o serviço. Essa primeira temporada também pode ser definida pelas péssimas decisões tomadas pelos guardas e pelos policiais da cidade de Kingstown, que variam entre o incrivelmente corrupto e o completamente estúpido.

Mas há também uma trama paralela envolvendo um chefão do crime organizado, Milo (Aidan Gillen), que está preso há mais de dez anos e ainda assim é o personagem mais ameaçador da série. Depois que um favor que ele pede a Mitch tem consequências imprevisíveis, Milo envia a garota de programa Iris (Emma Laird) para conquistar a confiança de Mike. Porém, isso também não dá muito certo, resultando em situações “indesejáveis” tanto para Mike quanto para Iris.

O arco dramático de Iris é um dos mais poderosos da série, mostrando sua fragilidade física e psicológica em um mundo dominado por homens. Quando entra em cena, ela ainda se sente poderosa e intocável, graças tanto a sua beleza sedutora quanto à proteção de Milo. Porém, quando ela não cumpre a missão que foi enviada para cumprir, seu verdadeiro status como uma mera “ferramenta sexual” utilizada pela organização criminosa vem à tona. Ainda que a série não mostre cenas de estupro, a violência sofrida por ela ainda é bem explícita e difícil de assistir.

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É possível questionar a forma como Mayor of Kingstown representa Iris, mas também é possível perceber que há uma mensagem nisso. Ao representar sua objetificação por meio de várias cenas de nudez, a série corre o risco de também estar objetificando o corpo da atriz, pois, sob um ponto de vista mais moralista, há nudez “desnecessária” em alguns momentos. Porém, esses também são os momentos que revelam o contraste entre sua completa objetificação sob o ponto de vista masculino e a realidade humana de sua situação. Seus hematomas e suas cicatrizes psicológicas nos lembram de que há um ser humano real sob a superfície daquele “objeto de desejo” traumatizado pelo mundo e utilizado pela máfia.

Além da questão da violência contra a mulher, a série também levanta várias reflexões sobre onde nós estamos como civilização. Seja em um sistema prisional desumano, seja no descontrole das “penas de morte” extra-oficiais que os policiais dão a criminosos, seja nas macabras penas de morte oficiais que o Estado executa, nenhum dos elementos apresentados em Mayor of Kingstown aponta para um final feliz. A trama já começa em uma situação ruim, e ela vai gradualmente piorando graças às decisões tomadas pelos agentes da lei, que permitem que os criminosos estabeleçam os padrões de comportamento ao recorrerem às mesmas técnicas que eles.

Com uma temática sombria e pessimista, os momentos mais chocantes de Mayor of Kingstown funcionam muito menos como entretenimento e muito mais como a exposição de um ciclo de violência que parece não ter fim. Ainda assim, o espectador pode encontrar entretenimento nas imprevisíveis reviravoltas que ocorrem ao longo dos episódios e nos momentos em Mike perde a paciência com as pessoas colocando ainda mais pressão sobre ele. Isso pode até render algumas risadas, mas não espere terminar os episódios com um sorriso no rosto, especialmente aqueles que envolvem violência contra mulheres e chacinas.

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