Crítica: Invasão Secreta

Secret Invasion, EUA, 2023



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Para o bem ou para o mal, os fãs do MCU que pararam para assistir a Invasão Secreta foram surpreendidos com uma genuína história de espionagem. Ao invés da típica aventura de super-heróis, a trama apresenta algo que se aproxima muito mais de um romance de John Le Carré, com uma abordagem soturna, melancólica e pessimista. A ação e a adrenalina cedem lugar para muito planejamento e para duelos verbais com alto peso dramático. Isso, obviamente, não era o que os fãs esperavam, mas é um interessante exercício narrativo para a franquia.

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Esse exercício só funciona graças a roteiros que realmente se esforçam para serem mais sérios e mais ressonantes com o mundo real. Sem isso, nem o fantástico elenco conseguiria fazer o projeto funcionar. Apesar de ainda não estar no nível de produções como A Garota do Tambor e O Gerente Noturno, a escrita dá a nomes como Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Olivia Colman, Don Cheadle, Emilia Clarke e o surpreendente Kingsley Ben-Adir as oportunidades de elevarem o material a níveis inéditos no MCU.

Seria melhor ainda se a trama fosse um filme, o que a deixaria mais enxuta e menos repetitiva. O fato de que cada um dos episódios finais tem menos de quarenta minutos de duração é um indicativo de que os realizadores tiveram que se esforçar para serializar uma história que caberia perfeitamente em um filme.

Para quem já conhece as histórias de espionagem, a série faz um interessante uso dos clichês do gênero. Nick Fury (Jackson) é apresentado como o típico mestre-espião aposentado (ou semi-aposentado) que volta à ativa para lidar com uma ameaça relacionada ao seu passado. Mais que isso, ele precisa lidar com as consequências dos erros, dos segredos e das promessas não cumpridas deixadas para trás. E Fury faz isso enquanto lida com a desconfiança e com a descrença de aliados e adversários, que o veem como uma mera sombra do Nick Fury do passado.

Tanto ele quanto Talos (Mendelsohn) são apresentados como figuras trágicas e melancólicas. São suas falhas que levam os refugiados da raça alienígena skrull a recorrerem ao radical Gravik (Ben-Adir) como fonte de esperança e liderança. O fanatismo e o ressentimento de Gravik é resultante não apenas das décadas que seu povo passou como refugiado, mas também dos assassinatos e das outras missões que ele executou sob o comando de Fury, que havia prometido um novo lar para os skrulls.

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Os elementos de espionagem são auxiliados pela habilidade dos skrulls de mudarem de aparência e assumirem as identidades de quem quiserem, permitindo que eles se infiltrem nos altos escalões do poder e realizem ataques de falsa bandeira com extrema facilidade. Isso alimenta teorias da conspiração e contribui para o clima de paranoia e imprevisibilidade que permeia toda a trama, já que Fury ainda não tem ideia do quão longe a invasão skrull já foi.

Outro elemento que faz com que Invasão Secreta nos lembre as histórias de espionagem mais adultas é o envolvimento pessoal dos personagens nas tramas geopolíticas. A história não trata apenas da caçada por um terrorista e sua rede de espiões, mas também das causas e consequências humanas dessa caçada. Indo além, os relacionamentos humanos também criam dilemas morais que complicam decisões que deveriam ser tomadas apenas com base no que é certo ou errado.

A trama ainda aborda parcialmente as implicações de se ter uma raça alienígena de pele verde vivendo entre seres humanos. Em uma era na qual a humanidade ainda parece estar longe de superar o racismo e a xenofobia, as promessas feitas por Fury realmente parecem ser tão ingênuas quanto alguns dos personagens apontam. Parte do arco dramático de Fury em Invasão Secreta serve para levá-lo a aceitar a inviabilidade de seu plano original e a lidar com a frustração causada por um problema para o qual não há solução fácil.

Talvez ele poderia chamar os Vingadores para derrotar o radical Gravik, mas não há muito o que os Vingadores possam fazer para alterar a natureza humana e viabilizar uma pacífica integração dos skrulls. A série provavelmente é a produção mais violenta do MCU, com mortes de civis, sessões de tortura e execuções a sangue frio sendo mostradas sem grandes rodeios. Paradoxalmente, o problema no centro da trama não pode ser resolvido por meio do uso de violência.

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Diante de tantos temas sérios, Invasão Secreta ainda consegue oferecer alguma diversão e fazer um ótimo uso de tecnologias e personagens introduzidos no passado da franquia. A tecnologia Extremis volta a ganhar algum destaque depois de ser introduzida em Homem de Ferro 3, enquanto o mundo de espionagem da Viúva Negra faz aparições tanto por meio de tecnologias quanto por meio de uma participação especial do personagem Rick Mason (O-T Fagbenle).

Porém, um dos grande destaques no quesito entretenimento é a introdução da personagem Sonya Falsworth (Olivia Colman), uma brutal mestre-espiã britânica que não perde o bom-humor mesmo quando está torturando ou executando terroristas. Veja que mesmo os momentos mais “divertidos” da série são marcados pelo humor negro e fazem referência a realidades bem sombrias do mundo real.

Invasão Secreta tem uma grande batalha de super-heróis no final, mas ela está longe de ser o prato principal da produção e certamente não resolve todos os problemas apresentados. Lembrando o estilo pessimista de Le Carré, a trama termina com um vitória que tem um gosto bem amargo, pois no caminho até ela as perdas foram significativas e, algumas delas, irreparáveis. Além disso, o prognóstico deixado para os skrulls e para a raça humana não foi dos melhores, deixando claro que Nick Fury e outros personagens ainda terão muito trabalho pela frente.

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