Lista de Filmes: das coisas da vida

Vício Inerente (2014)


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Na Califórnia dos anos 70, um detetive hippie tenta encontrar sua ex-namorada depois que ela lhe revela uma intricada estória de sequestro e traição envolvendo seu novo e bilionário namorado, enquanto navega por outros problemas e lida com os efeitos de toda e qualquer substância lícita ou ilícita que ele consegue encontrar pelo caminho. Uma vez que segue a linha de raciocínio do protagonista, a estória é difícil de entender tanto pra ele quanto para o espectador. Longe de ser uma desvantagem, isso nos deixa livres para apenas segui-lo por essa enevoada investigação, na qual acontecimentos aleatórios parecem não apenas surgir a todo instante mas também estarem todos conectados. A narrativa está menos preocupada em contar essa estória de detetive e mais em levar o espectador por uma intensa e divertida viagem pelo lugar e pela época.

Para atingir esse efeito, o diretor Paul Thomas Anderson abandona qualquer obrigação de explicar a estória ou de mostrar os fatos em alguma ordem coerente. Ao final, é possível entender toda a conspiração envolvida, mas isso fica a cargo do espectador e, mais importante, não é necessário para admirar a qualidade dessa obra. O filme mantém a mesma intensidade de outros trabalhos do diretor, como o épico Sangue Negro e a comédia romântica Embriagado de Amor (filmes que recomendo fortemente).

O Ano Mais Violento (2014)

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Um empresário honesto tenta expandir seus negócios. Essa é a simples premissa de O Ano Mais Violento, e ela é mais do que suficiente para nos jogar em uma trama de crimes, mentiras, traições e duras negociações. A negociação é a arma escolhida pelo protagonista para navegar pelos problemas que o Estado, a concorrência e a criminalidade da Nova Iorque de 1981 colocam em seu caminho. Apesar do título, o filme não é focado em uma trama policial ou em atos de violência, mas sim nos diálogos, que levam os personagens de uma situação a outra de forma elegante e, por vezes, inspiradora. Com uma bela cinematografia e estilo arrojado, a narrativa nos mantém interessados em descobrir até que ponto esse homem de negócios vai conseguir manter sua aparentemente inabalável firmeza moral.

Essa é uma grande diferença em relação a outros filmes que mostram o mundo dos negócios, pois estes estão sempre tentando mostrar o lado podre e corrupto das elites financeiras, o que não deixa de ser muito interessante. O meu favorito nessa categoria é A Negociação, no qual o empresário interpretado por Richard Gere tenta encobrir uma morte provocada por ele dias antes de fechar uma multimilionária aquisição de sua (secretamente) quebrada empresa. Outros exemplares que recomendo são O Lobo de Wall Street, Margin Call – O Dia Antes do Fim, A Grande Aposta e Conduta de Risco.

Acima das Nuvens (2014)

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Acima das Nuvens é um profundo estudo de personagem, magnificamente realizado em camadas e com bastante metalinguagem. Há um estória dentro da estória, e as duas às vezes se confundem e exercem clara influência uma na outra. Ligar esses pontos e deduzir o que realmente aconteceu ou qual realmente é/era a relação entre os personagens é o grande atrativo desse filme, que é um grande quebra-cabeça sobre a personalidade da protagonista Maria Enders (Juliette Binoche).

Enders é uma renomada atriz, lançada à fama ao interpretar no teatro e no cinema a personagem Sigrid, da peça “Maloja Snake”. Sigrid é uma jovem atraente e independente que seduz Helena, uma mulher mais velha e vulnerável. Usada e abandonada por Sigrid, Helena é levada ao suicídio. Ao longo do filme, percebe-se que a relação entre a personagem Sigrid e a intérprete Enders é mais forte do que parece, sem, ao menos inicialmente, deixar claro se é a personagem que exerce influência sobre Enders ou se foi Enders que exerceu influência na forma como a personagem foi escrita. Os relacionamentos de Enders com um ex-colega, com sua atual assistente e com escritor de “Maloja Snake” mostram que ela, inadvertidamente ou não, tem a tendência de atrair e dominar as pessoas mais próximas, de forma semelhante a que Sigrid faz com Helena. Em seu ato final, o filme mostra a completa transformação sofrida por Enders, de Sigrid para Helena.

Matar ou Morrer (1952)

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O recém-casado xerife de uma pequena cidade no oeste americano está prestes a deixar o cargo e se mudar com a esposa para uma outra região, mas a soltura de um criminoso que ele pôs atrás das grades o faz mudar os planos. Sabendo que o criminoso, esperado pelos seus comparsas, vai chegar no trem do meio-dia em busca de vingança, ele resolve ficar e enfrentar o temível bando. O que ele não esperava era que não encontraria ninguém para ajudá-lo nessa tarefa. Juízes e outras autoridades fogem para evitar o encontro, enquanto a população da cidade prefere viver sob a ameaça dos bandidos do que arriscar perder a vida enfrentando-os.

Durante a maior parte do filme, o xerife vai batendo de porta em porta tentando montar um grupo grande o suficiente para enfrentar os bandidos, mas sem sucesso. Cada um dos homens capazes simplesmente nega ou inventa alguma desculpa para não participar da empreitada. A narrativa se torna um grande suspense psicológico, no qual a cada minuto que passa o homem da lei está cada vez mais perto da morte inevitável. Ao colocar-se na pele do protagonista, o espectador sente sua angustia e ansiedade ao se encontrar sozinho e diante da morte certa dentro de algumas poucas horas ou minutos. As cenas do trem a caminho da cidade e dos ponteiros dos relógios avançando implacavelmente vão montando uma tensão que se torna quase insuportável. O único tiroteio ocorre no final, quando o bandido chega e o xerife o enfrenta ao lado de improváveis ajudantes.

O que me impressionou nesse filme foi o suspense quase hitchcockiano, do qual sou fã (escrevi um pouco sobre aqui e aqui). Outros suspenses psicológicos que vi recentemente e recomendo são o ótimo O Babadook e o interessante Triângulo do Medo.

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