Crítica: Mulher-Hulk – 1ª Temporada

She-Hulk: Attorney At Law, EUA, 2022



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★★★★☆


Quem esperava que Mulher-Hulk: Defensora de Heróis iria tentar prover mais um espetáculo de ação do MCU se decepcionou. A série foi até o fim na proposta de ser uma leve comédia de tribunal (com vários toques de comédia romântica), substituindo a batalha final com a mais ousada quebra da quarta parede já feita no universo cinematográfico da Marvel. O resultado definitivamente não é para todos os gostos, mas pelo menos mostra que o produtor Kevin Feige está disposto a arriscar um pouco no amplo mundo criado a partir de 2008.

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Mulher-Hulk já sai na frente ao ser realmente serializada, ao invés de ser apenas um grande filme dividido em partes. Cada episódio é relativamente autocontido e mostra a advogada Jennifer Walters/Mulher-Hulk (Tatiana Maslany) tendo que lidar com diferentes problemas e com as idas e vindas de sua vida amorosa. Com roteiros bem irregulares, tanto os melhores quanto os piores episódios dessa primeira temporada são salvos por um elenco que consegue elevar o material e garantir a diversão do espectador.

O grande destaque do elenco é Maslany, o que não é nenhuma surpresa para quem já viu seu trabalho em Orphan Black. A atriz empresta toda a sua simpatia e bom-humor para Walters, confirmando que ela é uma das melhores escolhas já feitas pelos produtores do MCU. As verdadeiras surpresas estão no elenco de apoio, com Ginger Gonzaga e Josh Segarra interpretando personagens que poderiam protagonizar suas próprias séries de humor.

Além dos divertidos retornos de personagens como Hulk/Bruce Banner (Mark Ruffalo), Abominação/Emil Blonsky (Tim Roth), Wong (Benedict Wong) e Demolidor/Matt Murdock (Charlie Cox, estreando no MCU), a série também introduz figuras inusitadas como Madisynn (Patty Guggenheim) e Luke Jacobson (Griffin Matthews), que ampliam ainda mais a comédia da trama.

O que torna Mulher-Hulk tão diferente de outras produções da Marvel Studios é seu quase total descompromisso com a fórmula do MCU. Mesmo WandaVision, que foi uma inovadora estreia do estúdio no mundo das séries, terminou em uma mega batalha com androides e feiticeiras voando de um lado para outro. Aqui, o que era para ser uma grande (e previsível) batalha final se torna uma série de diálogos que questionam diretamente a fórmula e as limitações do MCU.

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Por um lado, uma grande cena ação na qual os heróis derrotam os vilões de forma altamente satisfatória é exatamente o que muitos fãs de filmes e séries de super-heróis esperam. Os espectadores projetam si próprios nesses personagens e querem que eles superem suas limitações internas ou dificuldades externas no rumo para uma grande vitória. Portanto, é compreensível que muitos deles fiquem decepcionados com o anti-climático final de Mulher-Hulk, apesar de que em nenhum momento a série deu sinais de estar indo na direção de uma grande batalha.

Por outro lado, é um desperdício que um universo cinematográfico tão amplo quanto o MCU se limite a contar um único tipo de história. Mesmo filmes e séries que se aventuraram em gêneros diferentes acabavam voltando para as grandes cenas de ação. Apesar desse universo ter sido criado com esse objetivo específico, os eventos de nível mundial e universal mostrados nos filmes anteriores dão margem para outros tipos de histórias incríveis serem contadas.

Enquanto o gênero base do MCU é a comédia de ação, histórias de drama, romance, suspense, terror e ficção científica poderiam ser contadas longe das tramas dos super-heróis e perto das realidades das pessoas normais traumatizadas pelos eventos passados. Os filmes do Homem-Aranha, além de Vingadores: Ultimato e Eternos, foram os que mais se aproximaram dessas realidades, mas logo passaram a focar apenas na ação.

Mulher-Hulk ainda não é tão diferente assim, mas pelo menos sua história de superação não é marcada pela violência catártica. Ao invés disso, a personagem sai da narrativa principal e passa por uma série de argumentações e negociações com os escritores da série e com uma inteligência artificial que representa Kevin Feige.

Isso era relativamente comum para a personagem nos quadrinhos e lembra o final de Deadpool Massacra o Universo Marvel, minissérie na qual um enlouquecido Deadpool vai atrás dos escritores da história depois de aniquilar TODOS os heróis da Marvel. A Mulher-Hulk não vai a esse extremo, mas consegue que sua história seja alterada para a lógica de comédia de tribunal que ela está tentando manter desde o episódio inicial.

No último episódio, a produção também consegue fazer uma ótima homenagem à série clássica do Hulk, parodiando sua abertura de forma fantástica. Veja abaixo a incrível abertura original.

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