Crítica: Matrix Resurrections

The Matrix Resurrections, EUA, 2021



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★☆☆


Nada poderia ter me preparado para o nível de metalinguagem ao qual a diretora Lana Wachowski recorreu para tentar justificar a existência de Matrix Resurrections. No filme, enquanto fala sobre um novo jogo para uma famosa franquia de vídeo games, um dos personagens diz que a Warner Bros. exigiu que a continuação fosse feita, e que ela seria feita com ou sem a participação da equipe original. Talvez foi exatamente isso o que os executivos da Warner Bros. do mundo real disseram para Wachowski, o que explicaria esse desnecessário resultado final.

matrix resurrections

Além do ousado uso de metalinguagem (por exemplo, o marido de Trinity é interpretado por Chad Stahelski, que foi dublê de Keanu Reeves nos filmes originais e é diretor da franquia John Wick), a produção também tenta atualizar sua noção de dominação das massas. Enquanto a Matrix original simplesmente escondia a realidade das pessoas, a nova Matrix parte do pressuposto de que as pessoas escolhem se isolar da realidade. Isso reflete os atuais problemas das fake news e das bolhas de informação, com pessoas de todos os pontos do espectro político preferindo se isolar de qualquer dado ou ponto de vista que desafie suas crenças e opiniões.

Infelizmente, essas novidades não são suficientes para justificar a produção. Matrix Resurrections comete erros semelhantes aos de Star Wars: O Despertar da Força: ao invés de tentar contar uma história completamente nova, o filme simplesmente recicla partes da trama da trilogia original. Consequentemente, isso requer muita explicação e diálogos expositivos. Se em O Despertar da Força é preciso explicar que o Império derrotado na trilogia original não foi completamente derrotado, em Resurrections é preciso deixar claro que a Matrix deu um jeito de ressuscitar Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) para… atingir algum objetivo, não importa.

Pelo menos há as fantásticas cenas de ação e os divertidos personagens interpretados por Neil Patrick Harris e Jonathan Groff, que proveem alguns dos momentos mais interessantes da trama. A metalinguagem, a ação e esses momentos mais “lúdicos” poderiam elevar a produção, mas a coisa toda fica bem cansativa a partir do início do longo ato final. Em determinado ponto, a ação praticamente vira um filme de zumbis, o que deixa o espectador tentando imaginar quais outras loucuras ainda faltam acontecer.

matrix resurrections 2

O conceito das consciências artificiais livres (ou seja, inteligências artificiais que também se rebelam contra a Matrix) poderia ter sido melhor explorado. Se, por exemplo, a nova vida de Neo e Trinity fosse completamente virtual, a franquia poderia realmente ir em novas direções. Ideias sobre formas de vida artificiais já foram amplamente exploradas em filmes como Blade Runner 2049 e Ex-Machina: Instinto Artificial, e em séries como Westworld e Black Mirror. Ainda assim, seria interessante explorá-las no contexto do conflito entre máquinas e humanos do universo de Matrix.

Ainda que introduza algumas interessantes novidades, Matrix Resurrections é basicamente um remix da trilogia original, o que é reforçado pelo uso extensivo de cenas dos filmes anteriores. Apesar disso, a produção pode servir como um imperfeito veículo de nostalgia para quem estiver com muitas saudades desses personagens e tiver duas horas e meia sobrando durante os feriados de fim de ano. Só é bom lembrar que esse é muito mais um filmaço de ação do que uma trama de ficção científica.

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