Crítica: O Homem Ideal

Ich bin dein Mensch, Alemanha, 2021



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Oficialmente, O Homem Ideal é uma comédia romântica com toques de ficção científica, mas há formas mais precisas de se descrever esse filme. Ele também pode ser considerado um completo drama, com algumas pontuais situações engraçadas. A trama também pode ser considerada um romance sobre felicidade e solidão. Independente da categorização, esse filme é acima de tudo uma meditação emocional e filosófica sobre a condição humana e sobre o que significa estar ao lado de alguém. Ele não oferece respostas, mas levanta inúmeros questionamentos.

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A acadêmica Alma Felser (Maren Eggert) é uma das poucas especialistas indicadas para testar uma nova tecnologia: androides ultrarrealistas que poderão servir como parceiros românticos para as pessoas. A ideia é que ela avalie o comportamento e o algoritmo de Tom (Dan Stevens), um robô construído para ser completamente compatível com ela e para satisfazer todas as suas necessidades. Apesar de ser aversa à ideia, a convivência com Tom e as experiências que ela tem ao seu lado a deixam confusa e a fazem levantar as principais questões tratadas pela história.

Inicialmente, o humor de O Homem Ideal vem do fato de que há um androide tentando se conectar emocionalmente com uma mulher emocionalmente indisponível, o que provavelmente não funcionaria nem se ele fosse uma pessoa de verdade. Também é interessante ver como Tom começa a aprender que as emoções humanas não ocorrem de forma precisa e isolada, mas que funcionam em espectros contínuos, desprovidos de fronteiras bem delimitadas. Porém, a grande limitação que o androide possui é o fato de que ele foi projetado para se encaixar perfeitamente nos sonhos de uma pessoa específica.

Do lado de Alma, o grande problema é que Tom não é um companheiro que a ama e a admira verdadeiramente, por mais que ele se comporte dessa forma. Ele é muito mais uma extensão da personalidade da própria Alma, fazendo-a se sentir como se estivesse conversando sozinha quando conversa com ele. Por outro lado, nos momentos em que ela se entrega à ilusão, ele realmente a faz se sentir amada e acolhida, apesar dessa sensação não servir para preencher o vazio que há em seu peito. É como se fosse uma sensação agradável provocada por uma droga injetada em seu corpo, e não uma felicidade genuína causada por uma situação real.

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Porém, a trama também toca na realidade de pessoas que jamais se sentiram amadas e desejadas. Por não se encaixarem em padrões de beleza ou de comportamento, algumas pessoas podem acumular traumas e passar a vida inteira sem estabelecer conexões emocionais verdadeiramente recíprocas. Para elas, a nova tecnologia apresentada no filme serviria como um grande alívio em uma vida solitária. Afinal, se nossas sensações não são nada mais mais do que sinais enviados por meio de neurotransmissores, qual seria a diferença entre as sensações causadas por uma pessoa real e as sensações causadas por um androide realista?

É justamente por isso que esse alívio também poderia se tornar prejudicial e viciante, diminuindo a capacidade dos “usuários” de lidar com pessoas e conflitos reais. Ao lidarem apenas com uma “entidade” cuja prioridade sempre é satisfazer suas necessidades, as pessoas perderiam a capacidade de lidar de forma saudável com a frustração e com as diferenças de pontos de vista. Como dito anteriormente, o filme levanta essas questões, mas não apresenta respostas diretas e objetivas para elas.

A premissa de O Homem Ideal nos leva a fazer óbvias comparações com produções como a série Black Mirror e como os filmes Ela (2013) e Ex-Machina: Instinto Artificial. Porém, ao tratar da temática da solidão, a produção também lembra filmes como Vestígios do Dia e Amor Sem Escalas, que mostram protagonistas solitários que precisam mitigar as consequências das escolhas que fizeram. Em suma, esse não é um filme sobre tecnologia, mas sim sobre o isolamento ao qual muitas pessoas se entregam depois de passarem por experiências ruins.

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