Crítica: Gavião Arqueiro

Hawkeye, EUA, 2021



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★★★☆☆


Por um instante, Gavião Arqueiro deu sinais de que seria a melhor série do MCU, equilibrando ação, humor e mistério de forma relativamente inteligente e satisfatória. Porém, todo o esforço feito nos episódios iniciais é desperdiçado no episódio final, que, apesar de ser repleto de ação, resolve os conflitos e as questões mais sérias com cenas rápidas e diálogos terrivelmente previsíveis. A impressão que fica é que a coisa toda não passou de um jogo de larping.

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O que inicialmente deu a entender que a produção teria um tom mais sério e sombrio é que o Gavião Arqueiro/Clint Barton (Jeremy Renner) teria que lidar com as consequências dos muitos assassinatos que cometeu quando assumiu o manto do Ronin. Além disso, o fato de que a ação se passa nas ruas de Nova York deu à série um ar mais pé no chão, diferenciando-a das aventuras globais ou cósmicas da maioria das produções do MCU. Juntando isso ao jeito descontraído de Kate Bishop (Haille Steinfeld), tinha-se uma fórmula de sucesso.

Porém, a série jamais se compromete com um tom específico, sendo marcada pela inconsistência temática. A abordagem leve e bem-humorada é super divertida, mas fica deslocada toda vez que o espectador é lembrado de que Barton é, de fato, um assassino em massa. A trama dá vários sinais de que tentará lidar com essa questão, mas isso jamais se concretiza. Enquanto há várias cenas mais dramáticas que deixam claro que ele sente o peso de seu passado, isso jamais tem uma verdadeira resolução. Parece ser tudo muito sério, mas nada tem consequências reais.

Isso realça o problema das séries do MCU, que estão longe de alcançar o nível de qualidade dos filmes da franquia. Enquanto Kevin Feige é capaz de produzir filmes fantásticos e dramaticamente relevantes como Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis ou Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, não há nada com sequer metade da qualidade dessas produções em termos de séries. As que chegam mais perto são WandaVision e Falcão e o Soldado Invernal, mas elas também têm suas limitações.

gavião arqueiro

Isso fica realmente preocupante quando se leva em conta que há muitas séries previstas para o futuro, inclusive com personagens mais sérios e violentos. Uma amostra de como isso pode dar errado é a representação do Rei do Crime/Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) feita em Gavião Arqueiro. Essa versão do personagem foi introduzida na intensa e sangrenta série Demolidor, mas aqui ele é basicamente desperdiçado como um vilão raso e caricato. Levando em conta que o Matt Murdock de Charlie Cox acabou de ser introduzido em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, muitas questões ficam em aberto.

Demolidor foi um grande sucesso da Netflix e sua classificação etária era de 18 anos. Como a Marvel pretende levar isso para o mundo Disney? Se os personagens e as tramas serão mais leves, por que trazer os mesmos atores? Aparentemente, Feige está deixando o público adulto do MCU criar expectativas que não poderão ser atendidas. Se essa mega franquia é capaz de dominar as bilheterias, é porque ela agrada a públicos de diferentes faixas etárias. O que acontecerá se o foco mudar inteiramente para o público infanto-juvenil?

A boa notícia é que para o público infanto-juvenil Gavião Arqueiro é razoavelmente satisfatória. As introduções de Kate Bishop e Echo/Maya Lopez (Alaqua Cox) são ótimas, especialmente quando interagem com Yelena Belova (Florence Pugh). Inclusive, quando se leva em conta o nível de fidelidade dessa adaptação em relação aos quadrinhos, é possível dar uns pontos a mais para a produção. Só não é possível levá-la muito a sério.

No mais, quem quiser ver Jeremy Renner em algo mais brutal e com consequências mais perturbadoras, pode começar a acompanhar a série Mayor of Kingstown, cuja primeira temporada ainda está sendo lançada semanalmente no Paramount+.

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