Crítica: Apresentando os Ricardos

Being the Ricardos, EUA, 2021



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★★★★☆


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É perfeitamente compreensível que muitos fãs atuais da atriz, comediante e executiva Lucille Ball (Nicole Kidman) não aprovem a proposta do roteirista e diretor Aaron Sorkin. Apresentando os Ricardos é um filme relativamente soturno e parcialmente introspectivo sobre uma icônica figura conhecida por ser engraçada e fisicamente expressiva. Ainda assim, e apesar da trama ficar confusa em alguns momentos, o filme traça um interessante perfil tanto de Ball quanto de seu marido e parceiro profissional Desi Arnaz (Javier Bardem), além de mostrar como a realidade política na qual viviam afetava suas vidas.

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Talvez muitos fãs esperavam que essa cinebiografia seria um reflexo da Lucille Ball que é vista há mais de setenta anos nos episódios da sitcom I Love Lucy (1950 – 1957), na qual ela e Arnaz interpretavam o casal Lucy e Ricky Ricardo. Porém, Sorkin está muito mais interessado nos conflitos de bastidores e nos dramas pessoais de Ball. Estruturando seu roteiro ao redor da produção de um único episódio da série, o diretor utiliza flashbacks para mostrar as origens do programa televisivo e do relacionamento entre Ball e Arnaz, que seria um ótimo parceiro profissional mas um marido altamente questionável.

A semana escolhida pelo diretor foi aquela na qual a comediante foi acusada de ser comunista. A produção de I Love Lucy ocorreu durante o auge do macarthismo, e essa acusação poderia acabar com a carreira do casal se eles fossem adicionados na infame lista negra de Hollywood. Do nada, tudo o que eles haviam construído ao longo dos últimos anos poderia ir por água abaixo. Esse assunto era bem sensível para Arnaz, que era um imigrante cubano cuja família havia sido perseguida pela chamada Revolução Cubana de 1933.

Paralelamente, Ball precisa lidar com os rumores sobre a infidelidade do marido, assunto que se junta a outros conflitos de bastidores. Sua busca por um verdadeiro “lar” é um dos subtemas de Apresentando os Ricardos. Na medida em que Desi trabalha como músico e passa várias noites fora de casa, ela vê a estabilidade familiar pela qual sempre ansiou escapando por seus dedos. Durante seus primeiros anos de vida, sua família precisava se mudar com bastante frequência devido ao emprego do pai. Depois que ele morreu por febre tifoide em 1915, ela foi criada com a ajuda dos avós maternos e, posteriormente, pelos pais de seu padastro.

Esses últimos eram cristãos puritanos tão restritivos que sua rotina se resumia a tarefas domésticas e punições, o que durou por um período de dois ou três anos. Segundo ela, foi um tempo tão difícil que pareceu durar por sete ou oito anos, apesar da experiência também ter tido efeitos positivos em sua vida, como o desenvolvimento de sua ética de trabalho. Ela continuou visitando esses familiares mesmo depois de se mudar para Hollywood.

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Essa história, que poderia muito bem estar presente no filme, ajuda a explicar a razão pela qual ela foi tão bem-sucedida em gerenciar sua carreira enquanto se frustrava em sua vida pessoal. Seu talento e inteligência serviam para ajudá-la na indústria do entretenimento, mas não para garantir o tipo de felicidade que ela sempre almejou. A exigência da escalação de seu marido em I Love Lucy foi uma forma que ela teve de usar sua capacidade profissional em prol de sua vida pessoal, o que deu relativamente certo durante algum tempo.

Se os roteiros de I Love Lucy tinham a intenção principal de provocar risadas, o roteiro de Apresentando os Ricardos tem a intenção principal de mostrar que havia pessoas reais por trás daquelas piadas, sejam os atores, os roteiristas ou os produtores do programa. Assim como Mank (crítica aqui), esse é mais um filme para quem está interessado nos bastidores da Hollywood do passado e em entender melhor os seres humanos reais por trás das lendas inesquecíveis.

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