Whatsapp: 10 Motivos Pelos Quais as Pessoas Acreditam em Fake News


A resposta rápida para explicar o porquê de pessoas de todos os pontos do espectro político acreditarem em notícias falsas é que elas querem acreditar. Porém, esse fenômeno só se tornou mais problematicamente acentuado depois da popularização de aplicativos de troca de mensagens como o Whatsapp, que deu a bilhões de pessoas uma capacidade que a maioria delas jamais havia imaginado: a de transmitir informações para outras bilhões de pessoas. Junto com celulares mais baratos e plataformas como o YouTube, o poder da comunicação de massa foi, em grande parte, distribuído entre as massas.

As consequências dessa mudança de paradigma ainda não foram inteiramente compreendidas e nem se sabe exatamente como lidar com elas, mas a psicologia e as ciências sociais nos dão algumas pistas e se aprofundam no tema. Eis aqui dez motivos pelos quais as pessoas acreditam em notícias falsas.

1. Viés de Confirmação

O viés de confirmação nos informa que as pessoas têm a tendência de acreditar em informações que confirmem crenças que elas já possuem. Uma nova informação que contradiz aquilo o que a pessoa acredita que já “sabe” tende a ser descartada, pois ela gera o incômodo comumente chamado de dissonância cognitiva. O descarte da informação contradizente ocorre para eliminar essa dissonância e garantir que a pessoa volte a ficar satisfeita com suas crenças.

Porém, a explicação por meio do viés de confirmação ainda está na superfície do problema.

2. É como usar drogas

É importante notar o efeito que o compartilhamento de uma notícia/informação com a qual se concorda tem sobre o compartilhador. O psiquiatra entrevistado nessa matéria diz:

Quando a pessoa recebe uma notícia que a agrada, são estimulados os mecanismos de recompensa imediata do cérebro e dão uma sensação de prazer instantâneo, assim como as drogas. Ocorre uma descarga emocional e gera uma satisfação imediata. Isso impulsiona a pessoa a transmitir compulsivamente a mesma informação para que seu círculo de amizades sinta o mesmo. Por isso, há os encaminhadores compulsivos

3. É como torcer para um time de futebol

Ainda com base na matéria citada no item anterior, uma das causas do problema é fato de muitas pessoas estão tratando temas políticos como se fossem fandoms ou torcidas de futebol:

Assim como no futebol, o psiquiatra explica que a política funciona no [cérebro] de parte da população como um sistema de projeção em que o indivíduo se sente como se fosse o próprio candidato. “Se o meu time marca um gol ou ganha um título é como se o gol fosse meu e o título também. É inclusive assim que comento com os amigos”, compara o psiquiatra.

4. Falta de rigor na avaliação

Porém, esse estudo publicado na revista Nature conclui que as pessoas se importam sim com o fato de uma notícias ser falsa ou verdadeira (ou seja, com sua precisão). O grande problema é que, no momento de decidir se vão ou não compartilhar, muitas se importam ainda mais com outros aspectos da notícia, o que não permite que elas prestem atenção na precisão (ou credibilidade) em si. Em um cenário no qual os pesquisadores incentivaram os participantes do estudo a prestarem atenção na credibilidade, a quantidade de informações falsas compartilhada foi bem menor. O artigo diz:

Para responder, nós avançamos a hipótese baseada em falta de atenção, na qual (1) as pessoas se importam mais com a precisão do que com outras dimensões, mas a precisão tem pouca influência na decisão de compartilhar a informação, pois (2) o contexto das redes sociais foca a atenção das pessoas em outros fatores, como os desejos de atrair e agradar seguidores/amigos ou de sinalizar a participação em um determinado grupo.

5. Uso da intuição

O que os pontos anteriores nos informam é que as pessoas utilizam muito mais a intuição do que o pensamento crítico quando estão avaliando uma informação recebida. O problema disso é que nossa intuição pode ser facilmente induzida ao erro, especialmente quando afetada pela subjetividade dos três pontos a seguir (6, 7 e 8).

6. Quantidade de vezes que a notícia falsa é compartilhada

Muitas vezes, o simples fato de ter recebido uma notícia de várias pessoas diferentes nos dá a impressão de que os fatos relatados ali devem ser reais. A lógica seria: se várias pessoas compartilharam, então essa informação tem ampla aceitação social (pelo menos, no meu círculo de contatos); se tem ampla aceitação social, ela deve ser verdadeira e posso compartilhá-la. Basicamente, a pessoa pode cair em um raciocínio circular.

7. Familiaridade com o compartilhador

Em outros casos, a informação não precisa vir de várias pessoas, mas de uma pessoa em quem se confia. Por exemplo, se o seu tio favorito te envia uma informação pelo Whatsapp, você pode pensar: “o Tio Fulano é muito gente boa e ele jamais me mandaria uma informação falsa, então isso deve ser verdade”. O que aconteceu nesse caso é que a credibilidade do Tio Fulano foi transferida para o conteúdo que ele compartilhou. Porém, o Tio Fulano, por mais que ele seja “gente boa”, pode ter compartilhado o conteúdo sem fazer nenhuma verificação, dando uma credibilidade que aquele informação não merece. O mesmo vale para amigos, vizinhos, congregados da igreja, colegas de trabalho, etc.

8. Falta de conhecimento comparativo

Vários dos pontos anteriores falaram de credibilidade, precisão e verificação da informação, mas como um cidadão comum pode fazer essas avaliações? Na maioria das vezes, para verificar se uma informação é verdadeira, as pessoas utilizam as informações e o conhecimento de mundo que elas já possuem. Porém, se os primeiros sites de “notícias” que a pessoa acessou foram sites de fake news, então sua visão de mundo já está intrinsecamente distorcida, fazendo com que ela rejeite as informações realmente confiáveis que ela venha a receber posteriormente. Isso é agravado pelo efeito de ancoragem, que basicamente diz que a primeira impressão é a que fica.

9. Analfabetismo digital

A falta de conhecimento comparativo é um dos fatores envolvidos no analfabetismo digital, que é um problema bem comum no Brasil. O termo pode ser explicado como a incapacidade de se utilizar tecnologias digitais (computadores, tablets, smartphones, etc.) de maneira eficaz, seja por desconhecer o funcionamento da tecnologia ou seja por desconhecer a dinâmica das informações disponíveis nesses tipos de equipamentos.

Por exemplo, depois de viver a maior parte de suas vidas offline, muitas pessoas não sabem como lidar com as informações que trafegam nas redes sociais, sendo incapazes de diferenciar o que é ironia do que é um conteúdo sério. Enquanto algumas gerações cresceram junto com essas tecnologias e são capazes de diferenciar os diversos tipos de conteúdo (ironias, memes, sátiras, etc.), membros das gerações passadas podem ficar desnorteados com a quantidade e com a velocidade das informações a partir da segunda década do Século 21, tornando-os mais susceptivos aos pontos citados anteriormente.

Vale reforçar que as diferenças geracionais foram apenas um exemplo. Existem outras situações e outras populações que podem cair no analfabetismo digital. No caso da popularização do Whatsapp, havia (e ainda há) vários grupos demográficos que não estavam preparados nem para receber nem para transmitir os grandes volumes de informação que podem ser trafegados na ferramenta.

10. Incerteza sobre o futuro

Por fim, além de todos os pontos citados anteriormente, as pessoas também possuem uma grande aversão à incerteza. Todos nós queremos saber “A Verdade”, como se houvesse um ponto de vista único que pode explicar todos os aspectos da existência humana. Isso faz com que, uma vez que a pessoa já encontrou sua “verdade”, ela automaticamente rejeita qualquer informação contrária àquela crença ou ideologia. A pesquisadora entrevistada para essa matéria diz:

A tendência do pensamento conspiratório ou da desinformação sempre existiu. A pesquisa sugere que existe uma relação entre tempos de incerteza, como estresse econômico e abalo social ou político, e a disseminação de teorias da conspiração. Isso faz sentido do ponto de vista da ciência comportamental. Quanto menos certeza sobre o futuro temos, mais ansiosos ficamos e, então, um número maior de nós se apega a alguma história fantasiosa para se acalmar. É por isso que a desinformação é um problema tão grande agora.

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