20 Escândalos de Corrupção para Entender a Política Brasileira


É possível entender o funcionamento da política brasileira apenas analisando os vários escândalos de corrupção que marcaram o país nas últimas décadas. Isso não significa que a única coisa que ocorre nos corredores do poder seja corrupção, mas mostra a gravidade do problema ao longo da História do Brasil.

1. O homem, a lenda

Na ativa desde 1964 e com grande proximidade do regime militar, que o nomeou governador biônico de São Paulo em 1979, poucas figuras nacionais se envolveram em tantos escândalos de corrupção quanto Paulo Maluf (PP-SP).

Preso várias vezes no Brasil, presente na lista de procurados da Interpol, inserido na lista da corrupção internacional do Banco Mundial, citado como exemplo de corrupção a ser combatido pela ONG Transparência Internacional (que o apelidou de “Senhor Propina”) e condenado à prisão na França por lavagem de dinheiro, Maluf ainda estaria em prisão domiciliar se não fosse pelo indulto presidencial concedido em 2022, que libera os maiores de 70 anos que já cumpriram mais de um terço de suas penas.

2. O Caçador de Marajás

Graças a uma estratégia de marketing que o pintou como um “Caçador de Marajás” e a uma campanha presidencial que o apresentou como um grande combatente da corrupção, Fernando Collor de Mello (PRN-AL) chegou à Presidência da República em 1990. Com o apoio de nomes como Renan Calheiros e Eduardo Cunha, sua presidência parecia destinada ao sucesso e à alta popularidade.

Porém, a partir de uma denúncia feita pelo irmão de Collor, ficou claro que o tesoureiro da campanha presidencial, Paulo César Farias, comandava diversos esquemas de corrupção durante o mandato de seu “cliente”. O Esquema PC Farias levou à abertura de um processo de impeachment. Collor escapou de consequências mais graves ao renunciar ao seu mandato em 1992, antes da conclusão do processo.

Para completar, o caso deixou o mistério da mal explicada morte de PC Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino, em 1996. Encontrados sem vida em uma casa de praia em Maceió, a explicação oficial é que Suzana assassinou Paulo César e cometeu suicídio na sequência. Porém, alguns peritos criminais defendem que o casal provavelmente foi assassinado.

3. Mais do que sete anões

Em 1993, eclodiu o escândalo de corrupção dos Anões do Orçamento, assim chamados porque os participantes faziam parte do baixo clero da Câmara dos Deputados.

O esquema consistia no pagamento de propinas a deputados federais como João Alves de Almeida (PFL-BA), que liderava a Comissão de Orçamento do Congresso desde 1972. Isso os deixava em posição para incluir e aprovar emendas parlamentares que favoreciam os redutos eleitorais dos participantes e as empreiteiras que executariam as obras.

Parte do dinheiro recebido pelos deputados era lavado por meio de prêmios de loteria. As explicações de João Alves se tornaram memes da política brasileira: “Deus me ajudou e eu ganhei dinheiro”.

4. Uma venda sem comprador

A aprovação da emenda parlamentar da reeleição em 1997 foi uma das grandes vitórias do governo FHC. Porém, pouco tempo depois, uma reportagem da Folha de São Paulo revelou uma gravação na qual dois deputados revelaram ter recebido R$ 200 mil reais para votar a favor do projeto.

Diante da repercussão, Ronivon Santiago e João Maia, ambos dos PFL do Acre, renunciaram a seus mandatos e o caso jamais foi devidamente investigado. Dessa forma, os compradores de voto, que podem ter influenciado vários outros deputados, jamais foram descobertos.

5. Um fórum mais do que privilegiado

Um dos maiores escândalos de corrupção da História do país eclodiu em 1999 e foi relativo ao desvio de verbas para a construção de um novo fórum para a justiça trabalhista do estado de São Paulo (TRT-SP). Liderado pelo juiz Nicolau dos Santos Neto e com o envolvimento do então senador Luiz Estevão (PMDB-DF) e de suas construtoras, estima-se que o esquema desviou a quantia de R$ 169 milhões dos cofres públicos.

6. Outro homem, outra lenda

O escândalo do TRT-SP levou o Senado a cassar o mandato de Luiz Estevão em 2000. Porém, a votação que aprovou a cassação deu origem a um novo escândalo, protagonizado pelo “lendário” Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que era aliado de Estevão.

Em 2001, depois de perder a eleição para a presidência do Senado, ACM resolveu se vingar colocando a boca no trombone e fazendo acusações contra seus desafetos políticos. Inclusive, ele revelou saber quem votou contra e a favor da cassação de Estevão, sendo capaz de revelar eventuais traições de acordos partidários. Porém, ele não deveria possuir essas informações, já que a votação foi secreta.

Diante de uma investigação iniciada pela Comissão de Ética, o escândalo da violação do painel eletrônico do Senado levou ACM e o senador José Roberto Arruda, então do PSDB-DF, a renunciarem a seus cargos para evitar uma possível cassação e a perda de direitos políticos.

7. O reverso do desenvolvimento

Apesar de se incriminar, as denúncias feitas por ACM também serviram para atingir o senador Jader Barbalho (MDB-PA), que foi quem o havia derrotado na eleição pela presidência do Senado. ACM revelou o esquema de desvio de verbas e má gestão na Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), cujos gestores eram há um bom tempo apontados por Barbalho. Esse caso de corrupção também levou à descoberta de irregularidades na Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste).

Resultando em um prejuízo estimado em R$ 16 bilhões, os dois órgãos de financiamento foram fechados pelo governo FHC em 2001. Porém, devido à falta de coordenação nos processos e lentidão na justiça, ninguém foi preso e a maior parte dos recursos jamais foi recuperada.

8. Uma nova palavra

Em 2002, veio à tona o escândalo do propinoduto, esquema no qual ficais da Fazenda do Rio de Janeiro e da Receita Federal recebiam propinas em troca do perdão de dívidas de empresas. Liderado por Rodrigo Silveirinha, o grupo enviou US$ 33,4 milhões para contas na Suíça, onde permanece até hoje. A palavra “propinoduto” surgiu por causa desse caso.

Devido aos muitos recursos solicitados pela defesa, o dinheiro nunca pode ser recuperado e o caso corre o risco de prescrever. A morte de Silveirinha em 2023 complica ainda mais a situação, deixando aberta a possibilidade de seus filhos herdarem parte do montante.

9. Vampiros

Em novembro de 2004, o então ministro da Saúde Humberto Costa (PT-SP) recebeu da Controladoria Geral da União um alerta de que havia um esquema de corrupção em ativa em seu ministério. O Escândalo dos Sanguessugas foi relativo a uma quadrilha que atuava desde o governo FHC desviando dinheiro destinado à compra de ambulâncias.

Os crimes teriam começando durante a gestão de José Serra (PSDB-SP) na pasta e só teriam parado quando a Polícia Federal desmontou a quadrilha. Há uma longa lista de autoridades que foram presas e/ou perderam seus cargos devido ao esquema.

10. Cartas, encomendas e propinas

Em maio de 2005, a revista Veja publicou uma matéria na qual denunciava um esquema de corrupção nos Correios. Em um vídeo gravado sem o seu conhecimento, o chefe do Departamento de Contratação da empresa, Maurício Marinho, explicava em detalhes como funcionava a dinâmica da corrupção na contratação de fornecedores. Marinho também informou o nome do deputado que liderava o esquema: Roberto Jefferson, então do PTB-RJ, que fazia parte da base aliada do governo do PT.

Abandonado tanto pelo governo quanto pela oposição e sabendo que seria utilizado como “boi de piranha”, Roberto Jefferson ameaçou fazer denúncias explosivas que atingiriam os dois lados. Quando o governo finalmente se organizou e tentou impedir a abertura de uma CPI, já era tarde demais. Roberto Jefferson, então, começou a falar.

11. A mais infame das mesadas

A mais significativa das denúncias feitas por Jefferson ficaria conhecida como Mensalão, um esquema pelo qual o governo do presidente Lula (PT-SP) garantia sua base de apoio no Congresso por meio do pagamento de uma “mesada” para deputados do baixo clero e do Centrão. A origem dos fundos era tanto pública quanto privada, com diversas empresas (como bancos e construtoras) injetando dinheiro no esquema em troca de favores e benefícios vindos dos petistas.

Com muitos braços e muitos personagens envolvidos, os protagonistas na época foram os petistas José Dirceu, Delúbio Soares, José Genuíno e João Paulo Cunha, que foram presos. O aliado Valdemar Costa Neto (PL-SP) também foi preso na época. Entretanto, as investigações não atingiram o presidente Lula, que sempre insistiu em não conhecer o esquema comandado pela equipe liderada por ele.

Com os holofotes virados para o PT, outras situações apareceram, como a quebra do sigilo bancário de um caseiro, o famoso dinheiro na cueca e a famosa Land Rover de presente.

12. A mais infame das mesadas – Parte 2

A principal via de pagamentos utilizada pelos petistas do Mensalão era o empresário Marcos Valério, motivo pelo qual o canal ficou conhecido como “valerioduto”. Porém, o valerioduto foi apenas “herdado” pelo PT. O esquema de Valério havia sido criado em Minas Gerais para injetar fundos na campanha de governador de Eduardo Azeredo (PSDB-MG), em 1998. Esse lado do escândalo do Mensalão ficou conhecido como Mensalão Tucano.

Azeredo chegou a ser preso em 2018, mas foi solto no ano seguinte e o caso ainda não teve uma conclusão.

13. Propina & Lanches

Em fevereiro de 2005, antes mesmo da eclosão do escândalo do Mensalão, um governo Lula já em crise acabou perdendo a eleição da presidência da Câmara para um improvável membro do baixo clero: Severino Cavalcanti (PP-PE). Porém, depois de ser pego recebendo propinas da empresa que fornecia serviços de lanchonete para a Câmara, Severino renunciaria em setembro do mesmo ano. O escândalo ficou conhecido como Mensalinho.

14. Caixa 1, 2, 3, 4…

Marcos Valério permaneceu nos noticiários quando, em 2006, a revista CartaCapital revelou a famosa Lista de Furnas. O documento conteria os nomes de autoridades que receberam valores de empresas para o financiamento de campanhas políticas em 2002, configurando o chamado caixa dois.

Dentre os mais “ilustres”, apareceram os nomes de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Aécio Neves (PSDB-MG) e Jair Bolsonaro, que, na época dos pagamentos, ainda era um desconhecido deputado do baixo clero pelo PPB-RJ.

15. Firmeza na Verdade

Em 2008, a Operação Satiagraha realizou diligências contra políticos, doleiros e banqueiros envolvidos em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro. Um dos nomes mais proeminentes era do banqueiro Daniel Dantas, presidente do Banco Opportunity, instituição que também teria contribuído com o Mensalão. Dantas já havia sido investigado como parte da Operação Chacal.

16. A mais infame das mesadas – Parte 3

Escândalo que eclodiu em 2009, o Mensalão do DEM foi um esquema no qual governadores do DF pagavam pelo apoio de deputados estaduais a seus projetos. Um dos principais nomes envolvidos foi o de José Roberto Arruda, aquele mesmo, que estava envolvido no escândalo da violação do painel do Senado e teve que renunciar ao mandato de Senador junto com ACM.

17. Operação Lava Jato

Em 2014, a Operação Lava Jato descobriu um dos mais antigos e mais elaborados esquemas de corrupção da História do país: o chamado Petrolão. Nomes do PT que estavam envolvidos no Mensalão voltaram aos holofotes e o então ex-presidente Lula chegou a ser preso como parte da operação. A grosso modo, o esquema consistia em pagamentos de propinas para diretores da Petrobrás, realizados por fornecedores da empresa em troca de novos contratos potencialmente bilionários.

Descoberto durante o governo de Dilma Rousseff (PT-MG), o esquema já funcionava há várias décadas na empresa e desencadeou uma grande crise política entre o governo e o Centrão, facilitando o impeachment de Rousseff em 2016.

Sete anos depois do início, a Operação Lava Jato foi encerrada. Ao longo dos anos, a força tarefa teve sua atuação questionada devido a ilegalidades cometidas no início das investigações e à atuação do ex-juiz Sergio Moro, que tinha um relacionamento indevidamente próximo com a promotoria e, posteriormente, passou a atuar de forma muito mais política, perdendo a imagem de imparcialidade que se espera de um juiz.

Veja aqui uma longa lista de pessoas envolvidas na Lava Jato.

18. Porto de Propinas

Já eram antigas as denúncias de que o grupo político de Michel Temer (MDB-SP), que sempre fez parte do Centrão, recebia propinas relativas a contratos do Porto de Santos. O tema voltou a ser investigado em 2017, resultando no Inquérito dos Portos. O ex-presidente e outros envolvidos foram absorvidos em 2021.

19. Rachadinhas de um mini-império

Com a chegada de Jair Bolsonaro à presidência da República, foi a vez dele e de sua família ficarem sob os holofotes. Como membro do baixo clero, ele se manteve longe dos grandes escândalos de corrupção que abalaram o país ao longo dos anos, mas ainda assim estava envolvido em esquemas de rachadinhas e funcionários fantasmas. Seu grupo também é investigado no inquérito das fake news.

Desde o final dos anos 1990, quando usou o filho para retirar um cargo da ex-esposa, Bolsonaro trata uma das cadeiras da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro como um cargo seu, como se fosse seu “território” ou “curral eleitoral”. Até chegar à presidência, esse era seu “mini-império”.

20. Tudo joia

Ainda em clima de baixo clero, aliados de Bolsonaro passaram a ser investigados por tentar trazer ilegalmente joias para o país e por vender alguns dos presentes recebidos oficialmente pelo Presidente da República.

Mais recentemente, o ex-presidente está sendo investigado por uma tentativa de golpe de estado e por utilizar a ABIN como uma ferramenta política para espionar aliados e adversários.

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