Crítica: Rivais

Challengers, EUA, 2024



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Se fossemos analisar a narrativa e os personagens de Rivais de forma lógica e objetiva, talvez seria possível encontrar inconsistências em sua composição. Porém, essa não é uma história sobre lógica e objetividade, mas sim sobre decisões tomadas em momentos quentes e motivadas pelo desejo, seja o desejo sexual ou desejo de vencer. Aqui, o diretor Luca Guadagnino compõe uma experiência acima de tudo sensorial, colocando o espectador no calor do momento junto com os personagens.

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A história é enquadrada durante uma decisiva partida de tênis entre Art Donaldson (Mike Faist) e Patrick Zweig (Josh O’Connor), dois jogadores que possuem uma longa história juntos. Mas essa não é uma grande final de algum grande campeonato, mas apenas a final de um pequeno campeonato de um pequeno clube no interior do estado de Nova York. O que torna a partida decisiva é tudo o que os dois jogadores têm a perder ali, além da presença de um terceiro jogador, que assiste da arquibancada.

Tashi Duncan (Zendaya), que é esposa de Art, poderia ser apenas a mulher disputada pelos dois homens, mas ela é bem mais do que isso. O triângulo amoroso formado por eles não se trata de uma questão de qual dos dois rapazes vai ficar com a garota, mas sim de qual dos três amantes (e jogadores) vai conseguir o que quer. Em outras palavras, ela não é o “prêmio”, mas sim um dos competidores.

Um dos mistérios no centro de Rivais é descobrir o que cada um deles realmente quer. Não se trata de amor, dinheiro ou mesmo felicidade, mas de seus desejos e obsessões. Por mais que a trama mostre as interações entre eles desde a adolescência, ao longo de treze anos, percebe-se que nenhum deles realmente amadureceu.

Art é o que chega mais perto de alguma forma de amadurecimento, desejando apenas ter uma vida feliz e amorosa ao lado de sua esposa e de sua pequena filha. Porém, quando Patrick novamente aparece em suas vidas, a intensidade e a competitividade da adolescência novamente vêm à tona. Assim como Tashi e Patrick, Art também volta a buscar aquela indescritível e prazerosa sensação da vitória. Ao fim, os três querem a mesma coisa: uma boa e instigante competição.

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O outro mistério no centro da trama de Rivais é entender tudo o que aconteceu entre os três personagens até o momento daquela decisiva partida. Guadagnino vai revelando isso ao longo de vários flashbacks, mostrando jogos de tênis, de sedução e de poder entre os três personagens. O principal ingrediente nessa mistura é a tensão sexual, inclusive a tensão existente entre Art e Patrick.

Em termos de linguagem cinematográfica, os grandes destaques de Rivais são as formas criativas e envolventes com as quais o diretor captura as partidas de tênis. A intenção não é apenas capturar os jogos de forma mais dinâmica, mas principalmente revelar a intensidade da comunicação não-verbal que ocorre entre os jogadores durante uma partida. Percebe-se que há intenção e sentimento nas formas com as quais eles mandam a bola para o outro lado, e o outro jogador é capaz de percebê-los e respondê-los.

No geral, todas as “artimanhas” utilizadas pelo diretor funcionam muito bem. A única que vai um pouco longe demais é o uso de câmera lenta, que poderia ser economizado no ato final. Nesse momento, ao invés de dar ao público a oportunidade de refletir sobre os conflitos internos dos personagens, o recurso acaba alongando desenvolvimentos bem previsíveis e testando a paciência do espectador.

Isso não chega a estragar a experiência, mas é um ponto de melhoria. Apesar disso, a trama ainda está muito acima do nível de outros thrillers eróticos recentes, como Observadores e Entre Frestas.

Rivais poderia ser um dos filmes mais chatos e previsíveis do ano, mas o diretor Luca Guadagnino combina saltos temporais, incríveis ângulos de câmera e uma agitada trilha sonora para compor uma narrativa hipnotizante. Ao combinar esses elementos com as ótimas e provocantes atuações do trio principal, o resultado é um filme quente, lascivo e molhado de suor.

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