Crítica: Pacificador – 1ª Temporada
Peacemaker, EUA, 2022
HBO Max · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Enquanto as séries do Disney+ vão ficando cada vez mais inofensivas (veja os exemplos de Gavião Arqueiro e O Livro de Boba Fett), Pacificador explora todo o potencial de diversão oferecido pelas histórias de super-heróis. Mais que isso, o diretor e roteirista James Gunn se diverte com a violência brutal e o besteirol de humor negro enquanto também insere momentos genuinamente humanos e dramaticamente profundos na trama. Ainda que sejam comicamente exagerados, os personagens apresentados possuem defeitos e imperfeições que os tornam curiosamente realistas.
Gunn consegue esse efeito ao apresentar personagens insólitos e então chamar a atenção para a humana realidade de suas situações. Se em O Esquadrão Suicida o diretor apresentou o Pacificador/Chris Smith (John Cena) como um fanático e violento brutamontes, na série ele explora as raízes desse fanatismo e as condições que levam o personagem a defender a “paz” por meio de violência extrema. Dando continuidade ao arco dramático que teve início no filme, o personagem título começa a perceber as inconsistências nos métodos e nas ideias que ele desenvolveu para compensar por seus traumas de infância.
De uma forma ou de outra, todos os personagens de Pacificador precisam aceitar e enfrentar suas próprias inseguranças ao longo desses oito episódios. Enquanto Adrien/Vigilante (Freddie Stroma) segue averso a qualquer forma de introspecção, Murn (Chukwudi Iwuji), Economos (Steve Agee), Harcourt (Jennifer Holland) e Adebayo (Danielle Brooks) estão em conflito tanto entre si quanto com si próprios. O formato de série permite que cada um deles tenha tempo e espaço para demonstrar suas idiossincrasias e para evoluírem como seres humanos.
Indo além, é possível dizer que Pacificador oferece uma forma inteligente e divertida para que as histórias de super-heróis sigam relevantes por mais algum tempo. Ainda que não adotem os mesmos níveis de comédia e violência presentes aqui, as várias franquias desse gênero podem se beneficiar da profundidade dramática dessa série. Não se trata de nobres heróis fazendo dramáticos sacrifícios para derrotarem ameaças intergalácticas, mas sim de seres humanos claramente traumatizados e inegavelmente imperfeitos tendo que lidar com seus próprios defeitos e limitações para poderem seguir em frente com suas missões.
Outra forma pela qual Pacificador mostra um caminho adiante é através de sua grande ousadia temática. Essa claramente não é uma aventura para toda a família, com roteiros que vão bem além dos limites do bom gosto para surpreender e empolgar o espectador. Por mais que as piadas grosseiras e politicamente incorretas não sejam para todos os gostos, elas com certeza oferecem uma alternativa para o público adulto que vem acompanhando uma quase completa disneyficação da cultura pop.
Os afiados roteiros de Gunn e as ótimas atuações de todo o elenco fazem de Pacificador um raro exemplar de uma história de super-herói que causa tanto risadas quanto reflexões. Esse é o tipo de adaptação que respeita os fãs de quadrinhos e (quase?) justifica toda a atual obsessão com as franquias de super-heróis.