Crítica: Licorice Pizza

Licorice Pizza, EUA, 2021



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★★


Se em Era Uma Vez em Hollywood o diretor Quentin Tarantino faz um nostálgico passeio pela Los Angeles do final dos anos 1960, em Licorice Pizza Paul Thomas Anderson faz um nostálgico passeio pelas idas e vindas de um primeiro amor. Aqui, o local e a época também são importantes, mas os personagens excêntricos e os eventos históricos servem apenas como pano de fundo para um romance tão improvável quanto acidentado. PTA mostra mais uma vez que não está interessado em histórias de amor convencionais.

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A trama pode frustrar quem estiver esperando os típicos desenvolvimentos de uma comédia romântica ou de um romance dramático. Nesse sentido, o roteiro de PTA lembra a abordagem adotada na série Succession, preferindo o realismo psicológico ao invés de grandes reviravoltas dramáticas. Ainda assim, algumas reviravoltas dramáticas estão presentes, mas não para chocar ou emocionar o espectador. Por mais que a narrativa esteja o tempo inteiro dando sinais de grandes surpresas ou tragédias, esse é muito mais um filme sobre pessoas normais lidando com problemas normais.

Licorice Pizza faz um reconfortante recorte das vidas de um adolescente que está tentando conquistar uma mulher adulta e de uma mulher adulta que está tentando encontrar a si própria enquanto se sente estranhamente atraída pelo garoto. Alana (Alana Haim) e Gary (Cooper Hoffman) parecem formar uma versão norte-americana e setentista do casal da música Eduardo e Mônica, que recentemente foi adaptada para o cinema com uma abordagem mais convencional, ainda que emocionalmente ressonante.

Além dos óbvios paralelos com Era Uma Vez em Hollywood, o filme também dialoga quase que abertamente com outras obras de PTA. Se o estranho romance nos lembra de Embriagado de Amor e Trama Fantasma, o enebriado clima setentista nos transporta para Boogie Nights e Vício Inerente, tornando Licorice Pizza uma pequena combinação desses outros trabalhos do diretor. E mais uma vez, apesar de todos os problemas e obstáculos, a narrativa jamais perde um doce tom de otimismo.

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O diretor até cria momentos de tensão e suspense, mas não dá a eles os óbvios desenvolvimentos dramáticos que seriam comuns em filmes mais convencionais. Aqui, esses momentos servem apenas para manter tanto os personagens quanto o espectador com a sensação de estar à beira de um precipício, com tudo podendo mudar em um piscar de olhos. Porém, Licorice Pizza não é esse tipo de filme, e está focado apenas em mostrar duas pessoas que estão criando memórias compartilhadas para as quais vão olhar com carinho e nostalgia quando estiverem mais velhas.

Embalado por ótimas atuações de Alana Haim e Cooper Hoffman, Licorice Pizza é mais um fantástico exercício cinematográfico de Paul Thomas Anderson, mostrando que o diretor ainda tem pleno controle de sua arte. A trama pode não ser a mais épica e impactante do cineasta, mas com certeza é uma das mais genuinamente humanas e otimistas.

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