Crítica: Jack Irish – Dead Point

Jack Irish: Dead Point, Austrália, 2014



História de detetive à australiana não impressiona, mas é um entretenimento elegante e com um clima noir muito bem trabalhado.

★★★☆☆


Baseado na série de livros do autor australiano Peter Temple, Jack Irish é um coletor de dívidas e, ocasionalmente, detetive particular. Ex-advogado criminal, sua vida caiu em decadência após um cliente insatisfeito assassinar sua esposa e se matar. Entregue à bebida, ele larga a profissão e passa a trabalhar como coletor de dívidas para Harry Strang, um pequeno contraventor do submundo de Melbourne que vive da maximização de ganhos em corridas de cavalo “arranjadas”.

É a ele e seu guarda-costas Cam Delray que Jack recorre quando precisa de “músculos” em suas investigações. Em sua primeira história, Jack se envolve com a repórter Linda Hillier e o relacionamento deles é cheio de idas e vindas ao longo das histórias seguintes. As cicatrizes deixadas pela perda traumática de sua esposa tornam Jack um homem apático e isolado, que não tem planos para o futuro e parece estar vivendo a vida no automático.

É aqui que a interpretação do experiente Guy Pearce faz toda a diferença: suas transições de um homem feliz para um homem amargurado, e depois para um homem que está recuperando aos poucos a vontade de viver, são sutilmente interpretadas pelo ator, que utiliza apenas olhares, expressões faciais e tons de voz para representar a intensidade contida da personagem.

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Os dois primeiros livros foram adaptados em 2012 para a TV australiana, dando origem aos telefilmes Jack Irish: Bad Debts e Jack Irish: Black Tide. No segundo filme já se percebe que a narrativa segue uma fórmula relativamente rígida, ainda que não seja tão apressada quanto as séries procedurais norte-americanas. Cada telefilme/episódio de Jack Irish tem aproximadamente uma hora e meia de duração, o que permite uma narrativa calma, elegante e bem detalhada. Isso pode irritar alguns espectadores, já que eles tem que esperar calmamente por um desfecho quase previsível.

Para outros, como eu, esse é o tipo de narrativa que você não quer que acabe, pois existem certos elementos na história que mantém seu interesse e são agradáveis de se assistir ou conhecer. Alguns desses elementos são a cidade de Melbourne e o estilo de vida australiano, que são dois dos subtemas da narrativa.

Outros subtemas são as relações de Jack com seu pai, um famoso jogador de rugby que faleceu quando ele ainda era pequeno, e com a família de sua falecida esposa e como isso afeta seu relacionamento atual. Além disso, o clima noir é bem construído e é divertido assistir a apresentação e desenvolvimento das personagens características desse gênero, que nunca são quem parecem ser. Aqui, mesmo os clichês são bem escritos e interpretados.

Em Jack Irish: Dead Point, telefilme que estreou na TV australiana em abril de 2014, Jack resolve investigar mais à fundo quando o homem que ele foi contratado para localizar é encontrado morto depois de escapar da polícia em uma mirabolante perseguição. A investigação fica mais pessoal quando Jack descobre que quem o contratou foi seu ex-sogro, que é um importante juiz anti-corrupção que está sendo vítima de chantagem.

O juiz se vê no dilema entre destruir sua própria carreira, deixando os criminosos impunes, ou deixar que sua família seja destruída pelos segredos que ele guarda, e Jack vai fazer o máximo possível para ajudá-lo. É nesse episódio que fica mais clara a relação de Jack com a família de sua ex-esposa. A subtrama que envolve Harry Strang e Cam Delray pode até ser desnecessária, mas certamente é divertida de se ver. Além disso, Jack retoma aos poucos (ou não) seu relacionamento com Linda, que ficou incerto após os eventos ocorridos em Black Tide.

Fica então a minha recomendação desse divertido e despretensioso passatempo. De preferência, assista com legendas, pois o sotaque australiano aqui é quase incompreensível de tão pesado. O que também é divertido de se conhecer, eu acho.

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