Crítica: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Everything Everywhere All at Once, EUA, 2022



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★★


Durante a maior parte da História, nós tínhamos certeza de que a Terra era o centro do Universo. Nós matamos e torturamos pessoas que diziam o contrário. Isto é, até descobrirmos que na verdade a Terra está girando ao redor do Sol, que é apenas um sol dentre trilhões de sóis. E agora olhe para nós, tentando lidar com o fato de que tudo isso está dentro de um único Universo dentre sabe-se lá quantos.

Dentre as muitas obras de ficção baseadas na ideia de um multiverso, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo se destaca tanto por sua absurda energia caótica quanto por sua impressionante profundidade dramática. Como se isso não bastasse, a trama integra o drama e a ação com grandes momentos de comédia e de reflexões filosóficas, tornando a produção uma inesquecível mistura de gêneros. O resultado é uma obra cinematográfica como nenhuma outra, combinando o melhor de vários mundos em uma única história.

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O ponto de partida é a vida de Evelyn (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa nos EUA que está sempre ocupada demais para dar atenção a seu marido Waymond (Ke Huy Quan) e a sua filha Joy (Stephanie Hsu). O foco de sua existência parece ser a gerência da lavanderia da família e a busca pela aprovação de seu pai, Gong Gong (James Hong), que acabou de chegar da China. Na prática, ela se mantém ocupada justamente para não ter que lidar com as necessidades de seus familiares mais próximos, interagindo com eles apenas por meio de críticas e exigências.

Essa situação fica ainda mais grave quando uma versão alternativa de Waymond a recruta para ajudá-lo a derrotar um “grande mal” que ameaça todos os universos do multiverso. Enquanto persegue o grande vilão, Evelyn faz uma jornada pelas possibilidades inexploradas de sua vida, enxergando tudo o que ela poderia ter sido e começando a ressentir ainda mais quem ela é em seu universo e com sua família. Nesse momento, Evelyn ainda olha para o mundo (ou para os muitos mundos) como se ela fosse o centro do Universo.

Porém, na tentativa de adquirir os mesmos poderes que a entidade maligna, ela faz algo muito mais poderoso: abandona por um instante seu próprio ponto de vista e passa a enxergar o multiverso como a entidade o enxerga. É aí que ela entende as inseguranças, a solidão e o narcisismo daquela “entidade”. Diante de um Universo tão grande, em que nada parece ter importância ou significado, a “entidade maligna” não é nada mais do que uma pessoa que se considera insignificante e está em uma grave crise existencial.

tudo em todo lugar ao mesmo tempo 2É aí que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo revela a sua simples e ingênua mensagem. Ao invés de tentar impor o seu ponto de vista e transformar tudo em um violento conflito, Evelyn aprende a levar em conta as necessidades das outras pessoas e a negociar saídas das situações potencialmente conflituosas. O conhecimento que ela acumula e sua disposição em se colocar no lugar do outro a ajudam a expandir seus horizontes e a entender os “muitos mundos” de forma mais completa. Com a ajuda de Waymond, ela percebe que cada pessoa em sua vida é um “universo” que precisa ser levado em conta.

Em outras palavras, ela obtém o poder da empatia e aprende a lidar com as diferenças entre as pessoas, entendendo que nem todo mundo precisa se encaixar nos padrões de comportamento com os quais ela cresceu e amadureceu.

Os diretores Dan Kwan e Daniel Scheinert poderiam ter contado essa história de muitas formas diferentes, mas eles escolheram contá-la da forma mais louca e alucinante possível. Mesmo quem não se impressionar com a mensagem central pode se distrair com as cores, a ação, a comédia e as bizarrices que vão sendo mostradas em cada cena. Isso faz com que a linguagem entre em sintonia com a temática da narrativa, pois, assim como Evelyn vai tendo o seu universo expandido, o espectador tem que lidar com momentos cada vez mais insólitos e chocantes, exigindo que ele mantenha a mente aberta para qualquer coisa que possa acontecer a seguir.

Tudo isso faz de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo um presente para os fãs do cinema de ação, da comédia, da ficção científica, do drama familiar e até da filosofia. Quem se interessar por apenas um desses aspectos vai ter que lidar com todos os outros e, consequentemente, também terá seu Universo expandido.

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