Crítica: Avatar – O Caminho da Água
Avatar: The Way of Water, EUA, 2022
Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Não havia dúvida de que Avatar: O Caminho da Água seria um grande espetáculo visual, especialmente quando visto em telas premium de cinema. O que não se sabia é se sua história conseguiria se garantir sem esse tipo de experiência, já que boa parte dos espectadores provavelmente não assistirão ao filme em 3D ou em salas IMAX. A boa notícia é que o diretor James Cameron consegue manter a tensão e a emoção mesmo com uma trama bem familiar e relativamente previsível. Porém, talvez isso ainda não seja o suficiente para o espectador mais exigente.
A narrativa do primeiro Avatar chegava a ser dolorosamente previsível e maçante, especialmente nos momentos em que dependia de uma monótona narração em off para seguir em frente. Dessa vez, há menos dependência desse tipo de narração e mais combinações de gêneros e premissas, ao invés de ser apenas um Pocahontas em outro planeta. Além da vibe geral ser de Star Wars: O Império Contra-Ataca, a trama surpreende ao ser uma mistura de faroeste com Moby Dick, com os áridos desertos da América do Norte sendo substituídos pelos belíssimos oceanos de Pandora.
Com mais de três horas de duração, Avatar: O Caminho da Água pode ser dividido em três grandes “episódios”: a volta do coronel, a vida no oceano e a caçada final.
O que mais pesa no tempo de duração é a segunda parte, que mostra a família de Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana) imigrando para um arquipélago e se adaptando ao “caminho da água”. Nesse momento, a trama foca nas dificuldades das crianças e adolescentes a se adaptarem à vida no oceano e à realidade de uma nova tribo. Esse é o “capítulo” que pode testar a paciência do espectador, já que possui pouca ação e se concentra no processo de amadurecimento dos personagens mais jovens.
O motivo da migração dos Sully é a volta do coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), que foi “ressuscitado” como um Na’vi. Com os humanos de volta à Pandora, ele recebe a missão de localizar e eliminar o ex-fuzileiro Jake Sully. Se no primeiro filme o personagem era apenas um vilão caricato, em O Caminho da Água sua caricatura recebe mais profundidade e intensidade, tornando sua obsessão por vingança uma das forças mais destrutivas na superfície do “planeta” Pandora (que, na verdade, é uma das luas do planeta Polifemo). É com ele que os elementos de Moby Dick entram em cena, tornando-o o Capitão Ahab da produção.
O que também melhorou em Avatar: O Caminho da Água foi a representação da violência colonial e da exploração predatória de recursos naturais. Ainda que não vá aos extremos das histórias reais, o filme chega a mostrar cenas tristes e perturbadoras de subjugação de populações indígenas e violentas caçadas a grandes animais. A mentalidade dos colonizadores do filme espelha o passado e o presente da humanidade, chegando a nos lembrar das reflexões levantadas na minissérie documental Extermine Todos os Brutos.
As melhorias já citadas combinadas com os novos e impressionantes efeitos especias já poderiam fazer de Avatar: O Caminho da Água um filme superior ao original. Mas Cameron ainda adiciona quantidades cavalares de ação ao terceiro ato, com uma caçada final que é pura adrenalina. Não é apenas que as várias cenas de ação sejam intensas e de encher os olhos, mas também que o filme faz um trabalho tão bom no estabelecimento dos novos personagens que o espectador realmente se importa com o destino de cada um deles.
Tudo isso facilita ainda mais a imersão do público na história e complementa os fantásticos visuais. Se no primeiro Avatar havia momentos nos quais ficava a impressão de que estávamos assistindo a um vídeo game, em O Caminho da Água é possível que o espectador se esqueça completamente de que está olhando para personagens e paisagens gerados digitalmente. Essa é uma distração a menos para prejudicar a suspensão da descrença por parte da audiência.
A relativa previsibilidade da história de Avatar: O Caminho da Água é compensada por incríveis efeitos visuais, grandes cenas de ação e um cativante drama familiar. Quem não acreditava que James Cameron seria capaz de criar material suficiente para várias sequências de Avatar já pode começar a acreditar. O diretor e roteirista adicionou tanta textura e tantos novos personagens à franquia que agora ele possui inúmeras possibilidades para as próximas histórias, que podem focar em diferentes de pontos de vista e em diferentes grupos de personagens.