10 Fatores que levam os jovens para o Mundo do Crime
Não existe uma fórmula simples para explicar o porquê de algumas pessoas serem facilmente “seduzidas” pelo mundo do crime. Porém, alguns fatores já conhecidos podem se combinar para resultar em jovens de diferentes faixas etárias tomando péssimas e violentas decisões, afetando para sempre suas próprias vidas e as vidas de suas vítimas.
Entender esses fatores pode ser extremamente útil tanto para intervir nas vidas desses jovens quanto para ajudá-los a refletir sobre as raízes de suas próprias ações.
Vale ressaltar que, isoladamente, nenhum dos aspectos citados abaixo serve como uma “explicação” definitiva. No mundo real, o caso de cada jovem criminoso pode envolver a combinação de dois ou mais desses fatores, quase sempre resultando em situações trágicas.
1. Violência e outros problemas no ambiente familiar
Ao presenciar ou ser vítima de atos de violência (seja ela física, verbal ou psicológica) em casa, a criança certamente irá levar isso para o seu futuro. A falta de uma estrutura familiar completa ou estável também pode acarretar em impedimentos em seu desenvolvimento emocional e intelectual, criando a possibilidade de que ela passe a tomar decisões cada vez mais questionáveis a partir da adolescência.
Porém, nem todas as pessoas que crescem nessas condições se tornam criminosas. Muitas delas, inclusive, fazem o máximo possível para não perpetuar o ciclo de abusos e negligências dos quais elas foram vítimas.
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2. Falta de ética e de valores morais
Mesmo em famílias bem estruturadas, a formação do indivíduo pode ter deficiências, muitas vezes causadas pelas limitações dos próprios pais ou guardiões. Por exemplo, se uma pessoa jamais aprendeu sobre ética e valores morais, não há como ela ensinar sobre isso para seus filhos. Se os pais ensinam para os filhos que eles sempre devem dar um “jeitinho”, é possível que as crianças levem esses “ensinamentos” até as últimas consequências, resultando em situações que nem os pais esperavam.
Sem claras distinções entre “certo” e “errado” ou entre “justiça” e “injustiça”, o jovem fica à mercê de outros fatores para definir os limites de seu comportamento. A falta de um “centro moral” ou de uma “bússola moral” potencializa os fatores psicológicos, fisiológicos e sociais mencionados a seguir.
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3. Falta de empatia
Um dos pré-requisitos básicos para que alguém entre no mundo do crime é que esse indivíduo não se importe em causar dor e sofrimento em outras pessoas. No “melhor” caso, o criminoso pode inventar desculpas para poder justificar (ou racionalizar) as suas ações e defender (para si próprio ou para outros) a necessidade delas. Nos casos mais graves, o elemento pode agir com requintes de crueldade, seja para descontar o próprio sofrimento ou para se sentir “poderoso”.
Há também os casos de criminosos que sofrem com distúrbios como o transtorno de personalidade narcisista ou o transtorno de personalidade antissocial, condições que limitam em diferentes graus a capacidade do indivíduo de entender e/ou se importar com os sentimentos de outras pessoas. O transtorno de personalidade antissocial é o que engloba os chamados psicopatas e os sociopatas.
Vale lembrar que, apesar do diagnóstico ser desafiador, existem tratamentos para esses transtornos e nem sempre eles resultam em comportamentos criminosos.
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4. Impulsividade e busca por gratificação imediata
Também existem os jovens que são levados para o mundo do crime devido a uma constante busca por gratificação imediata e devido a uma impulsividade desmedida. Sem refletir sobre as consequências de suas ações, sem planejamento e sem dar espaço para a inteligência emocional, esses indivíduos podem acabar se surpreendendo com a gravidade das situações nas quais eles se envolvem e dos crimes que eles cometem.
Já existem, inclusive, estudos que relacionam o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) com o comportamento criminoso, evidenciando que esse transtorno pode ser um fator de risco quando combinado com os demais fatores mencionados nessa lista.
Veja também os seguintes vídeos:
- Diminuindo os conflitos com o adolescente TDAH
- TDAH e adolescência
- Dicas para melhorar a qualidade de vida da pessoa com TDAH
5. Transtornos mentais como ansiedade e depressão
Tanto o TDAH quanto outros fatores podem levar a transtornos de ansiedade e de depressão, que também já foram relacionados com práticas criminosas, apesar de correlação ser mais fraca. Esse artigo de 2015 diz:
Um estudo realizado com mais de 47.000 pessoas na Suécia enfatizou que a grande maioria das pessoas deprimidas não são violentas nem criminosas e não devem ser estigmatizadas.
“Uma descoberta importante foi que a grande maioria das pessoas deprimidas não foi condenada por crimes violentos, e que as taxas… são inferiores às da esquizofrenia e do transtorno bipolar, e consideravelmente menores do que as do abuso de álcool ou drogas”, disse Seena Fazel, que liderou o estudo no departamento de psiquiatria da Universidade de Oxford.
Os pesquisadores descobriram que 3,7% dos homens e 0,5% das mulheres cometeram um crime violento após serem diagnosticados com depressão clínica. Em comparação, na população geral, esses números foram de 1,2% dos homens e 0,2% das mulheres.
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6. Pressão do ambiente e do círculo social
Todos os fatores mencionados anteriormente podem ser potencializados ou inibidos pelo ambiente no qual o jovem se encontra. Se ele não possui contato com grupos criminosos (seja na família, na escola ou na vizinhança), é bem menos provável que o adolescente irá tentar dar vazão às suas inseguranças e atribulações por meio de atividades criminosas.
Porém, se o que o ambiente lhe oferece é a oportunidade de ter ganhos “fáceis” por meio do crime, os fatores de risco citados aqui podem acelerar a corrupção do jovem. Em determinadas condições (oferecendo vantagens financeiras, sexuais ou em itens de luxo), grupos criminosos conseguem recrutar adolescentes mesmo que eles não se encaixem nessas situações de risco.
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7. Busca por sensações de pertencimento e de superioridade
Os grupos criminosos também oferecem a sensação de pertencimento e de superioridade para jovens que não possuem referências de ética e de comportamento moral. Dessa forma, eles são “seduzidos” pela ideia de que farão parte de um grupo poderoso e especial, dando-lhes a ilusão de que são superiores à quem não faz parte do grupo. É algo semelhante ao que ocorre em grupos extremistas, como o exemplificado no filme A Onda.
As gangues criminosas também dão a eles um propósito de vida, por mais pequeno e limitado que esse “propósito” possa parecer. A ideia seria a de que eles são “soldados” em uma “guerra” e que precisam se dedicar para derrotar o “inimigo”. Na prática, eles são utilizados como “bucha de canhão” (tropas dispensáveis e fáceis de substituir) por narcotraficantes que raramente ficam sob a mira da polícia ou de grupos rivais.
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8. Glamorização da violência
Apesar de há várias décadas parte da sociedade tentar, de forma exagerada e paranoica, culpar os filmes e os vídeo games pela violência juvenil, a mídia realmente pode ter uma influência sobre esse problema. Quando combinada com outros fatores de risco, a violência extrema em obras de ficção pode “inspirar” jovens que querem ser vistos como fortes e implacáveis.
Recentemente, eu escrevi brevemente sobre um episódio da série Black Mirror que aborda essa perda de sensibilidade por parte da população:
O criador de Black Mirror (…) se inspirou em dois livros do Século 20 para escrever [o episódio] Engenharia Reversa: Men Against Fire e Matar! Um Estudo Sobre o Ato de Matar. Os dois trabalhos falam sobre os aspectos psicológicos do ato de matar e sobre suas consequências para a sociedade em geral.
No primeiro livro, lançado em 1947, o autor aborda o fato de que a maioria dos combatentes nos conflitos que ele estudou jamais disparou um só tiro no campo de batalha, já que, instintivamente, a maioria dos seres humanos são aversos ao ato de tirar a vida de outra pessoa. Já o segundo livro, lançado na década de 1990, faz um estudo sobre como os exércitos condicionaram seus soldados para superar esses instintos e matarem com mais facilidade, além dos efeitos que isso tem sobre a mídia e sobre a segurança pública.
Isso explica parcialmente o fato de que os crimes praticados por organizações criminosas estão ficando cada vez mais violentos, envolvendo torturas e outros requintes de crueldade. Obviamente, a violência na mídia só é um problema quando combinada com os outros fatores de risco, já que a gigantesca maioria dos consumidores desse tipo de conteúdo jamais cometem crimes.
9. Consumo de álcool ou de outras drogas
Todos os transtornos e fatores mencionados até aqui são perfeitamente tratáveis e controláveis. Porém, quando os indivíduos consomem álcool ou outras drogas, suas inibições são significativamente reduzidas e o descontrole pode ser caótico. Essas substâncias acabam agindo como catalisadoras (ou gatilhos) de uma violência latente em pessoas traumatizadas e fragilizadas.
Em alguns casos, quando os efeitos dessas substâncias passam, os próprios criminosos ficam surpresos com o que eles mesmos fizeram. Nesses casos, a pessoa precisa pensar em suas ações antes mesmo de tomar a primeira dose.
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10. Falta de perspectivas para o futuro
Porém, se uma pessoa não consegue enxergar motivos para se cuidar e tem a sensação de que não tem nada a perder, ela não irá fazer nenhum esforço para evitar os catalisadores e os fatores de risco mencionados nos parágrafos anteriores. Indo além, se as condições sociais e econômicas nas quais ela vive não oferecem grandes chances de sucesso, essas condições vão acabar limitando seus sonhos e suas perspectivas de futuro.
Sendo assim, é importante que os jovens entendam que suas vidas acabaram de começar e que o mundo que eles conhecem até o momento representa apenas uma pequena fração de tudo o que eles irão conhecer e de tudo o que eles irão viver no futuro. Por mais dramáticos que os problemas do momento pareçam, chegará o dia no qual esses problemas serão apenas memórias de um passado remoto.
Isso se eles não morrerem ou não estiverem encarcerados em condições deploráveis. Para evitar destinos como esses, talvez as seguintes reflexões os ajudem a pensar nas consequências de suas ações:
- Dadas as decisões que estou tomando agora, onde minha vida pode chegar?
- O que aconteceu com pessoas que tomaram decisões semelhantes às minhas?
- Quais são as outras formas de viver a vida que eu estou ignorando?
- Onde minha vida estava 5 anos atrás?
- Onde eu me vejo daqui a 10 anos? E daqui a 20 ou 30 anos?
- Eu estou realmente construindo um futuro ou apenas me preparando para morrer ou ser preso?







