Crítica: Thunderbolts*
Thunderbolts*, EUA, 2025
Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Se esse deveria ser uma espécie de Esquadrão Suicida do MCU, então o plano da Marvel Studios deu certo e errado ao mesmo tempo. Errado porque Thunderbolts* está longe de ser tão engraçado e empolgante quanto o ótimo O Esquadrão Suicida. E o plano deu certo porque a equipe de anti-heróis mostrada aqui realmente apresenta diversos sintomas de depressão e tem esse transtorno mental como o principal vilão a ser derrotado. Esse é um filme da Marvel que é, acima de tudo, sobre saúde mental e que poderia fazer parte de uma campanha do Setembro Amarelo.
Em primeiro lugar, o filme faz um ótimo uso de personagens bem estabelecidos, como Bucky Barnes/Soldado Invernal (Sebastian Stan), e de personagens recentemente introduzidos no MCU. Além de Bucky, os Thunderbolts incluem Yelena Belova/Viúva Negra (Florence Pugh), Alexei Shostakov/Guardião Vermelho (David Harbour) e Antonia Dreykov/Treinadora (Olga Kurylenko), introduzidos no filme Viúva Negra; Ava Starr/Fantasma (Hannah John-Kamen), introduzida em Homem-Formiga e a Vespa; e John Walker/Agente Americano (Wyatt Russell), introduzido na minissérie Falcão e o Soldado Invernal.
A vilã Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus) também foi introduzida em Falcão e o Soldado Invernal, minissérie que pode ser considerada uma continuação direta de Capitão América: Guerra Civil e que está mostrando ser um dos novos pilares do MCU pós-Vingadores. Tanto a minissérie quanto o filme Viúva Negra plantaram sementes que seriam importantes em Pantera Negra: Wakanda para Sempre e no recente Capitão América: Admirável Mundo Novo.
Agora, Thunderbolts* é mais um episódio nessa linha narrativa geral e representa uma volta à consistência temática do MCU. O filme também introduz o misterioso personagem Bob (Lewis Pullman), que deve deixar os espectadores curiosos sobre suas próximas participações no universo cinematográfico da Marvel. Um aviso válido é que vale a pena evitar o material de divulgação do filme, que acaba estragando muitas das surpresas presentes na trama.
Apesar de Yelena ser o centro gravitacional de Thunderbolts*, o filme faz um ótimo trabalho no desenvolvimento de quase todos os personagens. Além de mostrar a nova fase de Bucky como deputado federal nos EUA, o filme mostra um John Walker que continua tóxico e agressivo, mas que ainda consegue trabalhar em equipe. Já o Guardião Vermelho continua sendo o alívio cômico da história, apesar de também protagonizar cenas com um alto peso dramático.
Mas o que realmente surpreende em Thunderbolts* é a forma autêntica e madura com a qual a trama aborda seu tema principal. Desde a cena inicial, na qual Yelena pula de um arranha-céu, o filme revela um lado sombrio e depressivo. Vários dos personagens se mostram perdidos e desmotivados, em busca de algum tipo de significado ou propósito maior em suas vidas. Eles se refugiam nas missões passadas por Valentina ou na nostalgia das glórias do passado.
Outras produções da Marvel, como WandaVision e Cavaleiro da Lua, já lidaram com questões como essas, mas o final sempre contava com grandes batalhas nas quais alguns vilões eram fisicamente derrotados. Aqui, a batalha final não é contra um vilão físico, mas sim contra a depressão profunda de um dos personagens. Seus traumas, suas inseguranças e sua tristeza resultam em um vazio e em um nível de narcisismo que ameaçam engolir tudo ao seu redor. Para ele, só sua própria dor importa e nenhuma existência faz sentido. Isso lembra pessoas depressivas que decidem ferir outras antes de ferir a si próprias, como se isso desse algum grande significado a sua existência ou ao seu sofrimento.
Pode-se dizer que a grande missão dos Thunderbolts aqui é afastar a escuridão de seus corações. Yelena e os demais personagens apresentam vários sintomas de depressão, como a sensação de vazio, o sentimento de inutilidade, irritabilidade, desmotivação, abuso de álcool ou outras drogas e pensamentos negativos. Eles precisam dar um jeito de enfrentar tudo isso como uma verdadeira equipe, resultando em momentos que lembram muito mais produções como a série Legion ou o filme Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo.
Apesar disso, Thunderbolts* ainda é menos melancólico que Pantera Negra: Wakanda para Sempre e que Guardiões da Galáxia Vol 3. Não é que esse seja um dos “grandes” filmes da Marvel, mas ele faz uma fantástica combinação dos elementos já estabelecidos no MCU com uma abordagem parcialmente diferente do convencional. A ação e o humor que se podiam esperar da produção estão presentes, mas ela também traz personagens marcantes e uma temática que pode ser considerada ousada para o gênero.