Crítica: Pantera Negra – Wakanda Para Sempre

Black Panther: Wakanda Forever, EUA, 2022



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★★


Para quem estava reclamando de que as últimas produções da Marvel estavam sendo demasiadamente leves e descompromissadas, a resposta veio pesada. Pantera Negra: Wakanda Para Sempre é o mais sério filme do MCU, lidando muito bem não apenas com a morte do ator Chadwick Boseman mas também com questões de guerra e geopolítica que nos lembram os problemas que vemos nos noticiários. Por meio de uma ousada mistura de drama com thriller político, o filme lida com o ressentimento e a violência que ainda marcam a História da humanidade.

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Apesar dos aspectos de fantasia e ficção científica estarem presentes, são poucos os momentos nos quais nos lembramos de que esse é um filme de super-heróis. São os políticos, espiões, mercenários, militares e diplomatas que causam o conflito no centro da trama. Depois da morte do rei e Pantera Negra T’Challa (Boseman), as potências ocidentais ficam mais ousadas em sua busca pelo poderoso metal vibranium. Isso as leva até Namor (Tenoch Huerta) e sua isolada civilização subaquática, que responde violentamente.

Em Wakanda, Shuri (Letitia Wright) tenta lidar com a morte do irmão de forma lógica e racional, enquanto a frustração por não ter sido capaz de salvá-lo vai se transformando em raiva e agressividade. É a rainha Ramonda (Angela Bassett) quem precisa lidar com as pressões políticas e militares feitas pela comunidade internacional. A aparição de Namor é a faísca que detona o barril de pólvora com o qual Ramonda estava lidando, deixando até a rainha com os nervos à flor da pele.

Diante de todas essas complicações, não é a sombra de T’Challa que paira sobre Wakanda. São as ideias e sentimentos de Erik Stevens/Killmonger (Michael B. Jordan) que marcam as reações violentas e belicosas de líderes que temem pela segurança de seus povos e de uma família que perdeu um filho e irmão. A instabilidade emocional vai se transformando em instabilidade política, fazendo os tambores da guerra começarem a ecoar tanto em Wakanda quanto no reino subaquático de Talokan.

O resultado vem na forma de assassinatos, ofensivas militares ilegais, ataques a populações civis e a formação de campos de refugiados. Não há sangue pingando da tela, mas Wakanda Para Sempre é um filme visceral nos mais diversos sentidos, chegando a ser desagradavelmente realista. No final, dois guerreiros feridos e cansados batalham não por necessidade, mas apenas por medo, ressentimento e desejo de vingança.

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Em meio a tudo isso, o diretor e roteirista Ryan Coogler ainda encontra tempo para avançar a narrativa geral do MCU e introduzir novos personagens, como Riri Williams/Ironheart (Dominique Thorne). A apresentação da mitologia por trás de Namor e Talokan é tão bem trabalhada que esses elementos adquirem todo o peso dramático necessário para compor uma das grandes mensagens da produção e para abrir uma interessante linha narrativa na franquia. Já a participação da diretora da CIA Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus) deixa claro que ela tem grandes planos para o futuro.

No geral, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre mostra que o MCU ainda possui histórias para contar e não precisa ficar inteiramente dependente de filmes que são apenas divertidos. As imagens impressionantemente belas e inusitadas de Talokan e Wakanda deixam claro que o estúdio ainda sabe como produzir aventuras visualmente estimulantes, por mais que o CGI ainda fique decepcionante em alguns momentos. Em meio a muitas cenas de encher os olhos, o destaque aqui fica para as “bombas aquáticas” utilizadas por Namor e seus guerreiros.

O filme também se destaca por sua representação cultural. Além da inspiração africana, Wakanda Para Sempre faz um ótimo trabalho ao misturar a mitologia de Talokan com a História das populações astecas e maias que foram escravizadas e massacradas por colonizadores espanhóis. Inclusive, a língua maia se junta ao amplo grupo de línguas faladas na produção, que incluem o xossa, o inglês, o espanhol e o francês.

Pantera Negra: Wakanda Para Sempre não é exatamente um filme divertido e fácil de assistir, mas lida de forma madura e inteligente com os vários temas abordados. A produção funciona não apenas como uma homenagem a Chadwick Boseman, mas também como uma espécie de velório para o ator, durante o qual as pessoas podem processar o peso daquela perda e se preparar para seguir em frente. Em suma, esse não é o tipo de aventura que deixa o espectador com um sorriso no rosto, mas sim com um peso no coração.

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