Crítica: O Urso – 1ª Temporada

The Bear, EUA, 2022



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★★★★★


Com apenas oito curtos episódios, a primeira temporada de O Urso mergulha o espectador no frenético dia a dia da cozinha de uma pequena mas tradicional lanchonete de Chicago. Porém, essa não é um série sobre culinária ou gerência de restaurantes, mas sim sobre um disfuncional grupo de pessoas tendo que lidar com uma pesada e inesperada perda na “família”. O drama e a comédia se misturam em velocidades alarmantes, replicando o senso de urgência exigido nas cozinhas de restaurantes movimentados.

o urso 2As tensões sobem quando Carmen “Carmy” Berzatto (Jeremy Allen White) volta para Chicago para administrar a lanchonete da família, que lhe foi deixada por seu falecido irmão, Michael (Jon Bernthal). Considerado um dos melhores chefs do mundo, seu estilo não é facilmente aceito pelos cozinheiros e outros funcionários do local, incluindo o “primo” Richie (Ebon Moss-Bachrach). Para completar, ele contrata a novata e bem treinada Sydney (Ayo Edebiri) para lhe ajudar a modernizar o local e implantar uma brigada de cozinha no pequeno restaurante.

A busca de Carmy por consistência e eficiência esconde o luto com o qual ele se recusa a lidar. Ele não apenas tenta provar para si próprio que é capaz de organizar o restaurante, mas seus esforços também revelam uma vontade de corrigir o passado, de compensar por sua ausência na vida do irmão. Tanto ele quanto outros personagens se sentem culpados pela morte de Michael, algo comum entre os entes queridos de pessoas que morrem por suicídio.

Já Richie, melhor amigo de Michael, tenta lidar com a perda mantendo tudo como estava antes. Ele insiste que o restaurante possui um delicado “ecossistema” que não deve ser abalado, colocando-o em rota de colisão com Carmy. Na prática, ele rechaça as mudanças e se agarra ao passado para não perder o que havia de mais estável e confiável em sua vida. De repente, não apenas o restaurante, mas toda a sua vizinhança está em um processo de transformação.

Tanto esses quanto os outros personagens de O Urso são escritos e interpretados de formas incrivelmente realistas. A impressão que fica é a de que estamos vendo pessoas reais interagindo de forma real, com todos os trejeitos, defeitos, paixões e obsessões dos seres humanos “não-roteirizados”.

o urso 3Uma amostra disso é como os relacionamentos na série não são definidos por um único ou por alguns poucos sentimentos. Pessoas que em um momento estão em pé de guerra podem estar interagindo normalmente e fazendo piadas em um momento seguinte. Algumas das desavenças e ressentimentos se manifestam de formas imaturas ou mesquinhas. Os pedidos de desculpas não são grandes e dramáticos, mas sinceros e bem subjetivos. Nesses momentos, o que menos importa são as palavras, mas sim a forma com a qual elas são ditas.

E há vários pedidos de desculpa em O Urso, especialmente devido ao ambiente tóxico que se forma na cozinha do restaurante. Quando o clima esquenta, a adrenalina e a testosterona tomam conta e cada personagem possui limites diferentes nessas interações. Por mais que fique subentendido que nada daquilo é pessoal, vários dos personagens passam dos limites em diversos momentos. Mais uma vez, a série deixa a impressão de que estamos vendo pessoas reais passando por situações reais de pressão, estresse e nervosismo.

Os realizadores aproveitam esse ambiente para criar uma narrativa ágil e energética. Por mais que a história lembre filmes como Chef e Soul Kitchen (e inclua alguns toques de Fleabag), a linguagem cinematográfica está mais próxima da intensidade de filmes como Whiplash: Em Busca da Perfeição e Joias Brutas. Ainda que tenha alguns momentos mais introspectivos, essa não é uma série para os fracos de coração.

Para completar, além das participações especiais de nomes como Jon Bernthal, Oliver Platt e Joel McHale, O Urso conta com a cidade de Chicago para prover uma ambientação tão bela quanto autenticamente urbana. Todos esses elementos se combinam para contar uma história intimista e de escopo bem limitado, mas que reflete todas as complexidades com as quais a maioria das pessoas precisam lidar em suas vidas.

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