Crítica: Homens da Lei – Bass Reeves

Lawmen: Bass Reeves, EUA/Reino Unido, 2023



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★★★☆☆


A engrenagem narrativa de Homens da Lei: Bass Reeves quase não engata, mas essa limitação é compensada por ótimas cenas de ação e pela introdução de um interessante vilão para “assombrar” o protagonista. Parte das dificuldades narrativas aqui se devem ao fato de essa ser quase uma cinebiografia do lendário policial Bass Reeves (David Oyelowo), o que tira parte da liberdade dos roteiristas dessa minissérie. Apesar de pertencer ao universo cinematográfico de Taylor Sheridan, o roteirista não assina nenhum dos episódios, sendo creditado apenas como produtor executivo.

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Criada por Chad Feehan, a produção está longe de atingir o mesmo nível épico de produções como 1883 e 1923. Apesar dos esforços da diretora Christina Alexandra Voros, que dirigiu cinco episódios tanto de Homens da Lei: Bass Reeves quanto de 1883, a trama sofre com capítulos iniciais que não conseguem se aprofundar no passado do protagonista e com uma introspectiva interrupção na sequência de missões recebidas por ele. Talvez, se tivesse adotado uma narrativa menos linear, a série poderia intercalar o passado de Reeves com os momentos mais grandiosos ou dramáticos do homem da lei.

A interrupção pelo menos serve para introduzir um grande “vilão” na trama. Até esse ponto, Bass Reeves é apresentado exatamente como na sua história: um ex-escravizado que se torna um oficial da justiça federal que preza pela honra e pela integridade no cumprimento do dever. Ao contrário de outros oficiais, ele tem disciplina o suficiente para respeitar os direitos dos prisioneiros e entregá-los nas mãos da justiça. Seu compromisso é com a defesa da população e do Estado de Direito, evitando a típica justiça de fronteira que era relativamente comum na época.

Porém, ao longo dos últimos episódios, ele começa a refletir sobre a natureza de seu trabalho e sobre a natureza das instituições que ele está representando. Enquanto o juiz Isaac Parker (Donald Sutherland) ficou conhecido pelo alto índice de condenações por enforcamento em sua corte, Reeves começa a enxergar as situações desesperadoras de muitos dos criminosos que ele levou para o tribunal, especialmente os negros que, assim como ele, haviam sido libertados da escravidão alguns anos antes.

Paralelamente, sua esposa Jennie (Lauren E. Banks) e sua filha Sally (Demi Singleton) começam a perceber que o sonho de liberdade nos EUA pós-Guerra Civil não era tão ideal quanto elas imaginavam. Dessa forma, a família Reeves vai lentamente percebendo que o sofrimento da população negra no país ainda não havia acabado, restando ameaças que ainda perdurariam por muitos anos após a abolição da escravatura.

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É por isso que o vilão Esau Pierce (Barry Pepper) acaba servindo como uma manifestação física das mazelas que a população negra ainda teria que enfrentar. Pertencente ao lado derrotado na Guerra Civil, seu ressentimento e sua violência contra os negros representam o racismo que seria manifestado por meio de linchamentos e de leis de segregação racial nos EUA. Para piorar, quando Reeves o reencontra, Pierce está usando um distintivo de Texas Ranger, sendo então um oficial de justiça do estado do Texas.

Quando vê o homem mais perverso que já cruzou seu caminho sendo considerado um representante da lei, Reeves começa a questionar suas próprias escolhas. É aí que ele percebe que as instituições que ele representa e defende também podem ser utilizadas como ferramentas de opressão contra populações negras e indígenas. Um exemplo disso foi mostrado recentemente no filme Assassinos da Lua das Flores, que mostra como um grande criminoso tinha a conivência das autoridades brancas locais para assassinar indígenas e ficar com suas terras.

Esse dilema conduz a um ótimo (e altamente ficcionalizado) episódio final, que leva o nível do suspense às alturas. A trama termina de forma cautelosamente otimista, reconhecendo a violência e os muitos desafios que a população negra ali representada ainda enfrentaria, mas também apresentando Bass Reeves como uma representação da esperança de honra e justiça para uma população historicamente oprimida.

Apesar desse ótimo episódio final, a inconsistência narrativa dos episódios anteriores acabam diminuindo o impacto da história. A conclusão de Homens da Lei: Bass Reeves também consolida a série como uma dramatização da lenda de Bass Reeves, mais preocupada com o que ele representa e com seus possíveis dilemas morais do que com a História real de sua vida. Consequentemente, o espectador que quiser realmente conhecer o personagem histórico terá que recorrer a outras fontes.

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