Crítica: A Mulher na Janela

The Woman in the Window, EUA, 2021



Filme não funciona nem como homenagem nem como modernização de um dos gêneros mais antigos do cinema

★★☆☆☆


É possível dizer que A Mulher na Janela é um bom filme e deve servir como entretenimento descompromissado para, pelo menos, parte do público. Porém, para quem já conhece os filmes e o gênero que a produção tenta homenagear (ou, talvez, modernizar), a tentativa fica muito aquém do esperado. Quase todos os elementos de um grande filme de suspense estão presentes, como ótimos cenários, ótimas atuações e uma ótima trilha sonora, mas o roteiro não faz nada de novo com eles. E há um paradoxo aqui: justamente as pessoas capazes de entender as referências são as que vão ficar menos impressionadas com a produção.

the woman in the window 1Por mais que o diretor Joe Wright conduza as cenas e a trilha sonora da forma correta e consiga manter um ritmo frenético em alguns momentos, o suspense permanece ausente para o espectador mais experiente. Wright utiliza quase todos os truques do gênero, o que significa que é relativamente fácil prever o desfecho de cada situação. Além dos óbvios elementos de Janela Indiscreta, há também claras alusões a Um Corpo Que Cai e a outros filmes da filmografia de Alfred Hitchcock e de Brian De Palma.

Nem o clima geral de paranoia e nem as “meticulosas” pistas deixadas a cada momento são capazes de conquistar o interesse do espectador. Nós já sabemos que nem tudo é o que parece ser e que a maioria das pistas servem apenas para nos distrair com a criação de mirabolantes teorias. E há uma quantidade absurda de “pistas” em A Mulher na Janela: além da protagonista Anna (Amy Adams) sofrer de agorafobia, ela consome os remédios de forma aparentemente irregular e acompanhados de bastante álcool; seu psiquiatra, o Doutor Landy (Tracy Letts, que também é o roteirista da produção), parece ser uma figura nada convencional; seu marido Ed (Anthony Mackie) nunca aparece e só fala com ela pelo telefone; seu inquilino David (Wyatt Russell), que mora em seu porão, tem acesso livre a sua casa; e a família que se muda para a casa da frente parece ser composta apenas por pessoas instáveis.

Ou seja, o roteiro foi criado com o objetivo principal de confundir o espectador. Mas a grande decepção de A Mulher na Janela está em seu ato final, que parece tirado de filmes de terror slasher como os da franquia Pânico. Isso pode ter sido feito de propósito, para incluir as diversas encarnações do gênero, mas destoa completamente da abordagem mais “clássica” do restante da produção. A partir do momento no qual o “vilão” começa a explicar como ele fez tudo o que fez e quais o próximos passos de seu “plano maligno”, a única coisa que o espectador é capaz de sentir é arrependimento.

the woman in the window 2Um ótimo exemplo de suspense moderno que realmente está à altura dos clássicos é o filme Buscando, lançando em 2018. Mesmo com uma premissa extremamente familiar (pai desesperado busca a filha desaparecida), aquele filme consegue inovar e surpreender tanto em termos de linguagem quanto de roteiro. O resultado final é tão satisfatório que não seria uma surpresa se a produção de tornar um novo clássico.

Talvez A Mulher na Janela sirva ao menos para introduzir as novas gerações aos suspenses do passado, preparando-as para voos mais ousados nas mãos de diretores como David Fincher e Denis Villeneuve. O filme também serve como um grande resumo do cinema de suspense produzido entre as décadas de 1940 e 1980, apesar de obviamente não substituir nenhum dos inesquecíveis originais.

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