Crítica: O Mundo Depois de Nós

Leave the World Behind, EUA, 2023



Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★☆☆


Em primeiro lugar, para um filme que apenas explora um determinado cenário e não oferece nenhuma grande resolução, O Mundo Depois de Nós poderia ser bem mais curto. Porém, os temas abordados na trama são bem interessantes e as mais de duas horas de duração servem para um elenco estelar mostrar suas habilidades. Quem também mostra o que sabe é o diretor Sam Esmail, que faz uso de sofisticados ângulos e movimentos de câmera ao longo da produção.

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Ainda assim, assistir a esse filme pode ser uma experiência frustrante, já que nada realmente acontece da forma que o espectador poderia esperar. A rigor, não há cenas de ação, enquanto boa parte das cenas de suspense não resultam em nada. Os momentos mais tensos do filme não possuem grandes consequências, fazendo com que a atração principal aqui sejam os muitos diálogos entre os personagens centrais. A paranoica trama não oferece nem a intensidade de um Efeito Dominó (1996) e nem as terríveis consequências de um Ao Cair da Noite, apesar das semelhanças temáticas com esses dois filmes.

Uma abordagem mais minimalista e teatral poderia beneficiar a temática e ajustar as expectativas dos espectadores, semelhante ao que foi feito em filmes como Reality e Deus da Carnificina. Sem a intromissão de algumas grandiosas cenas de suspense, as interações entre Amanda (Julia Roberts), George (Mahershala Ali), Clay (Ethan Hawke), Ruth (Myha’la), Rose (Farrah Mackenzie) e Archie (Charlie Evans) já seriam o suficiente para contar a história e estabelecer o cenário apocalíptico que eles estão vivendo.

Em um primeiro momento, esse cenário mostra um colapso social provocado por um ataque à infraestrutura digital do mundo, uma ameaça que já foi explorada em documentários como Agentes do Caos e A Arma Perfeita. Essa modalidade de guerra teve início com a Operação Jogos Olímpicos, que resultou no vírus Stuxnet e assustou a comunidade de cybersegurança quando vazou para o mundo externo e infectou muitos milhares de computadores pessoais e profissionais.

Porém, outros fatores podem provocar colapsos semelhantes, como mudanças climáticas, tempestades solares e outros fenômenos naturais. Um dos alertas que O Mundo Depois de Nós tenta fazer é sobre como, diante de uma infraestrutura tão frágil, nós geralmente estamos mais focados em várias formas de entretenimento (como filmes, séries, esportes, etc.) do que em tentar garantir as estruturas, tecnológicas ou não, que garantem as nossas sociedades.

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Mas a mensagem principal que O Mundo Depois de Nós tenta transmitir diz respeito a como lidar com situações como essa. No cenário descrito por George, os possíveis responsáveis pelo colapso estariam contando com o pânico e com a desconfiança entre os cidadãos comuns para dar o golpe final nas instituições de um país e torná-lo uma terra sem lei. Isso se assemelha ao cenário mostrado em Agentes do Caos, no qual agentes estrangeiros tentam incitar a desconfiança no processo eleitoral dos EUA por meio de fake news e teorias da conspiração.

É por isso que a tensão e a desconfiança entre Amanda e Ruth são tão relevantes em O Mundo Depois de Nós. Diante de pessoas que criam inimizades de forma rápida e superficial, como esperar que os cidadãos realmente colaborem em uma situação de emergência? Mas a trama é otimista nesse sentido, mostrando as desavenças sendo resolvidas diante da percepção de uma ameaça muito maior. Dessa forma, o uso da série Friends (“amigos”) na narrativa serve tanto como alerta contra o entretenimento escapista quanto como sugestão para lidarmos com um evento apocalíptico: por meio de alianças e amizades.

O que sobrevivencialistas como Danny (Kevin Bacon) geralmente não entendem é que, ao longo da História da humanidade, foram as pessoas que se organizaram em grandes grupos que prosperaram, implementando soluções confiáveis e duradouras. Se isolar da sociedade e se armar até os dentes não é uma estratégia sustentável no longo prazo. Porém, um contraponto a isso pode ser visto no filme Não Olhe Para Cima, que realça o fato de que não é possível confiar no bom senso das pessoas em geral mesmo quando a humanidade enfrenta uma emergência existencial.

No mais, O Mundo Depois de Nós parece fazer parte de uma nova tradição da Netflix: o filme apocalíptico de fim de ano. Exemplares como Bird Box, O Céu da Meia-Noite, Não Olhe para Cima e Ruído Branco integram essa lista e servem como preparação psicológica para cenários adversos. Outro ponto que esses filmes têm em comum é que, apesar das mensagens relevantes, eles geralmente deixam um pouco a desejar tanto como narrativa cinematográfica quanto como entretenimento.

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