Crítica: Magnatas do Crime – 1ª Temporada

The Gentlemen – Season 1, EUA/Reino Unido, 2024



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★★★★☆


Surpreendentemente, a abordagem que o diretor Guy Ritchie adotou no filme Magnatas do Crime funciona bem melhor como essa série de oito episódios. Além da típica coletânea de “grandes sucessos” do diretor (envolvendo gangsters, ciganos, lutas de boxe, etc.), a trama também conta com um ótimo desenvolvimento de personagens e uma hipnotizante cinematografia. A narrativa não apenas faz uma ótima combinação de ação, comédia e suspense, mas também prende o espectador ao se manter relativamente imprevisível.

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Magnatas do Crime também surpreende ao fazer muito bem algo no qual poucas séries acertam: manter um arco narrativo central ao longo da temporada enquanto se preocupa com o arco dramático de cada episódio. Dessa forma, podemos ver a evolução da parceria entre o aristocrata Eddie Horniman (Theo James) e a mafiosa Susie Glass (Kaya Scodelario) ao longo de vários meses, durante os quais eles vão lidando com inúmeros imprevistos e personagens excêntricos que dificultam suas vidas.

O formato de série ajuda a trama a superar algumas das principais limitações do filme, cuja narrativa não parecia ter tempo ou disposição para ir até as últimas consequências em determinados momentos. A série também inova ao introduzir um inquietante conflito entre os dois protagonistas. Enquanto Susie está interessada em manter o status quo, Eddie quer que ela remova as atividades ilegais que ele encontrou na propriedade da família depois da morte de seu pai.

Promessas são feitas e eles começam a colaborar no sentido de viabilizar essa grande mudança. Com a ajuda de uma ótima química entre Theo James e Kaya Scodelario, os protagonistas formam uma aliança que consegue facilmente manter o interesse do espectador. Isso é válido inclusive nos episódios finais, quando fica claro que algumas promessas não serão cumpridas e o nível de desconfiança entre Susie e Eddie começa a subir perigosamente. Também é nesse ponto que a série atinge seus mais altos níveis de suspense e imprevisibilidade.

A história de Magnatas do Crime também encontra tempo para tecer comentários sobre a natureza da nossa “civilização” em oposição à “selva” das ruas. Mais que isso, a trama sobrepõe a rica e privilegiada herança cultural da aristocracia britânica com a ganância e o desespero de pessoas comuns, que também querem ter seus próprios “impérios” ou que estão apenas lutando pela sobrevivência em um mundo injusto e desigual. No fim das contas, todos os personagens estão lutando por alguma forma de poder.

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Em meio a essa intensa disputa por poder sobre um império de produção e tráfico de drogas, Magnatas do Crime realça a jornada de aprendizado e amadurecimento de Susie e Eddie. Isso faz com que a série lembre filmes como O Poderoso Chefão e O Capital, além de tocar em vários dos temas explorados em profundidade por séries como Yellowstone e Succession. Indo além, a série faz ótimas representações de duas pessoas que se destacam dentre muitas outras graças a suas genuínas capacidades de liderança.

Tanto Eddie quanto Susie poderiam ser apenas dois herdeiros tentando emular seus pais enquanto vão improvisando e imaginando o que eles fariam (que é basicamente o que ocorre ao longo das quatro temporadas de Succession). Porém, os dois personagens apresentam altos graus de inteligência emocional, o que os habilita a seguir planos de forma disciplinada e a empregar seus recursos de forma calculada para lidar com os problemas e imprevistos que vão aparecendo.

Isso fica ainda mais claro quando os comparamos com seus irmãos, Freddy Horniman (Daniel Ings, que está fantástico no papel) e Jack Glass (Harry Goodwins), que causam vários problemas devido a seus comportamentos impulsivos e inconsequentes. O caso de Freddy é significativamente mais grave, já que ele está constantemente tentando se mostrar merecedor de respeito enquanto, na prática, se mostra incapaz de calcular riscos e prever as consequências de suas ações.

Assim como o ingênuo Jimmy (Michael Vu), Freddy vai simplesmente seguindo seus impulsos na esperança das coisas darem certo no final. Isso também realça o fato de que os piores momentos de Eddie e Susie ocorrem justamente quando eles se deixam levar pelas emoções e tomam decisões precipitadas, complicando ainda mais situações que já estavam bem complicadas. Eles só se recuperam quando voltam a canalizar seus sentimentos negativos de forma produtiva, evitando a imprevisibilidade causada por explosões de raiva ou outras emoções.

Tudo isso é feito de forma tão insólita quanto divertida, com destaque para as ótimas atuações e para os diálogos altamente estilizados. O grupo de diretores e roteiristas com os quais Guy Ritchie colabora em Magnatas do Crime faz um ótimo trabalho ao capturar parte da magia dos primeiros trabalhos do diretor. Além de superar o filme original, a série expande as temáticas abordadas por Ritchie ao longo de sua obra, oferecendo mais um caminho possível para o futuro do cineasta e presenteando seus fãs com mais uma história intensa e marcante.

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