Crítica: Magnatas do Crime

The Gentlemen, Reino Unido/EUA, 2019



Magnatas do Crime aplica mais uma vez a fórmula Guy Ritchie de filmes de gangster, mas o resultado não impressiona

★★★☆☆


Magnatas do Crime funciona quase como uma homenagem aos trabalhos mais marcantes do diretor Guy Ritchie. Essa nova entrada no gênero de “filmes de gangster no submundo de Londres dirigidos por Guy Ritchie” não está à altura das anteriores, mas as referencia e reaproveita algumas de suas ideias. O resultado é um filme que peca apenas por ter menos comédia e mais conversa do que o ideal. Ou talvez a fórmula já esteja ficando gasta.

Ainda assim, Magnatas do Crime serve para introduzir novatos ao universo de Ritchie e levá-los a procurar pérolas como Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch: Porcos e Diamantes, ou mesmo ao divertido RocknRolla: A Grande Roubada. Além de personagens excêntricos e diálogos estilizados, o filme traz de volta cockneys, plantações de maconha, academias de boxe, jovens ricos/viciados precisando de resgate e o uso nada convencional dos porcos de uma fazenda, além de alguns outro elementos comuns na filmografia do diretor.

Apesar da narrativa ser mais lenta do que a dos filmes anteriores, ela funciona razoavelmente bem ao se ancorar na narração do investigador da imprensa Fletcher (Hugh Grant), um sujeito inescrupuloso que pretende chantagear o “barão da maconha” Michael Pearson (Matthew McConaughey) e seu braço direito Ray (Charlie Hunnam). A escalação de Grant como Fletcher tem seu próprio tom humorístico, já que o ator passou boa parte dos últimos 20 anos combatendo a invasiva espionagem de tabloides ingleses nas vidas íntimas de celebridades.

Ritchie poderia ter aproveitado melhor a narração não-confiável de Fletcher, ou pelo menos diminuído seu tempo de tela, para dedicar mais espaço para desenvolver melhor outros personagens e situações. Por exemplo, Snatch: Porcos e Diamantes tinha ainda mais personagens que Magnatas do Crime, mas cada núcleo narrativo desfrutava de tempo o suficiente para desenvolver a própria dinâmica dentro do filme, rendendo cenas que até hoje são favoritas dos fãs.

As performances de Hunnam, Grant e McConaughey estão impecáveis, a ponto de serem elas que mantêm o espectador entretido durante as cenas que se alongam mais do que deveriam. Três outros que também estão hipnotizantes em tela são Jeremy Strong, que interpreta o esnobe e afetado magnata Matthew Berger, Michelle Dockery, que faz a esposa cockney do americano Pearson, e Colin Farrel como um treinador de boxe que não está acima de se envolver em algumas atividades criminosas. Com um roteiro mais refinado, esse elenco entregaria um pequeno clássico.

Magnatas do Crime não é um Guy Ritchie “obrigatório”, mas certamente serve como duas boas horas de entretenimento, além de transportar os fãs de seu estilo para uma época na qual sua abordagem era uma novidade moderna, imprevisível e empolgante. Porém, ao contrário do que fez em RocknRolla: A Grande Roubada em 2008, o diretor falha em inserir novidades o suficiente para justificar a insistência na fórmula. A propósito, uma continuação do filme de 2008 seria muito mais bem-vinda.

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