Loki e os Limites do Universo Marvel
Sob o ponto de vista do MCU, Loki representa mais um triunfo de Kevin Feige e dos demais envolvidos na franquia, expandindo o universo cinematográfico de forma divertida e imprevisível. Porém, sob um ponto de vista mais abrangente, a série está longe de alcançar o nível de qualidade que é comum nas plataformas de streaming da concorrência. O mesmo pode ser dito sobre as duas outras séries da Marvel lançadas até agora no Disney+, WandaVision (resenha aqui) e Falcão e o Soldado Invernal (resenha aqui), que pelo menos conseguiram abordar temas sociais muito interessantes e relevantes, além de terem que lidar com vilões mais “concretos”.

Essa abordagem faz com que os episódios não possuam uma estrutura própria e só tenham sentido no arco narrativo da temporada. É comum que as séries atuais tenham esse tipo de narrativa, deixando a impressão de que cada temporada conta uma única história. Porém, na maioria das vezes, os roteiristas também se esforçam para que cada episódio tenha um arco narrativo próprio e completo, deixando o espectador simultaneamente satisfeito com o episódio da semana e ansioso pelos desenvolvimentos da semana seguinte. No caso das séries da Marvel, cada episódio deixa apenas a ansiedade pelo o que está por vir.
Esse problema seria muito menos grave se todos os episódios fossem lançados no mesmo dia, o que permitiria que cada espectador estabelecesse o próprio ritmo de consumo da história. Isso funcionou muito bem nas séries da Marvel lançadas anteriormente na Netflix, e não há porque achar que seria diferente no Disney+. Se os executivos da Disney preferem o modelo de lançamento semanal para evitar a perda de assinantes, eles precisam garantir que Feige e os demais criadores roteirizem os episódios para serem lançadas dessa forma, e não como “filmes serializados”.

Para se ter uma ideia do tamanho do abismo basta lembrar que a Netflix possui séries como The Witcher (comentário aqui) e La Casa de Papel (crítica aqui); o Prime Video tem The Boys (resenha aqui) e Invencível (crítica aqui); e a HBO Max possui Lovecraft Country (resenha aqui) e Watchmen (2019), sobre a qual escrevi aqui. Veja que a lista se limita a produções de ação e fantasia, pois nem seria justo comparar as séries do MCU com dramas como The Crown (resenha aqui), Mare of Easttown (crítica aqui) ou Succession (resenha aqui).
No caso de Loki, há vários episódios dedicados apenas ao desenvolvimento dos personagens por meio de diálogos extremamente expositivos. No episódio final, por exemplo, ao invés de uma grande batalha, o que se tem é um grande diálogo, que serve para explicar a natureza do multiverso que será explorado nos próximos filmes. O roteiro é bem afiado, os personagens são envolventes e as atuações são fantásticas, mas a história ainda é composta muito mais por promessas de grandes aventuras do que por grandes aventuras em si. Talvez essa seja exatamente a proposta de Feige para as séries do MCU, mas geralmente esses tipos de promessas são feitas em trailers e em outros tipos de vídeos promocionais, e não em “filmes serializados” com várias horas de duração.







