Crítica: Zona de Combate

Outside the Wire, EUA, 2021



Filme consegue prender a atenção do espectador mesmo sem apresentar nada muito empolgante ou original

★★★☆☆


Zona de Combate se esforça para oferecer um comentário político-filosófico sobre a moralidade da guerra, mas tudo o que ele consegue prover são duas horas de cenas de ação boas o suficiente para manter o espectador entretido. As reflexões sobre a moralidade de se considerar perdas civis como danos colaterais aceitáveis e até sobre a política externa dos EUA estão presentes, mas não passam de penduricalhos ao redor da narrativa principal.

A dinâmica entre o tenente Thomas Harp (Damson Idris) e o capitão Leo (Anthony Mackie) lembra a dinâmica entre os protagonistas de Sicario: Terra de Ninguém (comentário aqui), com o personagem mais experiente levando o “novato” por uma jornada que ele não sabe do que se trata e nem qual função ele está exercendo. A diferença é que o outro filme está muito mais interessado nos aspectos políticos da história do que na ação em si.

Zona de Combate também lembra o ótimo Spectral. Ambos são filmes de guerra com elementos de ficção científica ambientados no Leste Europeu em um futuro próximo, mostrando seus protagonistas em sérios apuros atrás das linhas inimigas. Nesse caso, a principal diferença é que Spectral tem um ritmo muito mais acelerado e empolgante, resultando em um filme mais satisfatório. Os elementos de ficção científica dos dois filmes são bem diferentes, mas ambos lidam com problemas causados pela aplicação de novas tecnologias em zonas de guerra.

Isso também aproxima o filme do quinto episódio da terceira temporada de Black Mirror, intitulado Engenharia Reversa. Nele, a tecnologia implantada na cabeça de um soldado apresenta um defeito e ele passa a enxergar a guerra com outros olhos. Algo semelhante ocorre com Harp em Zona de Combate, que descobre a diferença entre matar pessoas por meio de drones (que ele controlava a muitos quilômetros de distância) e matá-las pessoalmente em um campo de batalha. Além disso, ele passa a conferir em primeira mão o resultado real dos ataques como os que ele realizava friamente de sua tranquila estação de trabalho.

Engenharia Reversa também compartilha com Zona de Combate a preocupação com a desumanização da guerra, seja por meio de modificações feitas nos soldados ou pela utilização de robôs com inteligência artificial como combatentes autônomos. Esse é o caso do capitão Leo, um ciborgue altamente capaz que possui seus próprios pontos de vista sobre a moralidade da guerra e as regras de combate sob as quais eles estão operando.

Esse é um papel que serve perfeitamente para Anthony Mackie aplicar seu ótimo senso de humor e mostrar sua viabilidade como portador do escudo do Capitão América no MCU, possibilidade que só será confirmada na série Falcão e o Soldado Invernal. Já Damson Idris está ótimo no papel de Harp, mostrando tanto seu potencial como herói de ação quanto um lado mais convincentemente dramático. É um trabalho que pode abrir portas para o ator, inclusive em franquias de super-heróis.

Zona de Combate poderia ter se beneficiado de uma história mais enxuta e menos diálogos expositivos, focando na ação desenfreada e nas possibilidades oferecidas pelas tecnologias apresentadas. Ainda assim, o filme oferece um ótimo passatempo e até alguma reflexão, apesar de não ser nada muito profundo. Nesse sentido, comentários mais relevantes podem ser encontrados em filmes como Morte Limpa e Decisão de Risco.

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