Crítica: Resgate 2
Extraction II, EUA, 2023
Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Superando o filme original em praticamente todos os aspectos, Resgate 2 surpreende em diversos quesitos, transformando o que poderia ser apenas mais um filme de ação para passar o tempo em uma experiência capaz de abalar os nervos do espectador e até fazê-lo refletir sobre certos assuntos. Há aqui uma bem realizada mistura de John Wick com Sicário: Dia do Soldado, combinando o fantástico trabalho de dublês e coreógrafos de ação com um alto nível de suspense e tensão.
O grande trunfo dessa continuação é conseguir combinar os muitos elementos de ação em um ritmo frenético que sempre se sustenta, deixando o espectador “cansado” sem ser realmente cansativo. Essa sustentação se dá devido à ótima construção do suspense. A questão em cada pequena ou grande batalha colocada na tela não é se Tyler Rake (Chris Hemsworth) vai ou não derrotar o inimigo da vez, mas sim o que vai acontecer se ele superar o desafio.
No longo plano sequência da fuga da prisão, o perigo pode vir a qualquer momento, de qualquer lado. Assim como Tyler, o espectador precisa estar preparado para qualquer coisa, mas é sempre surpreendido pela persistência e resiliência dos vilões da vez. Isso faz de Resgate 2 uma experiência incrivelmente imersiva, que merece ser “vivida” nas maiores telas e com o melhor sistema de som possíveis. Se tivesse sido lançado nos cinemas, é bem provável que os estúdios envolvidos teriam um grande sucesso de bilheteria em suas mãos.
Quando a ação cessa e a calmaria chega, tanto os personagens quanto o espectador têm alguns momentos para descansar e se recuperarem. São nesses intervalos que os personagens vão sendo desenvolvidos e alguns dramas são estabelecidos, o que é feito sem deixar o nível de tensão cair e preparando o terreno para outra grande sequência de ação e suspense.
O roteiro de Resgate 2 é quase tão genérico quanto o de Resgate, mas dessa vez a escrita e as ótimas atuações se combinam para dar uma boa profundidade emocional e psicológica aos personagens. É isso o que torna os irmãos Nik (Golshifteh Farahani) e Yas Khan (Adam Bessa) dignos de protagonizarem seu próprio spin-off, já que, além da ótima química, eles também se mostram perfeitamente capazes de se virarem no campo de batalha.
O roteiro também tenta explorar os limites psicológicos de Tyler, já que, enquanto ele é um mercenário destemido e eficaz, seu passado é marcado por um momento no qual ele não teve coragem o suficiente para enfrentar um grande desafio emocional. O ato de “covardia” ainda o assombra e é um dos elementos que o levam a dar pouco valor a própria vida. Apesar de interessante, esse arco dramático ainda não funciona tão bem e merece ser melhor trabalhado em possíveis continuações.
Por outro lado, o arco dramático que mostra a possível radicalização do adolescente Sandro (Andro Japaridze) consegue mostrar como as pessoas mais jovens podem ser seduzidas por discursos extremistas. Mesmo tendo sua mãe e sua irmã a seu lado, sua rebeldia e o péssimo exemplo de seu pai o levam a começar a considerar a organização criminosa Nagazi como sua verdadeira família. De repente, as ações de um adolescente triste e confuso têm consequências mortais para todos os envolvidos.
Fica claro que Sandro está correndo o risco de dar continuidade a um grande ciclo de trauma e violência. Seu pai e seu tio, que é o vilão Zurab Radiani (Tornike Gogrichiani), foram traumatizados tanto pelas violências que sofreram em casa e nas ruas quanto pela violência causada pela Guerra Civil na Geórgia. Isso os torna homens obcecados com violência e vingança, sempre permitindo que a raiva cega dite suas ações e liderando uma organização que é essencialmente um grupo de fanáticos com uma forte pulsão de morte. Mais que isso, eles tentam garantir que seus traumas sejam passados para as gerações seguintes.
Esses temas se juntam a cenas de ação tão alucinantes quanto tecnicamente impressionantes para tornar Resgate 2 um filme muito mais redondo e satisfatório que o primeiro. Agora, com a adição de nomes como Idris Elba e Olga Kurylenko, a franquia tem a oportunidade de alçar voos ainda mais altos e continuar na trajetória de excelência técnica e narrativa traçada pelo coordenador de dublês e diretor Sam Hargrave.
