Crítica – Furiosa: Uma Saga Mad Max

Furiosa: A Mad Max Saga, Austrália/EUA, 2024



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Ao invés de repetir a ação incessante de Mad Max: Estrada da Fúria, Furiosa: Uma Saga Mad Max está mais próximo do estilo narrativo da trilogia original. Mais uma vez, o diretor George Miller reimagina elementos de Mad Max, Mad Max 2: A Caçada Continua e Mad Max: Além da Cúpula do Trovão para forjar algo completamente novo e inegavelmente empolgante.

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Dessa vez, ao invés da ação frenética que se passa ao longo de alguns poucos dias, o que temos é uma história épica que cobre dezesseis anos da vida de Furiosa (Alyla Browne/Anya Taylor-Joy). Ela vai sofrendo perdas e sobrevivendo até chegar no ponto em que a conhecemos em Estrada da Fúria.

Assim, ao invés de ser estruturado como um mega filme de ação, Furiosa é estruturado como um “faroeste sobre rodas”, mostrando a luta da protagonista contra um vilão que lhe custou tudo: uma infância, uma mãe, um amor, um braço e um futuro. As (muitas) cenas de ação estão presentes, mas a trama está muito mais interessada na saga pessoal e no processo de amadurecimento da personagem título.

Talvez seja por isso que o uso de CGI seja bem menos sútil do que em Estrada da Fúria. Existe aqui apenas uma grande perseguição com o mesmo nível de grandiosidade e imersão que o filme anterior, com a novidade da inclusão de “veículos voadores”. As demais cenas de ação funcionam muito bem, mas é possível perceber as formas pelas quais elas são complementadas (ou viabilizadas) por efeitos especiais.

Nos momentos finais, ao invés de uma grandiosa perseguição típica da franquia, o filme termina com um embate típico de faroestes. A vingança de Furiosa também se torna uma batalha para que ela não seja completamente consumida pelo ódio e não se torne algo semelhante ao seu algoz. A “luta” final é muito menos uma luta e muito mais um enfrentamento entre Furiosa e todos os traumas que marcaram a sua vida.

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O senhor da guerra Dementus (Chris Hemsworth) não possui os mesmos níveis de carisma e capacidade de manipulação de Imortan Joe (Lachy Hulme), sendo incapaz de inspirar a mesma devoção fanática que o vilão do filme anterior. Marcado pelo niilismo e pela falta de esperança, seu objetivo é a guerra em si. É a guerra que lhe dá a ilusão de que ele é importante e de que está fazendo algo com significado. É isso o que o leva a iniciar um conflito altamente destrutivo e que dificilmente pode ser vencido por qualquer um dos lados.

Apesar de algumas vitórias, Dementus não está realmente conquistando nada. Sem a menor capacidade de liderança, ele não enxerga nada além de si próprio. Ele não é capaz de gerenciar os recursos aos quais tem acesso e nem as pessoas que supostamente estão sob o seu comando.

Como muitos líderes medíocres e narcisistas, o que ele quer é a ilusão de controle, o poder pelo poder, sem necessariamente se responsabilizar pelas coisas que acontecem em seu domínio. Para ele, tudo o que dá certo, dá certo por causa dele; e tudo o que dá errado, dá errado por causa dos outros. Ele não está interessado em ser um líder, mas apenas em chegar ao topo do poder por pura ambição e vaidade.

Nesse papel, Hemsworth mais uma vez mostra toda a sua desenvoltura para interpretar vilões, o que ele já havia feito em filmes como Maus Momentos no Hotel Royale e Spiderhead. Seu Dementus lembra tanto a insanidade de um Coringa quanto a perversidade do Lorde Humungus (Kjell Nilsson), vilão de Mad Max 2.

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Furiosa, por outra lado, não abandona a esperança e encontra algo pelo qual ela pode lutar orgulhosamente. Ela poderia, assim como Dementus, deixar que seus traumas definissem quem ela é e a transformassem em algo monstruoso. Ao invés disso, ela tenta ser uma força positiva nas vidas das pessoas. Ela vai além da vingança e caminha em direção aos épicos eventos de Mad Max: Estrada da Fúria.

Agora, Furiosa e Estrada da Fúria (nessa exata ordem) formam uma perfeita sessão dupla, como se fossem um único filme dividido em duas partes. Estrada da Fúria ainda é o prato principal, mas a íntima jornada mostrada em Furiosa é épica o suficiente para sustentar a si própria. Além do passado da protagonista e do intenso vilão, o filme também introduz o Pretoriano Jack (Tom Burke), personagem que poderia facilmente protagonizar o próprio filme na franquia.

De acordo com George Miller, cada filme da franquia Mad Max é pensado como uma história mitológica contada ao redor de fogueiras no futuro pós-apocalíptico da humanidade. São histórias sobre heróis cujas ações mantêm acessas as fagulhas de esperança e bondade que precisamos para seguir em frente. Essas histórias são passadas de geração em geração pelos Historiadores (ou “homens da História”, do inglês, History Men). É por isso que Estrada da Fúria termina com uma frase atribuída ao Primeiro Historiador:

Para onde devemos ir, nós que vagamos por essa terra arrasada, em busca do que há de melhor em nós?

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