Crítica – Quarteto Fantástico: Primeiros Passos
The Fantastic Four: First Steps, EUA, 2025
Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Dentre os muitos “sabores” possíveis para os filmes de super-heróis, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos faz a interessante escolha de combinar drama com uma estilizada ficção científica. A ação e o humor estão bem presentes, mas o núcleo principal da narrativa é um drama familiar desencadeado por uma ameaça cósmica, deixando o filme no meio termo entre a animação Os Incríveis e a emocionante ficção científica de A Chegada. Essa não é uma história de origem, mas sim o momento no qual o Quarteto Fantástico enfrenta seu maior desafio até o momento, que vem acompanhado de um grande dilema moral.
Ao ambientar a trama em um universo alternativo (Terra-828), o roteiro não precisa lidar com todo o peso dos mais de trinta filmes do MCU, apesar de ficar claro que no futuro próximo essa equipe de super-heróis irá se juntar às equipes do universo principal da franquia (Terra-616). O mundo dessa versão do Quarteto Fantástico faz uma combinação de nostalgia com alta tecnologia, lembrando a ambientação de filmes de ficção científica dos anos 1950 e 1960, como os clássicos O Dia em que a Terra Parou e Planeta Proibido.
Curiosamente, Reed Richards (Pedro Pascal), Sue Storm (Vanessa Kirby), Johnny Storm (Joseph Quinn) e Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach) formam uma família-celebridade conhecida no mundo inteiro. Porém, ao invés de escândalos e dramas mesquinhos, eles são conhecidos por serem cientistas dotados de super-poderes. Graças a isso (e ao intelecto avançado de Reed Richards), eles exercem grandes papéis como liderança e como protetores da humanidade. Essa premissa é tão sincera e ingênua quanto a do recente Superman, com a família do Quarteto Fantástico utilizando seus poderes para servir como um exemplo e como uma fonte de inspiração para as pessoas em geral.
O filme mostra essa família e seu mundo passando por inúmeras mudanças, provocadas tanto pela gravidez de Sue quanto pela chegada do vilão Galactus (Ralph Ineson), que é precedido por sua arauta, a Surfista Prateada (Julia Garner). Galactus se encaixa muito bem nesse nostálgico mundo de ficção científica, sendo um gigante do espaço que chega para “devorar” o planeta Terra. Já a Surfista Prateada cumpre bem o seu papel e tem seu principal arco dramático das HQs representado aqui, apesar da personagem não ser tão bem aproveitada na segunda metade da produção.
Nesse universo alternativo, não é o clássico Norrin Radd que se torna o Surfista Prateado, mas sim a sua amante Shalla-Bal. Provavelmente, esse argumento do universo alternativo também será utilizado para justificar a volta de Robert Downey Jr. ao MCU, dessa vez interpretando o vilão Dr. Destino em Vingadores: Destino e Vingadores: Guerras Secretas.
Com menos de duas horas de duração, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos consegue manter um surpreendente ritmo narrativo. A trama se move de forma ágil e envolvente, ainda que não abra mão de explorar a profundidade emocional dos personagens nos momentos mais dramáticos. É possível dizer que o filme segue muito mais a estrutura de um drama de ficção científica do que a rígida estrutura de um filme de super-heróis. O resultado é que o espectador mal percebe o tempo passar até chegar na convencional batalha do ato final.
Nesse meio tempo, vários saltos temporais ocorrem. O filme mostra tanto o momento no qual Sue descobre que está grávida quanto o momento do parto, além dos primeiros meses de vida de Franklin Richards (Ada Scott). Esse personagem pode ser muito importante para o futuro da franquia, já que ele pode ser uma espécie de Legion do MCU. Além disso, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos planta as sementes para o que pode ser uma volta às histórias de escopo mais épico dos filmes da Marvel Studios.
Recentemente, tanto Capitão América: Admirável Mundo Novo quanto Thunderbolts* recuperaram parte da linha narrativa geral do MCU, conectando pontas que ficaram um pouco soltas ao longo dos últimos anos. A única ponta solta que resta é o lado mais mágico da franquia, já que os eventos de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis ainda não tiveram grandes repercussões no universo compartilhado. Por outro lado, a trama de Eternos deve ficar solta mesmo, já que o filme e os personagens não foram tão bem recebidos pelo público.
Agora, Vingadores: Destino tem a missão de unir os Novos Vingadores apresentados em Thunderbolts* com o novo Capitão América (Anthony Mackie) de Admirável Mundo Novo e com o Quarteto Fantástico que acabou de ser introduzido, além de trazer de volta o Doutor Estranho e Shang-Chi. Nas HQs, Reed Richards já foi um dos líderes dos Vingadores, o que pode se repetir no cinema, já que o principal vilão da nova fase será o principal vilão do Quarteto Fantástico. Isso tornaria o embate entre o Reed Richards de Pedro Pascal e o Doutor Destino de Robert Downey Jr. o conflito central dos próximos filmes dos Vingadores.
Por enquanto, o público fica com Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, uma aventura tão leve quanto envolvente. Essa já pode ser considerada a melhor adaptação do Quarteto Fantástico para o cinema, apesar dos dois filmes lançados nos anos 2000 ainda terem seus fãs. Em Primeiros Passos, o grupo é reintroduzido tanto com a leveza dos quadrinhos quanto com a seriedade que se espera do lado mais épico e grandioso do MCU.