Crítica: M3gan

M3gan, EUA, 2022



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Em Maligno, última incursão do diretor James Wan no subgênero do terrir, a trama é conduzida de forma razoavelmente séria durante a maior parte do tempo, até uma grande revelação ser feita e o filme se tornar uma loucura de ação e momentos insólitos. Em M3gan, no qual Wan atua como produtor, a diversão começa já nos primeiros minutos e se mantém constante até o fim da projeção. A direção de Gerard Johnstone e o roteiro de Akela Cooper não perdem nenhuma oportunidade de fazer o espectador cair na gargalhada e se divertir com a inquietante situação na qual os personagens estão.

m3gan 1A maior parte das gargalhadas provocadas por M3gan são do tipo “rindo de nervoso”. Pode-se dizer que a situação começa a sair de controle a partir do momento no qual a engenheira robótica Gemma (Allison Williams) resolve testar a “boneca” M3gan (Amie Donald/Jenna Davis) com sua sobrinha Cady (Violet McGraw), que acabou de perder os pais em um acidente de carro. Obcecada com o trabalho e sob pressão para entregar um projeto, a engenheira não estava preparada para ter uma criança emocionalmente abalada se tornando o centro de sua existência e exigindo o máximo de sua atenção.

Tentando resolver dois problemas de uma só vez, Gemma não pensa nas implicações de sua decisão. Em primeiro lugar, dado que M3gan é uma inteligência artificial (IA) programada para aprender com os dados fornecidos pela criança e pela Internet, ela deveria ter realizado mais testes para averiguar como seu comportamento evoluiria ao longo do tempo. No reboot da franquia Brinquedo Assassino, que possui uma premissa bem semelhante, a IA disponibilizada no mercado ao menos possui um dispositivo de segurança (que, obviamente, acaba sendo desabilitado).

Por outro lado, ela também não pensa em como isso pode afetar Cady. Se em um momento de fragilidade durante a infância o único conforto emocional que ela encontra é provido por uma IA, como isso afetaria o restante de sua vida? Como ela processaria as memórias afetivas criadas com M3gan? Como ela lidaria com esse “membro da família” que não envelhece e cuida de todas as suas necessidades? Mesmo se M3gan não recorresse a métodos homicidas, essas perguntas já dariam uma história interessante, como a mostrada no filme O Homem Ideal.

m3gan 2Mas esses questionamentos são apenas o pano de fundo de M3gan, que está mais interessado em divertir o espectador. Alguns dos momentos já podem ser considerados icônicos, como a “dancinha pré-assassinato” e quando a boneca canta um determinado sucesso da música pop, se referindo ao fato de seu esqueleto ser feito de titânio. Há inclusive quem diga que o filme não é nada mais do que um produto feito para viralizar nas redes sociais, mas a trama se justifica muito bem graças a ótimas atuações, a perturbadora caracterização de M3gan e a momentos tão inquietantes quanto engraçados.

M3gan pode não ser o slasher ultraviolento que muitos esperavam, mas é uma comédia de terror como poucas outras, sendo extremamente eficiente e eficaz no que se propõe a fazer. O filme é uma válida entrada na lista de produções sobre pessoas tentando lidar com os percalços da condição humana por meio da tecnologia e descobrindo que, no fim das contas, as tecnologias criadas por nós apenas refletem as nossas limitações.

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