Crítica: Liga da Justiça de Zack Snyder
Zack Snyder’s Justice League, EUA, 2021
Produção é um grande presente para os fãs e funciona muito bem como minissérie
★★★★☆
Seria injusto avaliar Liga da Justiça de Zack Snyder como um filme de longa metragem. Com quatro horas de duração e devidamente dividido em episódios, a produção funciona muito bem como minissérie e é assim que pretendo avaliá-la. Dito isso, é inegável que essa nova versão apresenta melhorias significativas em relação à Liga da Justiça (crítica aqui), mas ela também vem com seus próprios problemas. A principal melhoria é que, no geral, a nova versão é bem mais satisfatória que o filme de 2016.

Snyder também conseguiu equilibrar melhor os momentos de humor, que dessa vez não parecem forçados e inseridos de última hora. O principal beneficiado por isso foi Barry Allen/Flash (Ezra Miller), cujo bom humor foi preservado de forma ideal. Outro beneficiado foi Arthur Curry/Aquaman (Jason Momoa), que ficou apropriadamente mais sério nessa versão. Já as interações entre Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck) e Diana Prince/Mulher-Maravilha (Gal Gadot) tiveram sutis alterações que também melhoraram a dinâmica da dupla. Em termos dramáticos, O Superman de Henry Cavill não teve grandes melhorias, a não ser por um uniforme icônico dos quadrinhos.
Talvez o personagem que mais se beneficiou dessa longa reimaginação foi Victor Stone/Cyborg (Ray Fisher), que ganhou muito mais profundidade e dramaticidade tanto individualmente quanto no relacionamento com seu pai, Silas (Joe Morton). De certa forma, o personagem se torna a âncora dramática da produção, pois sua jornada se confunde intimamente com a ameaça existencial que ele e os outros heróis estão enfrentando.
Mas Liga da Justiça de Zack Snyder também traz de volta alguns dos defeitos do diretor. Na tentativa de adicionar um tom épico à narrativa, ele mais uma vez se agarra ao uso de cenas em câmera lenta combinadas com música dramática, criando momentos desnecessariamente grandiosos que servem apenas para estender o tempo de duração. Considerando que isso não contribui em nada para a narrativa, fica a sensação de que é uma grandiosidade inserida apenas em nome da grandiosidade em si. Dado que o arco narrativo e a ação são divertidos o suficiente, esses esforços são completamente desnecessários.
Além disso, muitos dos diálogos seguem absurdamente expositivos e os efeitos especiais nem sempre funcionam, causando a impressão de estarmos assistindo a uma animação em CGI típica de jogos de vídeo game. Talvez a exposição seja ainda mais irritante aqui porque já conhecemos a história e já passamos por essa exposição no filme original. Esse novo corte pode ter várias surpresas em termos de visual e personagens, mas a história contada é basicamente a mesma, com algumas pequenas alterações.

Paradoxalmente, se analisarmos Liga da Justiça de Zack Snyder como longa metragem, ele é um tanto quanto inferior ao Liga da Justiça original por conter muito mais subtramas e penduricalhos do que um único filme deveria conter. Porém, o formato de minissérie permite que Snyder adicione todos os floreios e easter eggs aos quais ele tem direito. As participações de personagens como Caçador de Marte (Henry Lennix), Coringa (Jared Leto), Deathstroke (Joe Manganiello) e Darkseid (Porter) servem apenas para encher os olhos dos fãs e preparar o terreno para as próximas aventuras do grupo. O grande vilão dessa produção segue sendo O Lobo da Estepe (Ciarán Hinds).
Apesar do sucesso desse remake, é de se esperar que a prática não vire moda. O DCEU teria se beneficiado mais ainda se Snyder tivesse seguido em frente e contado uma nova história da Liga da Justiça, dessa vez sem intromissões criativas. Um exemplo de como isso pode resultar em sucesso está na sub-franquia do personagem Wolverine, que começou com um filme absurdamente decepcionante e seguiu em frente até ser concluída com Logan (crítica aqui), um dos filmes de super-heróis mais aclamados de todos os tempos, a ponto de ser indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.







