Crítica: The Flash
The Flash, EUA, 2023
Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Depois de anos de polêmicas, reviravoltas e até alguns crimes possivelmente cometidos por seu astro principal, a experiência de finalmente assistir a The Flash vem cheia de complicações. Além dos “dramas” que afetaram a produção, o produto final também vem com seus próprios aspectos questionáveis. Ainda assim, o filme é bem mais divertido do que se poderia esperar e traz alguns dos melhores momentos de comédia e de ação de todo o DCEU.
A trama da produção é muito mais uma grande aventura de Barry Allen/Flash (Ezra Miller) do que a épica história que muitos fãs esperavam. A aclamada animação Liga da Justiça: Ponto de Ignição obviamente serve como inspiração, mas seu lado mais brutal e mais épico fica de fora. Se em Ponto de Ignição Allen chega a um universo no qual os maiores heróis da DC estão travando uma sangrenta “guerra civil”, em The Flash o que ele encontra é um universo no qual a maioria dos heróis do DCEU sequer existe.
Isso não seria um problema se esse novo universo não estivesse prestes a ser atacado pelo General Zod (Michael Shannon), kryptoniano que foi o vilão de O Homem de Aço. Diante disso, Barry Allen passa boa parte do filme tentando “improvisar” uma nova Liga da Justiça para salvar o dia. Depois de vários imprevistos, ele consegue juntar um Batman/Bruce Wayne (Michael Keaton), uma Supergirl (Sasha Calle) e uma outra versão de si próprio, também interpretada por Miller.
Apesar do apelo nostálgico desse Batman de Keaton, todos esses personagens inserem um nova energia no DCEU, que se distancia cada vez mais do clima sério e sombrio estabelecido inicialmente por Zack Snyder. Além das ótimas e divertidas interações entre eles, as cenas de ação protagonizadas pelos Batmans, pelos Flashes e pela Supergirl fazem jus aos pontos fortes de cada um desses personagens, mesmo quando os efeitos especiais não colaboram com o visual.
Os efeitos especiais são os elementos mais inconsistentes de The Flash. Na hora de mostrar as interações entre dois personagens interpretados pelo mesmo ator, o resultado é tão bom que nos esquecemos do “jogo de espelhos” exigido pelas cenas. Porém, em algumas cenas de ação e em uma homenagem feita ao passado da DC na TV e no cinema, ficamos na dúvida se o objetivo era que as imagens fossem realistas ou se os realizadores estavam tentando fazer algo “diferente” com o visual.
Independentemente do objetivo, algumas das imagens acabam caindo no infame vale da estranheza (ou uncanny valley), seja pelo olhar sem vida de algumas das participações especiais ou seja pelos personagens parecerem bonecos de plástico em algumas cenas de ação.
Mesmo com essas imperfeições, a ação ainda funciona muito bem em The Flash. Além disso, o prato principal da produção não é a ação, mas sim a comédia e o drama na vida de Barry Allen. Diante de uma trama razoavelmente previsível para quem já conhece a história do personagem e para quem já viu Ponto de Ignição, são as fantásticas atuações de Ezra Miller como os dois Flashes que garantem que a coisa toda funcione e não seja apenas um amontoado de piadas, cenas de ação e referências.
Porém, o fato de que a atuação de Miller é o melhor elemento de The Flash também acaba pesando parcialmente contra o filme. As prisões por desordem, as acusações de abusos e a condenação por invasão de propriedade dificultam a vida de quem está tentando “separar o artista da obra”. Seus personagens no filme protagonizam ótimos momentos de comédia e cenas dramáticas que podem ser genuinamente emocionantes, mas seus problemas fora da tela sempre representam uma distração para quem acompanha o noticiário policial.
No geral, The Flash é antes de mais nada uma grande aventura do personagem título. O anticlimático final da batalha contra Zod é bem inesperado, mas permite que a trama retorne 100% de sua atenção para os dramas pessoais de Barry Allen. Também se esperava que o filme desse um grande reboot no DCEU, mas o que ele realmente faz é abrir infinitas possibilidades para os novos responsáveis pela franquia, James Gunn e Peter Safran.