Crítica: Justiça em Família

Sweet Girl, EUA, 2021



Apesar dos exageros e da previsibilidade, Justiça em Família é um bom filme de ação genérico

★★★☆☆


Como parte da longa linha de filmes de ação genéricos e esquecíveis, Justiça em Família não decepciona. Apesar de sua grande reviravolta não funcionar tão bem quanto o esperado, o caminho até ela é capaz de manter o espectador entretido com boas cenas de ação e uma boa dose de tensão. Além disso, o aspecto dramático e os temas tratados pela trama funcionam bem o suficiente para fazer o espectador realmente se importar (talvez, até se emocionar) com a situação vivida pelos protagonistas.

justiça em família 1A exagerada reviravolta que ocorre antes do início do ato final pode estragar o filme para muitos espectadores. Além de ser razoavelmente previsível, ela exige bastante boa vontade do público, que precisa usar a imaginação para realmente embarcar na explicação. Independente disso, a história em si é muito boa e poderia ter sido contada de uma forma mais direta, sem as muitas artimanhas que a direção utiliza para manter o grande segredo. São artifícios que deveriam ser inteligentes, mas que em várias situações são apenas embaraçosos.

O aspecto dramático funciona graças a uma história que está bem próxima da vida real. Em Justiça em Família, os protagonistas Ray (Jason Momoa) e Rachel (Isabela Merced) não estão em busca de vingança contra mafiosos ou traficantes mal-encarados, mas sim contra executivos da indústria farmacêutica que Ray responsabiliza pela morte de sua esposa Amanda (Adria Arjona). Práticas de manipulação de preços e esforços para evitar a produção de medicamentos genéricos são comuns nessa indústria, chegando a causar mortes.

O terceiro episódio da primeira temporada da série Na Rota do Dinheiro Sujo mostra as situações que provavelmente inspiraram a trama de Justiça em Família. São casos como o da farmacêutica Valeant e do gestor de fundos Martin Shkreli, que aumentaram vertiginosamente os preços de medicamentos que apenas eles produzem e dos quais muitas pessoas precisam. A “lógica” que eles utilizaram é de que se as pessoas precisam desses remédios para continuarem vivas, então elas vão dar um jeito de passar o resto da vida pagando pequenas fortunas todos os anos para as farmacêuticas.

justiça em família 2Como os EUA não possuem um SUS, isso significa que as pessoas passariam os restos de suas vidas se endividando e ainda correriam o risco de deixar as dívidas para os filhos ou outros herdeiros (há fornecedores que cobram o valor do espólio dos falecidos). Isso gera casos como o de pessoas que preferem se matar a continuar se endividando com custos médicos. Do outro lado, o executivo Martin Shkreli, que provavelmente serviu como inspiração para o personagem Simon Keeley (Justin Bartha), disse em 2015 que a única coisa que ele faria diferente seria aumentar ainda mais os preços dos medicamentos, já que seu trabalho é acima de tudo aumentar os lucros dos acionistas.

Diante dessa realidade, até que demorou para um filme de ação utilizá-la como motivação. E Justiça em Família utiliza essa premissa muito bem, mostrando o quão profundo e arrasador pode ser o trauma causado pelas decisões de negócio tomadas pelos executivos dessa indústria. O tema merece ser tratado com mais seriedade, mas, por enquanto, ver Jason Momoa e Isabela Merced partindo para a briga vai ter que servir.

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