Crítica: Beckett

Beckett, Brasil/Grécia/Itália/EUA, 2021



Beckett não é necessariamente ruim, mas pode ser desafiador para o público dos dias atuais

★★★☆☆


A fórmula utilizada por Beckett é a dos thrillers políticos dos anos 1970, como Três Dias do Condor e Maratona da Morte, marcada pelo desespero do protagonista e pelo clima geral de paranoia. O que o filme não possui são grandes momentos de tensão ou inacreditáveis cenas de ação, contando apenas com o drama vivido por Beckett (John David Washington) para realmente cativar o espectador. O resultado é uma experiência que até funciona, mas que é quase inteiramente desprovida de intensidade.

beckett 1O que pode surpreender aqui é o nível de pessimismo da história, que beira o deprimente. O acidente de carro no qual Beckett e sua namorada April (Alicia Vikander) se envolvem já é trágico o suficiente, mas além disso ele passa a ser perseguido pela polícia por ter visto alguma coisa que não deveria. A partir daí, a maior parte dos desenvolvimentos têm resultados trágicos, especialmente para as pessoas que o ajudam. Em cada situação, Beckett tem escapadas cada vez mais perigosas e vai ficando cada vez mais machucado, o que explica o fato de que no ato final o protagonista mal consegue andar e definitivamente não consegue correr.

A história tenta ser inteligente, mas consegue apenas ser básica e previsível. O envolvimento de ativistas de esquerda e de um grupo de extrema-direita poderia ser muito bem aproveitado, mas serve apenas como pano de fundo para a trama. O ato final faz algumas revelações confusas e apressadas que deixam a resolução ambígua. Não fica realmente claro qual era o papel de todos os envolvidos na conspiração criminosa, ou se sua motivação era mais financeira ou política, ou se misturava os dois elementos. É uma explicação que deixa muito mais perguntas do que respostas.

Se fosse um típico filme hollywoodiano, Beckett provavelmente dependeria de mais tiroteios, explosões e cenas de ação inacreditáveis, o que certamente o tornaria mais divertido de assistir e o aproximaria de produções como O Fugitivo e Inimigo do Estado. Porém, o diretor italiano Ferdinando Cito Filomarino está mais interessado em manter a trama ancorada no mundo real, o que também tem suas vantagens. A única intensidade presente aqui está no aspecto psicológico do protagonista, que passa por situações cada vez mais desgastantes tanto para seu corpo quanto para sua mente.

becket 2Um dos grandes destaques da produção é o uso da Grécia como ambientação. O diretor aproveita tanto as ruínas históricas quanto as belezas naturais da região para compor belas e imponentes imagens, o que faz lembrar o também mediano As Duas Faces de Janeiro. Além disso, a situação político-econômica do país completa a Grécia que Filomarino está tentando mostrar, com ativistas políticos e autoridades corruptas fazendo parte da “paisagem”.

O nível de tensão jamais sobe consideravelmente em Beckett, mas o filme serve como um lembrete de uma outra época do cinema de suspense, apesar de estar longe de ser tão inesquecível quanto os clássicos do gênero. Se tivesse sido lançado até meados dos anos 1980, a produção provavelmente teria fiéis admiradores até hoje. Porém, uma vez que o gosto do público atual é bem diferente, o filme provavelmente terá dificuldades para manter os espectadores acordados.

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