Crítica: Search Party – 4ª Temporada
Search Party – Season 4, EUA, 2021
HBO Max · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
A quarta temporada de Search Party oferece uma conclusão para a série ao mesmo tempo em que deixa aberta a possibilidade de uma quinta temporada. A grande questão é para onde a série irá se seguir em frente. Mesmo depois de ter passado por diversos gêneros ao longo das quatro primeiras temporadas, os criadores Sarah-Violet Bliss, Charles Rogers e Michael Showalter ainda possuem muitos estilos para cobrir. Mas seria uma boa ideia continuar essa “aventura” ou é melhor parar enquanto se está ganhando?
Em seu núcleo, Search Party é uma comédia dramática que satiriza o universo dos millenials com muita acidez e humor negro. Na primeira temporada, os jovens Dory Seif (Alia Shawkat), Drew Gardner (John Reynolds), Elliott Goss (John Early) e Portia Davenport (Meredith Hagner) começam a investigar por conta própria o desaparecimento de uma antiga colega da faculdade, Chantal Witherbottom (Clare McNulty), resultando em um mistério que começa a revelar as falhas em suas personalidades e que termina de forma chocante.
A segunda temporada, por sua vez, é muito mais um thriller psicológico com uma veia hitchcockiana, enquanto a terceira é um nada convencional drama de tribunal. Na quarta temporada, depois que Dory é sequestrada por um fã psicótico, o estilo volta a ser o thriller psicológico, mas dessa vez com uma pegada de terror no estilo de Louca Obsessão e O Silêncio dos Inocentes. Essa combinação de gêneros é uma das marcas registradas da produção, tornando-a única mesmo no saturado mercado televiso atual.

Para não ter que lidar com todas essas dúvidas e inseguranças, ela convence Drew, Elliott e Portia a formarem um “grupo de busca” (em inglês, search party) para encontrar Chantal. O que parece ser uma genuína preocupação altruística, na verdade se trata de um esforço subconsciente para se ter um propósito de vida e fazer algo que possa ser considerado especial. Ela não sabe o que vai fazer depois de encontrar a ex-colega, mas, até lá, ela não precisa se preocupar com os próprios fracassos pessoais e tem uma grande desculpa para negligenciar a própria vida. Seus amigos não são muito diferentes e embarcam com certa facilidade nesse combate a “moinhos de vento”.
Quatro temporadas depois, a imagem que o espectador tinha deles mudou significativamente. Além dos crimes no centro da trama, o grupo também mentiu, manipulou, traiu, chantageou e se portou de outras formas incrivelmente mesquinhas. Isso tudo enquanto mentem para si próprios e continuam acreditando serem boas pessoas que só estão tentando fazer a coisa certa. Nesse processo, eles vão se prendendo nas mentiras que contam para os outros e para si próprios, sempre evitando encarar a realidade de que o comportamento deles é tóxico e destrutivo.
Os millenials como apresentados em Search Party são adultos mimados que se recusam a aceitar a responsabilidade sobre os próprios atos e sobre as próprias vidas, sempre culpando fatores externos pelas escolhas que fizeram e pelos erros que cometeram. Eles parecem jamais ter superado o narcisismo infantil e precisam se sentir especiais e, de alguma forma, no centro das atenções, enquanto ignoram parcial ou completamente as necessidades das pessoas ao seu redor. Ao longo das temporadas e especialmente nessa quarta, isso é explorado das formas mais absurdas por meio dos arcos dramáticos/cômicos de Chantal, que é basicamente uma “criança” com quase trinta anos de idade.

Essa quarta temporada de Search Party traz a série em plena forma e em seu momento mais sombrio e perturbador. Enquanto Drew, Elliott e Portia seguem incapazes como sempre, Dory passa por um calvário enquanto aprisionada no porão de Chip (Cole Escola). O terror pelo o qual ela passa só não é mais difícil de assistir porque o espectador sabe que ela saiu relativamente impune depois de tudo o que fez nas últimas temporadas. Ainda assim, esse não é um arco de redenção e, dada a evolução de sua personalidade, é melhor que não seja. Os erros cometidos por ela e pelos amigos tiveram consequências irreversíveis para várias outras pessoas e não há como corrigi-los, e é por isso que eles seguem tentando fugir de suas próprias vidas.
Boa parte do impacto dessa temporada vem da assombrosa atuação de Alia Shawkat como Dory, que é capaz de partir o coração do espectador nos momentos de fragilidade e de causar intensos medo e desconforto nos de tensão. É um trabalho digno de aclamação e prêmios. Além disso, ela é uma das produtoras da série e dirigiu um dos episódios da nova temporada. Também se destacam Cole Escola e Clare McNulty, que elevam absurdamente a comicidade de seus personagens, ambos completamente desconectados da realidade.
Search Party também satiriza outros aspectos da vida moderna, como o mundo do entretenimento e do “jornalismo extremista” a la Fox News, além da obsessão das novas gerações com a Internet. Tudo isso é encaixado em roteiros divertidos e afiados que também possuem espaço para serem trágicos e assustadores. No geral, apesar de tratar de uma geração específica, a série aborda de forma ousada e inovadora todo o esforço que as pessoas fazem para não aceitarem a realidade e escaparem para as narrativas fictícias que criam em suas mentes.







