Crítica: Superman
Superman, EUA, 2025
Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
No geral, é possível dizer que existem dois tipos de filmes de super-heróis: os mais sérios e dramáticos, como Logan e Batman: O Cavaleiro das Trevas, e os mais despretensiosos e divertidos, como Mulher-Maravilha 1984 e As Marvels. Superman está inquestionavelmente nesse segundo grupo, se distanciando da versão mais séria e madura do personagem apresentada em 2013 em O Homem de Aço. Dessa forma, o novo filme deve agradar aos espectadores que estão prontos para ver um Superman/Clark Kent (David Corenswet) mais próximo de suas clássicas origens nos quadrinhos.
Apesar de ser bem diferente do estilo do recente filme Batman, a trama de Superman possui alguns pontos em comum com essa história do Homem-Morcego. Nos dois filmes, os protagonistas são obrigados a confrontar a natureza de suas identidades depois de descobrirem desagradáveis segredos sobre o próprio passado. Em suas jornadas, eles percebem que esse passado não os impede de fazerem suas próprias escolhas e de se tornarem fontes de luz e esperança durante tempos sombrios. A diferença é que Batman/Bruce Wayne (Robert Pattinson) só percebe isso nos momentos finais do filme, enquanto esse é o ethos do Superman.
Focado na ação e nas atribulações do protagonista, Superman não reserva muito espaço para o desenvolvimento dos demais personagens. Ainda assim, Lois Lane (Rachel Brosnahan) e o Sr. Incrível (Edi Gathegi) possuem papéis de peso na trama, além de contarem com importantes colaborações de Jimmy Olsen (Skyler Gisondo) e de outros dois membros da “Gangue da Justiça”, que é formada por Sr. Incrível, o Lanterna Verde Guy Gardner (Nathan Fillion) e a Mulher-Gavião (Isabela Merced). Há também a importante e divertida participação de Krypto, o supercão que ajuda mas que também dá trabalho para o Superman.
O grande vilão aqui é um assustador e obcecado Lex Luthor (Nicholas Hoult). Apesar de dizer publicamente que está apenas preocupado com a segurança do planeta Terra, sua verdadeira motivação está no fato de que ele vê o Superman como um concorrente ao título de homem mais poderoso do mundo. Ele não está apenas em busca de riqueza e poder, mas também de toda a atenção e admiração que é direcionada ao super-herói, já que o vilão se considera a pessoa mais genial da História da humanidade.
Todo esse egocentrismo e narcisismo o leva até as últimas consequências em suas tentativas de provar sua superioridade. Ele passa a desconsiderar quaisquer outras variáveis ou prioridades, chegando a ignorar os riscos existenciais provocados pelos seus planos. No fim das contas, se o mundo não é capaz de reconhecer a sua genialidade, ele não faz questão de garantir que o mundo continue existindo. Por mais que ele seja um vilão com trejeitos comicamente exagerados e caricatos, seu estado mental pode ser encontrado com relativa facilidade em pessoas da vida real.
A trama de Superman também aborda as implicações morais e geopolíticas das ações do super-herói. Em primeiro lugar, ele não ajuda a humanidade porque tem a obrigação ou porque se considera superior, mas sim porque ele está em uma posição na qual pode evitar muitas catástrofes e muitas mortes. Porém, quando ele impede que um país aliado aos EUA invada um país vizinho e ataque sua população civil, o governo dos Estados Unidos fica preocupado e começa a dar ouvidos às paranoias levantadas por Lex Luthor. Dessa forma, o Superman oferece uma ameaça por ser capaz de invalidar a superioridade militar dos EUA ou de qualquer país com ambições hegemônicas.
Inclusive, é possível dizer que o filme faz um contundente comentário sobre o nosso atual cenário geopolítico. Na trama, bilionários megalomaníacos e psicologicamente instáveis não são dignos de admiração; países que invadem outros territórios e atacam populações civis não estão apenas se defendendo; o fato de que o Superman é um imigrante ilegal não o torna um cidadão menos digno de respeito e de direitos civis; e, apesar de ter superpoderes e de ser praticamente indestrutível, o Superman não se considera membro de uma “raça” superior.
Não é que o filme tenha uma forte posição ideológica, mas ele tenta resgatar os valores centrais que sempre fizeram parte do personagem: honestidade, justiça, esperança, compaixão e altruísmo. O Superman também é associado ao American Way, uma doutrina defendida pelos EUA e que é baseada na crença em instituições democráticas e nos direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca pela felicidade. Se esses ideais estão precisando de resgate é porque o personagem (ou o país) estava se distanciando deles.
Apesar de tudo isso, Superman pode ser visto como mais uma intensa e divertida aventura do Homem de Aço. Com esse filme, a pretensão do roteirista e diretor James Gunn é contar uma envolvente história que leva em conta as raízes do personagem enquanto o traz para o mundo da terceira década do Século 21. É uma trama sobre o bem contra o mal, ou sobre o certo contra o errado. Infelizmente, ela precisa nos lembrar de que defender a vida e a dignidade humana é o certo; e de que defender o massacre e a perseguição de outras pessoas é o errado.
Vale apontar que esse também era o ponto central do clássico Superman: O Filme, de 1978, e de suas continuações.