Dicionário da Independência: Verbetes Históricos, Patrióticos e Educacionais


A obra de diminuir o papel dos brasileiros, de esquecer os combatentes, os soldados, os mortos, os feridos, o martírio de Joana Angélica, a esquadra e seus marinheiros, as misérias sofridas pelo povo, como na Bahia e no Maranhão, em seu esforço para tornar o Brasil independente e elevar D. Pedro I é um esforço impatriótico, que empobrece a nação, despojando-a de seu patrimônio cívico e espiritual.
Maria Graham, 1824

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Assim como a autora da passagem acima, o jornalista Eduardo Bueno tenta, em seu Dicionário da Independência: 200 Anos em 200 Verbetes, realçar a importância dos muitos envolvidos na Independência do Brasil. Por ter um formato de dicionário, o livro oferece um interessante e instigante quebra-cabeça daquele processo histórico, incluindo detalhes, personagens e eventos pouco conhecidos para quem só estudou o assunto na escola.

Por mais que o futuro Imperador D. Pedro I estivesse no centro dos acontecimentos, seu papel estava longe de ser o suficiente para garantir o sucesso da empreitada. Além de lembrar de articuladores políticos como José Bonifácio e D. Leopoldina, o livro chama atenção tanto para o círculo íntimo de amigos e amantes de D. Pedro quanto para os muitos combatentes da série de conflitos que ficaria conhecida como a Guerra de Independência do Brasil, especialmente heróis como a baiana Maria Quitéria e o mercenário inglês Lorde Cochrane.

O Dicionário da Independência também possui verbetes para a Batalha de Itaparica e a Batalha do Jenipapo, eventos de suma importância tanto para a independência quanto para a formação da identidade nacional, provendo narrativas de heroísmo e martírio durante o nascimento da jovem pátria. Mas o livro também lembra a parte menos nobre dessa história: encabeçada pelas elites ruralistas, a independência também serviu para garantir a manutenção da escravidão no país, ao contrário das tendências internacionais de abolição. Como Bueno costuma repetir, essa foi uma das situações nas quais o Brasil “mudou para ficar igual”.

O aspecto econômico também é realçado nos verbetes que falam das tratativas que se seguiram ao 7 de setembro de 1822 e que culminaram no reconhecimento da independência brasileira por Portugal e Inglaterra em agosto de 1825. O Tratado do Rio de Janeiro resolvia a disputa, mas também deixava uma “salgada” conta para o Brasil. O país já nascia endividado.

Além de falar sobre os hobbies do futuro imperador (que incluíam a carpintaria, a música e o andar e cuidar de cavalos), o livro inclui algumas outras surpresas (pelo menos, para mim), como a existência de uma língua geral brasileira falada na colônia e a contratação de mercenários (o Lorde Cochrane foi apenas um deles) para lutar na Guerra de Independência. Algo menos surpreendente é que desde aquela época o país já tinha problemas com corrupção, desvio de verbas e tráfico de influência, quase sempre praticados pelo círculo de amigos de D. Pedro I.

Belamente ilustrado pela escritora Paula Taitelbaum, o Dicionário da Independência serve como um guia temático e visual para o nascimento oficial do país. De leitura leve, rápida e descontraída, a obra é ideal tanto para adultos curiosos quanto para crianças e adolescentes que precisem de um incentivo extra para se aprofundar na História do Brasil. Ela os ajuda a traçar conexões entre os eventos atuais e os acontecimentos de dois séculos atrás, em um Brasil que ainda estava consolidando seu lugar no mundo e sua identidade nacional.

Atualização em 11/10/2020:

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