Crítica: Operação Fronteira
Triple Frontier, EUA, 2019
Filme explora a psique dos guerreiros modernos
★★★☆☆
Para começar, esse é um filme aguardado desde meados de 2009. Já se falava nele enquanto a diretora Kathryn Bigelow e o produtor Mark Boal ainda estavam coletando os prêmios por Guerra ao Terror. Algum tempo depois, foi noticiado que a produção seria adiada devido a questões de segurança na região da Tríplice Fronteira, onde seria filmado. Além disso, os governos da Argentina e do Paraguai não gostaram da ideia de um filme sobre corrupção, narcotráfico e terrorismo internacional sendo feito na região.
Até chegar nas mãos da Netflix, os realizadores tiveram que lidar com uma longa série de empecilhos, levando-os a adiar mais algumas vezes e assinar/negociar com diferentes atores, cujos contratos perdiam efeito depois de adiamentos que causavam conflitos de agenda. Passaram pela produção: Tom Hanks, Johnny Depp, Will Smith, Channing Tatum, Tom Hardy, Mahershala Ali, Casey Affleck e Mark Wahlberg.
Posteriormente, Bigelow preferiu focar em outros projetos e Boal ficou como roteirista. Os dois chegaram a trabalhar juntos em A Hora Mais Escura e Detroit em Rebelião, mas nada do filme que seria ambientado na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.

A produção foi filmada entre 22 de março e 15 de julho de 2018 em locações no Havaí, na Colômbia e na Califórnia, com Ben Affleck, Oscar Isaac, Charlie Hunnam, Garrett Hedlund e Pedro Pascal interpretando o quinteto principal.
O resultado é um bom filme de ação que explora de maneira interessante, mas não envolvente, seu tema principal. Ao deixar de lado os aspectos políticos da trama, o que sobra é a análise da natureza de seus protagonistas. Assim como Guerra ao Terror, Operação Fronteira está mais interessado na psique desses soldados do que na ação em si, o que subverte as expectativas que se tem desse tipo de filme. Essa não é uma história sobre a guerra, mas sim sobre os soldados.
Em sua primeira metade, a narrativa mostra o planejamento e a execução de um plano para roubar milhões de dólares de um recluso narcotraficante na selva amazônica. Pope (Oscar Isaac) recruta ex-colegas das forças especiais dos EUA para avaliar e executar a operação. Os relutantes veteranos aceitam o serviço graças às pressões econômicas sob as quais eles vivem e ao aceite dado pelo líder do grupo, Tom ‘Redfly’ Davis (Ben Affleck, em uma ótima atuação).

Ao longo da ação, os companheiros vão percebendo que Davis já não é o líder estável e controlado que eles conheciam. A depressão e a ansiedade causadas por sua inabilidade de se readaptar à vida civil o fazem tomar decisões e atitudes impulsivas que aumentam desnecessariamente os riscos para a equipe. Quando eles finalmente percebem isso, já é tarde demais.
Isso remete à temática central de Guerra ao Terror e à fala do capitão William ‘Ironhead’ Miller (Charlie Hunnam) nos primeiros minutos de Operação Fronteira: “Os efeitos de cometer violência extrema contra outros seres humanos são biológicos e fisiológicos. É o preço que se paga para ser um guerreiro.”
Esses são homens que foram treinados para serem soldados profissionais. Isso foi tudo o que eles fizeram desde muito cedo em suas vidas adultas. Para muitos, a força motriz que dá sentido a suas existências é a necessidade de se completar uma missão. Armados, focados e direcionados, eles se tornam as ferramentas perfeitas para se lidar com situações críticas e combatentes inimigos. Porém, uma vez que precisam lidar com a calma e repetitiva rotina de uma sociedade pacífica, eles ficam completamente deslocados.

Isso é válido até para forças policiais e homens em geral. Enquanto muitos veteranos de guerra passam os restos de suas vidas tentando sair do modo de combate e lutando para lidar com a violência que cometeram, parte da sociedade civil glamoriza e anseia por essa violência. Esse é um dos pontos abordados em Sicário: Dia do Soldado (crítica aqui), filme que possui muitos pontos em comum com Operação Fronteira e que realiza seus objetivos de forma mais satisfatória.
As pressões econômicas e sociais que levam os cinco veteranos de Operação Fronteira a executarem o ousado plano também existem na vida real. A diferença é que, ao invés de assaltos elaborados, as consequências reais são o recrutamento desses soldados para exércitos privados e a preocupante elevação no número de suicídios dentre essa categoria. Desde 2007, o suicídio entre veteranos alcançou níveis epidêmicos, o que continuou nos anos seguintes e se incorporou nas preocupantes estatísticas de suicídios em geral.
Esses elementos fazem com que Operação Fronteira seja memorável mais por seu conteúdo humano do que por suas cenas de ação. Ao tentar recuperar a simplicidade e a camaradagem da vida no serviço militar, as trágicas consequências das ações desses cinco personagens os fazem perceber que nada será como antes. Após apanharem da vida depois de saírem do exército, eles tentam bater de volta, apenas para descobrir que a vida sempre dá um jeito de bater ainda mais forte.







