Crítica: Guardiões da Galáxia Vol 2

Guardians of the Galaxy Vol. 2, EUA, 2017



Continuação consegue ser tão animada e energética quanto o original

★★★★☆


O grande forte de Guardiões da Galáxia Vol 2 está em seus personagens e nas relações entre eles. Peter Quill (Chris Pratt) tem que lidar não apenas com a surpresa reaparição de seu pai Ego (Kurt Russell), mas também com sua relação de “pai e filho” com Yondu (Michael Rooker), o mercenário que o sequestrou e com quem cresceu. Já Gamorra (Zoe Saldana) e Nebulosa (Karen Gillan), as irmãs adotivas criadas em eterna competição, vão até as raízes do intenso antagonismo que há entre elas.

Até a agressiva e impulsiva personalidade de Rocket Racoon (Bradley Cooper) é colocada sob o microscópio, revelando o lado mais vulnerável do esquentado guaxinim. Já Baby Groot (Vin Diesel) está ocupado demais sendo absurdamente adorável, enquanto Drax (Dave Bautista) começa uma estranha amizade com Mantis (Pom Klementieff), a fiel serva de Ego.

Guardiões da Galáxia Vol. 2 1

Porém, essa continuação vem acompanhada de alguns problemas ausentes no original, a começar pela falta de sofisticação narrativa e uma edição bem menos suave. A primeira parte do filme acabe se tornando uma pequena bagunça, sem um vilão ou uma direção clara sendo seguidos. Se, por um lado, isso faz o filme sair um pouco da batida fórmula de roteiro amplamente utilizada por Hollywood, por outro, torna a narrativa difícil de acompanhar, causando a impressão de que estamos vendo apenas os personagens fazendo umas coisas tão divertidas quanto aleatórias no espaço.

Eles se dividem em dois grupos. Enquanto Quill, Gamorra e Drax acompanham Ego e Mantis ao planeta de Ego, Rocket Racoon, Baby Groot e Nebulosa são capturados pela gangue dos Saqueadores, liderada por Yondu e contratada pela líder dos Soberanos, Ayesha (Elizabeth Debicki), para encontrar os Guardiões. Mas é com as reviravoltas que se seguem e a eventual reunião do grupo que os espectadores são agraciados com o festival de música, ação e referências pop que se poderia esperar da continuação de Guardiões da Galáxia. A reunião da equipe é um melhores momentos do filme, embalada por The Chain do Fleetwood Mac de forma quase tão épica quanto a que Sabotage dos Beastie Boys embala a principal cena de batalha de Star Trek – Sem Fronteiras (I have the beat and shouting).

Guardiões da Galáxia Vol. 2 2As referências aos anos 80 passam um pouco do limite quando emulam a cultura pop daquela época a ponto de alguns dos clichês perderem o tom nostálgico e serem incorporados apenas como clichês mesmo. Isso pode até aquecer os corações dos fãs inveterados daquela década, mas também pode ser um pouco irritante para os mais exigentes. Nesse sentido, o que mais incomoda são algumas falas exageradamente expositivas, como personagens que de repente começam a verbalizar seus sentimentos mais profundos e vilões que explicam detalhadamente seus planos. Ainda assim, os comentários sobre as formulaicas sitcoms norte-americanas ainda são bem divertidos, especialmente sobre o “lance não verbalizado” entre Quill e Gamorra.

Em suma, esse segundo capítulo é tão divertido quanto o primeiro. Porém, enquanto Guardiões da Galáxia teve a vantagem de pegar o público de surpresa com uma ópera espacial inegavelmente original, Guardiões da Galáxia Vol 2 apresenta apenas mais do mesmo (em relação ao primeiro filme), focando em expandir mais as personalidades dos personagens do que o universo no qual eles estão inseridos (ainda que vemos um pouco mais do mundo dos Saqueadores). Isso faz sentido se levarmos em conta a visão do diretor James Gunn, que concebeu esses filmes como uma trilogia com uma única história. Sendo assim, esse segundo capítulo funciona muito bem como intermediário, além de se sustentar razoavelmente bem como filme individual.

Comentários com spoilers

Enquanto parte do material de divulgação dá a entender que Ayesha seria a grande vilã de Guardiões da Galáxia Vol 2, é uma ótima surpresa descobrir que é o Ego de Kurt Russell que cumpre esse papel. Mais que isso, é uma grande surpresa ver que Gunn, também responsável pelo roteiro, conseguiu escrever de forma aceitável um personagem que é nada mais nada menos que… um planeta (!!!). O personagem também enriqueceu o arco dramático de Quill, que finalmente encontra seu verdadeiro pai apenas para descobrir que ele é uma entidade cósmica que pretende extinguir a vida do Universo. Intenso.

Uma surpresa negativa desse capítulo é que ele não avança em nada a grande trama do Universo Cinematográfico Marvel (MCU). Enquanto o primeiro filme explicou a origem das Joias do Infinito, esse se limita a mencionar o vilão Thanos (Josh Brolin) algumas vezes (cortesia de Nebulosa, que planeja uma vingança brutal contra seu pai adotivo). Nem as cenas pós-créditos (são 5, das quais vamos tratar a seguir) dão um gostinho do que está por vir em outros filmes do MCU, sendo focadas no humor ou em preparar o terreno para o terceiro Guardiões da Galáxia.

Na primeira delas, Kraglin (Sean Gunn, irmão do diretor) tenta controlar a flecha herdada do falecido Yondu (não é à toa que o nome dessa seção é “Comentários com spoilers”), apenas para acabar acidentalmente causando muita dor a Drax.

Já na segunda, vemos o líder Saqueador interpretado por Sylvester Stallone, Stakar Ogord, convocar os líderes apresentados durante o funeral de Yondu para “roubar umas coisas”. Durante o filme ficamos sabendo que os Saqueadores funcionam como um clube de motoqueiros, com “capítulos” individuais espalhados pelo Universo. Os personagens reunidos por Stakar não apenas existem nos quadrinhos como também são os Guardiões da Galáxia originais. Nos quadrinhos, Stakar, Yondu, Aleta Ogord (Michelle Yeoh), Charlie-27 (Ving Rhames), Kruggar (apenas CGI, por enquanto), Mainframe (voz de Miley Cyrus, por algum motivo) e Martinex (Michael Rosenbaum) fizeram parte da primeira encarnação da equipe. Muito provavelmente, eles vão aparecer no capítulo final da trilogia, e pode ser que a Marvel tenha ainda mais planos para eles.

Na cena seguinte, Ayesha prepara sua vingança contra os Guardiões. Depois de ser derrotada repetidas vezes ao longo do filme, ela prepara um ser perfeito para ser usado como arma, chamando-o apenas de Adam. Essa é a deixa para a introdução de Adam Warlock no MCU. Nos quadrinhos, ele é um herói cósmico que, em determinado ponto, passa a integrar os Guardiões da Galáxia. Resta saber o que será dele na versão cinematográfica. Esse terceiro capítulo promete.

As duas últimas cenas tem caráter apenas cômico. Na penúltima, Quill entra no quarto de um agora adolescente Groot, reclamando que o “garoto” quer saber apenas de jogar vídeo games e de ficar espalhando suas raízes pelo bagunçado quarto. “Agora eu entendo pelo que Yondu passava”, conclui o “papai” Quill.

A última cena apenas conclui a participação especial de Stan Lee. Durante o filme, ele aparece brevemente vestido de astronauta e conversando com um dos Vigias, seres cósmicos e super-poderosos que são capazes de viajar entre dimensões, mas que se limitam a observar os eventos que ocorrem no Universo. Já entendiados, eles abandonam Lee enquanto ele grita que não terminou e que ainda tem muitas histórias para contar.

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