Crítica: Star Trek – Sem Fronteiras

Star Trek: Beyond, EUA, 2016



Filme faz uma mistura perfeita entre ação alucinante e o material fonte da franquia

★★★★☆


No início de Star Trek – Sem Fronteiras, a USS Enterprise atraca na base estelar de Yorktown para reabastecer e reestabelecer contato com a civilização. No terceiro ano de sua missão (que, assim como na série original, é prevista para durar 5 anos e consiste em explorar os confins desconhecidos do universo), a tripulação está sentido os efeitos de passar todo esse tempo vagando sem rumo pelo espaço. O Capitão Kirk (Chris Pine) já questiona até se faz sentido explorar por cinco anos um universo que talvez seja infinito. Afinal, onde eles vão chegar com isso? São nesses momentos de reflexão que Sem Fronteiras faz jus tanto como adaptação como homenagem aos 50 anos da franquia.

Mas as coisas não ficam reflexivas por muito tempo. Quando a sobrevivente de um acidente em espaço não-mapeado pede ajuda à Federação, a Enterprise vai ao resgate e as coisas começam a dar muito errado muito rápido para Kirk e sua tripulação. Recepcionados pelo o que parece ser uma nave hostil, eles se surpreendem quando a estrutura se desfaz em milhares de outras naves, atacando a Enterprise como um incombatível enxame. Nas dramáticas cenas seguintes, a Enterprise é invadida e lentamente despedaçada pela frota adversária. Muitos dos tripulantes da espaçonave morrem no ataque, enquanto a grande maioria dos sobreviventes, incluindo Uhura (Zoe Saldana) e Sulu (John Cho), é capturada e levada pelo inimigo. Kirk e os outros ocupantes da ponte da espaçonave conseguem escapar instantes antes de o que restou da Enterprise cair em um planeta próximo, deixando-os separados uns dos outros e presos no local desconhecido.

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As cenas de ação da queda da Enterprise são intensas e emocionantes, mas a diversão fica ainda maior quando acompanhamos os tripulantes tentando sobreviver e encontrar uns aos outros no planeta inexplorado. Os momentos de humor e as cenas de ação não apenas são divertidíssimos, mas também fazem inúmeras referências à série original. Contrariando as expectativas, o roteiro co-escrito por Simon Pegg, que interpreta o engenheiro Scotty e é fã de longa data de cultura pop em geral (ver Spaced ou A Trilogia Cornetto), e a direção de Justin Lin, conhecido por dirigir 4 filmes da franquia Velozes e Furiosos, formam uma combinação explosiva, capaz de agradar tanto fãs de cinema de ação quanto os fãs da franquia Star Trek. Ao manter a trama simples e focar na sobrevivência e escapada dos heróis, Sem Fronteiras consegue ser muito mais divertido que os dois primeiros exemplares desse mais recente reboot, ainda que não necessariamente os superem. Enquanto Star Trek – 2009 – introduziu essa nova tripulação e Além da Escuridão: Star Trek a coloca contra o melhor e mais temido vilão da franquia, Sem Fronteiras é mais parecido com um típico episódio da série original, porém com as ameaças e a ação elevadas ao cubo, é claro.

As referências vão desde os uniformes da tripulação até a coloração estranha das rochas do planeta inexplorado, simulando o aspecto que elas teriam se tivessem sido feitas nos anos 60 para a série original. Outro aspecto típico de alguns episódios da primeira série, e que também está presente em Sem Fronteiras, é o personagem alienígena que se junta à tripulação da Enterprise, aqui representado por Jaylah (Sofia Boutella). Assim como Kirk e os outros, ela está presa nesse planeta por ter sua nave derrubada pelo vilão Krall (Idris Elba). Ela tem um trauma pessoal com o vilão e seu braço direito Manas, mas esse é um arco que acaba ficando previsível até demais mesmo nessa “louca aventura”. Esse arco é um ponto fraco e desnecessário, mas que, devido ao pouco tempo de tela que ocupa, não chega a prejudicar o ritmo do filme.

Por falar em ritmo, a forma como uma certa música de rap dos anos 90 é utilizada na mais crucial cena de batalha do filme é exagerada, cafona e acima de tudo DIVERTIDA. Sério mesmo, é mais legal do que o permitido. É como mastigar açúcar: é muito bom mas é muito doce mas você quer mais. É o tipo de cena que faz valer a pena assistir o filme de novo (e, certamente, o farei). Também é bem interessante ver o foco na relação amigável porém conflituosa entre Spock (Zachary Quinto) e o dr. MacCoy (Karl Urban), que são os principais companheiros de Kirk mas que possuem personalidades muito diferentes. Essa complicada relação é típica dos personagens e já havia sido explorada nos dois primeiros filmes, mas aqui é levada a outro nível quando os dois ficam presos juntos no novo planeta, completamente separados do resto da tripulação. É uma dinâmica bem divertida, que com certeza vai colocar um sorriso no rosto dos fãs de longa data.

Star Trek – Sem Fronteiras é uma homenagem digna aos 50 anos da franquia não apenas devido a todas as referências, mas também porque adapta o material original para o ritmo apressado e frenético do século XXI sem perder a essência da série de Gene Roddenberry. Em plena Guerra Fria, ele colocou na TV um programa sobre a humanidade superando as fronteiras entre nações em prol da paz e da expansão das fronteiras do universo conhecido, comentando sobre aspectos políticos e sociais que eram relevantes na época e continuam relevantes hoje. Ainda que mais sutilmente, Sem Fronteiras mantém essa visão viva para a geração atual e, talvez, para as futuras.

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