Crítica: Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis
Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings, EUA, 2021
A história de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis pode não ser surpreendente, mas a ação e a comédia são surpreendentemente divertidas
★★★★☆
A básica e relativamente previsível história de origem de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é significativamente elevada por fantásticas cenas de ação, visuais impressionantes e um envolvente drama familiar, além de algum dos melhores momentos de comédia do MCU. É como se Kevin Feige tivesse aperfeiçoado a fórmula dos filmes de origem e aplicado aqui tudo o que ele e seus colegas aprenderam nos últimos treze anos. O resultado pode não se destacar pela originalidade, mas é MUITO divertido.

Essa complexidade é muito bem representada na trama, mostrando que, apesar da animosidade entre pai e filho, um conflito direto não é tão fácil de acontecer. Os dois lados se tratam de forma educada e respeitosa, com a agressividade ficando sob a superfície durante a maior parte do tempo. Para Shang-Chi, a decisão de ir contra o próprio pai não é fácil, o que explica o fato de que ele preferiu se isolar da família do que lidar de forma direta com a situação. Porém, quando o passado bate à porta, ele precisa enfrentar tudo o que ele vinha tentando deixar para trás.
Enquanto esse aspecto dá alguma profundidade dramática à trama, os ótimos momentos de comédia servem não apenas para aliviar a tensão mas também para ajudar o público a processar a mitologia que está sendo apresentada. A Katy de Awkwafina olha para as situações com os mesmos olhos do espectador, apontando para o quão exagerado e insólito aquilo tudo é. O talento da atriz é inegável e ela faz toda a diferença aqui, a ponto de ser possível afirmar que o filme seria completamente diferente sem a sua presença. Outro destaque nos momentos de comédia é a volta de um pequeno (e polêmico) personagem do passado da franquia, sendo bem mais importante do que se poderia esperar.

Já as lutas da batalha final se destacam muito mais pelo uso de efeitos especiais e por visuais tão belos quanto assombrosos. As sequências de ação com os Dez Anéis parecem saídas diretamente de um anime, explorando as muitas possibilidades de seu uso como armas mágicas e como fontes de poder. Combinados com dragões e outras criaturas da mitologia chinesa (como a huli jing e o shishi), eles fazem de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis um dos filmes mais visualmente estimulantes da franquia. Há espaço inclusive para momentos mais poéticos e românticos, que lembram filmes chineses como O Tigre e o Dragão e Herói (2002), misturando a beleza das artes marciais com fantásticos efeitos especiais.
Como história de origem, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis incorpora muito do que deu certo em Pantera Negra (crítica aqui) enquanto evita a maioria dos problemas de Capitã Marvel (crítica aqui). Mesmo o limitado carisma de Sami Liu como protagonista não atrapalha a diversão, já que ele é capaz de dar o peso necessário às cenas dramáticas e está cercado por colegas com carisma de sobra, como Awkwafina e Tony Leung. O ator também é ajudado por um roteiro razoavelmente bem aparado e por uma direção que sabe o que precisa fazer e se mantém focada no mais importante.







