Crítica: Munique – No Limite da Guerra

Munich: The Edge of War, Reino Unido, 2022



Netflix · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★☆☆


O esforço que Munique: No Limite da Guerra faz para injetar tensão e adrenalina em uma história sobre diplomacia e burocracia é louvável, mas o resultado teria sido equivalente se a abordagem fosse mais direta e realista, nos moldes do filme Oslo. Se os momentos de suspense tornam a trama mais palatável, eles também a tornam mais insólita e vêm acompanhados de vários clichês. Como filme de espionagem, a produção também não impressiona, especialmente porque os “espiões” em questão são bem amadores e a “oposição”, na forma do militar nazista Franz Sauer (August Diehl), é bem caricata.

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Essas limitações são contrabalançadas pelos dois ótimos protagonistas. Por meio do inglês Hugh Legat (George MacKay) e do alemão Paul von Hartman (Jannis Niewöhner), o filme é capaz de mostrar a pressão que os diplomatas da época sofriam e quais eram os pontos de vista dos profissionais sérios diante da beligerância e do extremismo do governo de Adolf Hitler (Ulrich Matthes). Além disso, o roteiro permite que Jeremy Irons brilhe como o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, servindo como uma aula sobre estratégia e pragmatismo diplomáticos.

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Mas o arco dramático mais interessante de Munique: No Limite da Guerra é o de Hartman. Em 1932, ele é um patriótico eleitor de Adolf Hitler, que era então candidato a chanceler da Alemanha. Para Hartman e para muitos outros alemães, Hitler representava uma esperança de mudança e de recuperação do país, que ainda sofria os devastadores efeitos do Tratado de Versalhes. Ele era o tipo de apoiador que preferia ignorar ou minimizar os posicionamentos extremistas do candidato, focando em suas palavras mais inspiradoras e partindo do pressuposto de que o líder ficaria mais “racional” depois que chegasse ao poder.

Seis anos depois, o próprio Hartman está fazendo o possível e o impossível para evitar que o chanceler comece uma terrível guerra de conquista. Ele só mudou de opinião depois que a violência causada pela retórica agressiva e pelo antissemitismo de Hitler começou a se concretizar e atingiu pessoas próximas. Talvez a produção seria muito superior se tivesse focado nessa transição, o que a aproximaria de filmes como Um Homem Bom e O Conformista.

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Mas Munique: No Limite da Guerra está muito mais interessado nas idas e vindas por trás do Acordo de Munique, um tratado de 1938 que se tornou infame depois que Hitler simplesmente o ignorou no ano seguinte, iniciando a Segunda Guerra Mundial. A cessão de territórios da antiga Checoslováquia para a Alemanha evitou o início de uma guerra em 1938, levando Chamberlain a afirmar que o documento traria paz para nosso tempo. Sob o ponto de vista da garantia de paz, o acordo foi um fracasso. Porém, o filme defende a tese de que ele foi vital para que o Reino Unido ganhasse tempo e se preparasse para uma inevitável agressão alemã contra seus aliados.

Apesar de suas limitações, Munique: No Limite da Guerra é uma ficção histórica bem-sucedida em mostrar a importância dos especialistas que atuam nos bastidores do poder e se esforçam para defender os interesses públicos. Diante de um terrível momento de incerteza, eles agiram com base nos dados que possuíam e fizeram tudo o que podiam fazer naquele momento. Mesmo que o resultado possa ser considerado um fracasso, foi um fracasso que serviria e ainda serve como lição para as gerações futuras.

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