Crítica: Ladrões (2025)

Caught Stealing, EUA, 2025



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


É estranho assistir a um filme do diretor Darren Aronofsky que não seja um completo pesadelo emocional ou mesmo existencial, mas aqui estamos com esse Ladrões. Ao invés das tragédias de produções como Réquiem para um Sonho e A Baleia ou da abordagem experimental de exemplares como Fonte da Vida e Mãe!, esse novo filme é um suspense policial simples e direto. Algumas tragédias estão presentes, mas a narrativa é marcada por um clima nostálgico, por um ritmo acelerado e até mesmo por momentos altamente sensuais.

O que o diretor faz aqui é basicamente um thriller de ação dos anos 1990, utilizando a cidade de Nova York do ano de 1998 como um dos principais personagens da trama. Apesar de um escopo mais reduzido, a produção chega a lembrar exemplares da época como O Fugitivo, Vidas em Jogo, Inimigo do Estado e O Suspeito da Rua Arlington. Mas também há elementos que podem levar o espectador para inúmeras outras tramas, como os personagens excêntricos de Snatch: Porcos e Diamantes ou a correria de Celular: Um Grito de Socorro.

Para citar referências mais recentes, pode-se dizer que Ladrões é uma versão mais divertida do thriller Beckett ou uma versão mais cruel e estilosa da comédia de ação O Dublê. Há também óbvias similaridades com comédias como Depois de Horas, O Grande Lebowski e Dois Caras Legais, apesar do filme não ser necessariamente uma comédia. Aqui, os momentos e personagens mais engraçados são contrabalançados com as pesadas e dramáticas perdas que o protagonista vai sofrendo.

O que essa produção evidencia é que, caso queira, Aronofsky pode seguir o mesmo caminho do diretor Steven Soderbergh, que vem se dedicando a filmes menores e menos ambiciosos há pelo menos uns quinze anos. Mais que isso, Soderbergh utiliza esses enxutos thrillers para imprimir seu próprio estilo em gêneros bem populares. Como exemplos, há suspenses paranoicos como Nem um Passo em Falso e Kimi: Alguém está Escutando, além de filmes de espionagem como A Toda Prova e o recente Código Preto.

Aronofsky já segue o exemplo de Soderbergh ao contar com grande nomes no elenco do seu pequeno filme policial. Além do destaque para Austin Butler, Zoë Kravitz e Matt Smith, a trama ainda conta com nomes como Regina King, Liev Schreiber, Vincent D’Onofrio e do cantor Bad Bunny (creditado como Benito Martínez Ocasio), além de participações especiais de Tenoch Huerta e Laura Dern. Já a presença do ator Griffin Dunne torna a referência a Depois de Horas ainda mais óbvia e direta.

Depois de nos apresentar à picante relação entre o bartender Hank (Austin Butler) e a paramédica Yvonne (Zoë Kravitz), a trama principal de Ladrões começa com o protagonista sendo vítima de um violento ataque e perdendo um rim. A partir daí, Hank vai sofrendo perdas cada vez maiores ao ser envolvido com perigosas figuras do submundo do crime. O culpado, aparentemente, é seu vizinho Russ (Matt Smith), um punk britânico que precisa fazer uma viagem de última hora para Londres e deixa seu gato aos cuidados de Hank.

Ao longo da ação, Hank precisa lidar com fantasmas de seu passado para proteger as pessoas que ele ama e para se manter vivo. Sua vida foi marcada por um acidente de trânsito que lhe tirou a chance de se tornar uma estrela do beisebol em nível nacional. Depois disso, ele parece ter desistido de fazer coisas grandes e ousadas, se prendendo àquele momento do passado e às possibilidades de futuro que um dia ele teve. É como se ele estivesse em um eterno luto por aquele momento e pela vida que ele não viveu.

É curioso que um filme que se dedica seriamente a criar um clima nostálgico tenha como parte de sua temática a superação do passado. A Nova York e os dispositivos recriados aqui servem como um túnel do tempo para quem viveu aquela época, nos lembrando de tempos mais simples, nos quais as tecnologias de entretenimento e comunicação eram bem menos pervasivas em nossas vidas. Talvez a trama queira nos dizer que lembrar e sentir saudades é importante, mas seguir em frente é mais importante ainda.

Com a ajuda de uma fantástica trilha sonora, Ladrões é um intenso e divertido thriller policial nos moldes dos suspenses de ação dos anos 1990. Consequentemente, o filme não preza pela originalidade, mas sim por um ótimo clima de nostalgia e pela dramática jornada do protagonista. Quem não estiver interessado nesse “remix” de inúmeros outros filmes policiais certamente não vai se impressionar com a produção. Pelo menos, Aronofsky injeta nele uma pequena porcentagem da intensidade de seu Cisne Negro.